2 de fevereiro de 2009

Esquerda Bauruense: Luta ou Bagunça?


Concordo plenamente, em gênero, número e grau, com o que disse o Sr. Gilberto Magalhães, a respeito do texto “Utopia Pura”, publicado na Tribuna do Leitor do Jornal da Cidade em 04/04/2010, permitam-me fazer as seguintes colocações como uma simples contribuição a tão nobre debate que, diga-se de passagem, já virou um tremendo fuzuê, pelo que eu tenho acompanhado: nos últimos anos, um novo movimento na América Latina tem chamado a atenção de todo o mundo. As políticas neoliberais dos países ricos têm sofrido respostas duras por parte dos movimentos de esquerda latino-americanos. Vários processos progressistas tomaram conta do cenário na região latino-americana.

O Bolivarianismo na Venezuela de Hugo Chávez é o principal destaque. Contudo, temos a Argentina, o Uruguai, o Brasil e agora a Bolívia e o Chile levantando a bandeira progressista. É uma nova experiência que o nosso continente vem sofrendo. Mas a esquerda, principalmente a bauruense, precisa ficar atenta aos acontecimentos da nossa história atual. Na cidade de Bauru não há qualquer projeto alternativo ao modelo neoliberal, ainda que tenhamos um governo dito progressista, é fato que um retrocesso tomou conta do cenário político local.

Sem uma política que busque uma maior integração com as demais  cidades da região, e por que não dizer, do estado de São Paulo, no sentido de formação de um poderoso bloco, traçando melhorias para o povo desfavorecido e rompendo com as políticas desiguais de submissão dos países subdesenvolvidos aos países desenvolvidos, os partidos e os movimentos de esquerda perderão a oportunidade que se monta, neste momento, em toda a nossa cidade, de alavancar e continuar o processo de libertação da nossa sociedade que se inicia com o surgimento de vários governos progressistas nessa região.

A esquerda bauruense ainda não tem acompanhado esse processo, está ainda muito atrasada, como sempre, mais preocupada em botar abaixo a gestão Rodrigo Agostinho, bem como em divulgar seus interesses partidários. Nossas instituições municipais estão cada vez mais detonadas, pra não dizer arrasadas, a iniciativa privada toma conta de praticamente todos os setores, inclusive setores como educação, saúde, meio ambiente e moradia, fora outros que não é preciso citar, em nossa cidade, estão cada vez mais precários (leia-se uma porcaria), forçando o trabalhador a utilizar os serviços prestados por essas empresas privadas, tática da política neoliberal dos banqueiros e grandes corporações. Enquanto o povo sofre com a invasão da política neoliberal, a esquerda bauruense não parece preocupada em montar um projeto que liberte as camadas menos favorecidas.

É nesse panorama em que se encontra Bauru. Os órgãos mobilizadores da esquerda  local necessitam acompanhar o processo que está sendo realizado no interior paulista e organizar a sociedade local na luta pelos seus direitos, por melhores condições de vida. Mas para isso é necessária a discussão por um projeto de esquerda que inclua todas (vejam bem, nós estamos falando TODAS!) as tendências desse movimento. E aí encontraremos algumas barreiras, dentre elas, as mais comuns e visíveis que podemos ressaltar sucintamente neste momento e que devemos superar são o oportunismo partidário, pois com as novas transformações na ordem mundial, os movimentos de esquerda no interior de SP parecem ter fechado o bico com a onda de governos de esquerda assumindo o poder, acreditando-se assim que as transformações agora viriam. No entanto, o processo foi bem diferente (o feitiço virou contra o feiticeiro).

Tais governos que "arrotavam" (e até hoje continuam "arrotando") ser progressistas durante as eleições, na verdade retrocederam e aplicaram uma política muito parecida com os governos anteriores de direita. Sem a pressão dos movimentos sociais, seus governantes decidiram aplicar suas ações voltadas para as políticas econômicas que regiam a ordem social no momento; o neoliberalismo. A esquerda paulista perdeu força para o oportunismo dos partidos que estavam ligados aos movimentos sociais, sendo assim, os mesmos retiravam a força da luta por algumas promessas, afinal, a esquerda agora está no poder. Mas essa experiência serviu para mostrar o quanto os movimentos sociais são importantes na luta pelos direitos, mesmo com um governo progressista, impedindo assim o retrocesso desses governos. Contudo, parece que na nossa cidade a esquerda ainda não amadureceu.

O PMDB, partido do prefeito Rodrigo Agostinho, está ligado a uma pequena parcela dos diversos movimentos sociais presentes em Bauru, o que permitiu que as pressões diminuíssem. Com exceção do movimento estudantil que, apesar do apoio ao governo, continuou intensificando a sua luta pelo passe livre, entre outras. Mas, com os demais setores de esquerda fragilizados pela esperança de mudanças pelo novo governo, permitiu-se um retrocesso à política do prefeito anterior, Tuga Angerami.

Contudo, parece que em Bauru alguns setores da esquerda ainda não amadureceram, pois os demais partidos e movimentos de esquerda da ala mais radical impuseram o seu descontentamento com o governo municipal, porém, em vez de mobilizar a sociedade em busca dos seus direitos, tais partidos aplicaram ações semelhantes aos grupos de direita, inclusive participando de projetos que a própria direita criou. Ou seja, a esquerda bauruense está completamente por fora dos acontecimentos em nossa cidade (o que todo mundo já sabe!). Não houve nem a formação de um bloco para discutir alternativas ao modelo presente em nossa sociedade, uma frente popular para forçar o governo a voltar com as políticas progressistas ou formar um substituto nas próximas eleições.

O que ocorreu foi o personalismo de alguns partidos políticos, ou pra ser mais direto, um interesse desenfreado dessa meia dúzia de "mortos de fome" em obter cargos comissionados na administração municipal, colocando secretários inertes (nem todos o são, vejam bem), que praticamente se entocam dentro de seus gabinetes e repartições (saiam para fora, pois fiquem sabendo que o povo não fede nem morde!), e partir para um individualismo que somente tende a isolar os movimentos de esquerda em Bauru do restante do Brasil no que diz respeito à luta social. Assim, abre-se um espaço para os grupos oportunistas que, com um discurso popular, eliminam qualquer chance da esquerda se sair vitoriosa em nossa cidade, sendo adiado mais uma vez o sonho de transformar Bauru.

O sectarismo é o pior dos problemas, pois muitos partidos e grupos de esquerda de nossa cidade ainda caem no erro de se isolarem, de preferirem o retrocesso a se juntar com outras correntes de esquerda, não abrindo mão da sua forma de pensar, acreditando que seja a única forma de se atingir uma sociedade mais justa. Não foram capazes de amadurecer e olhar para o século XXI e enxergar as importantes mudanças na história da esquerda. Muitos agrupamentos locais permanecem com os seus olhares voltados para a revolução bolchevique de 1917 (leia-se fazendo beicinho uns para os outros).

Nossos partidos e movimentos encontram-se tão afastados do povo que o populismo de alguns direitistas poderá adiantar o retrocesso da nossa cidade. A esquerda bauruense está longe da realidade do seu povo. O capitalismo, na cidade de Bauru, neste 2010 (depois que o bicho pegar pro lado de vocês, não fiquem chorando as pitangas!), se apresenta com nova roupagem, com novos truques e estratégias para continuar explorando.

Devido à imaturidade de algumas das mais variadas correntes esquerdistas locais é que Bauru ainda não seguiu o ritmo dos demais países como Venezuela e Bolívia. Enquanto famílias humildes morrem nos hospitais, enquanto camponeses morrem na luta pela reforma agrária, e aparecem surtos de epidemias como a dengue, intelectuais discutem os detalhes de como deve ser o novo governo socialista. Já pensam nas estruturas da Bauru socialista sem pensar antes no povo que está morrendo neste momento.

O que acaba ficando em jogo são os interesses particulares, os partidos que não deixam de lado a sua visão particular para abraçar a causa do povo. Esquecem que o povo é plural. Enquanto isso eles se dividem cada vez mais em grupos menores, isolados da nossa sociedade, mas se reivindicando como representantes do povo oprimido. Apenas representam o que há de ignorância na nossa cidade.

Um projeto de esquerda exige a discussão de medidas imediatas contra a política de exploração. Por mais revolucionária que uma corrente de esquerda seja, ela deve priorizar pelo o que se pode fazer no momento. E o que se pode fazer é o que vem ocorrendo na região e em todo o interior, a ascensão de governos progressistas com o apoio dos movimentos sociais. Muitas correntes radicais deixam de apoiar afirmando que o reformismo leva à continuação do projeto capitalista. Mas, apoiar um governo que diz acreditar nas mudanças pela via democrática não significa trair a revolução. Significa apoiar mudanças, ainda que graduais, mas necessárias para o povo. A falta de apoio dos movimentos sociais levou a Europa ao retrocesso, levou Salvador Allende ao golpe de Pinochet.

Será que as correntes mais radicais de esquerda de nossa cidade preferem o retrocesso à apoiar um governo moderado? Temos o MST, como o maior exemplo de movimento social, que não encerra a sua pressão pela reforma agrária, independente se é um governo de direita ou de esquerda.

As reformas precisam ser feitas, esse é o objetivo do movimento e continuará sendo mesmo que algum governo venha prometer tal reivindicação. O sectarismo não serve para mobilizar, mas para desmobilizar e afastar o povo bauruense da luta social. Isso somente favorece que o governo venha a retroceder, pois, a luta fica abandonada ou fica sem causa, sem objetivo claro.  Se não houver força nos movimentos sociais bauruenses (cadê a galera que vai pra rua na hora que o bicho pega?), não haverá avanço na construção de uma sociedade mais justa.

Fica então essa reflexão para a esquerda bauruense para que dê corretamente os próximos passos, que deixe de lado os interesses particulares, bem como rixas e afins e forme de uma vez por todas uma ampla frente progressista colocando Bauru como participante desse momento histórico em que vive a América Latina. Que todas as cidades na nossa região liderem uma revolução no interior paulista contra o neoliberalismo.

As propostas para o bloco estão sendo oferecidas. Basta agora o amadurecimento da nossa esquerda, deixando de agir como crianças birrentas, para seguir esse rumo e criar alternativas, Eles sempre bateram no peito que as mudanças somente partem do próprio povo. Então, por causa da porcaria do seu sectarismo, esquecem que, seja num governo dito reformista ou num governo dito revolucionário, as mudanças somente serão realizadas através da luta do próprio povo que nunca deverá cansar de fazer pressão por melhores condições de vida. A ascensão de um governo progressista radical ou moderador na prefeitura não pode ser um agente redutor da luta social.

É importante que os movimentos continuem mantendo a sua pluralidade, pois ela permite a diversidade de pensamentos e impede que um governo com ideologia próxima se confunda com os próprios movimentos guiando-os para o seu interesse. Quando isso ocorre, as pressões sobre o governo diminuem, o que permite a entrada dos interesses particulares nas ações políticas, porque depois não adianta ficar bufando e fazendo uma baita gritaria nesse espaço que deveria ser mais usado para propor coisas sérias para a nossa cidade avançar! E vamos à luta, que falta muito chão pro Socialismo acontecer, e ele vai ser feito pelo povo!