Dicionário de Bezerra da Silva de Malandrez (Malandrês)
Dedo de anzol – delator ou alcagüete
Língua nervosa - delator ou alcagüete
Língua de tamanduá - delator ou alcagüete
Dedo duro - delator ou alcagüete
Dedo de seta - delator ou alcagüete
Dedo de cimento armado - delator ou alcagüete
Língua maldita - delator ou alcagüete
Língua de sabão - delator ou alcagüete
Levar eco – levar tiro
Ripar – surrar
Um sete um – falsário
Um cinco um –gato, ladrão
Gato mestre – gato, ladrão
Quatorze – gato, ladrão
Cento e cinqüenta e sete (artigo157 do Código Penal) – assalto à mão armada
Grampeado – preso
Cabrito importado – muamba
Sair no pinote – fugir
Corcovear – se esquivar
Ficar miudinho – se preparar para a briga
Cachanga – barraco, casa
Cerva – cerveja
Ciscante - galeto assado
Corujão – curioso, alcagüete
Boca isolada – lugar
Pintou sujeira – tem delator na área
Dois oito um (artigo 281 do Código Penal) tráfico de drogas
Artigo doze – tráfico de drogas
Dezesseis (artigo 16 do Código Penal) vício de drogas
Muvuca – muita gente
Cana dura – polícia
Tira – polícia
Homens – polícia
Kojak – polícia
Matraca – metralhadora
Dividida – troca de tiro com os “ homens” (polícia)
Malandro rife – boa gente, gente fina
Fraga – flagrante
Fragoroso – flagrante
Antena – chifre na cabeça dos outros
Bater pra alguém – avisar
Mestre tubara – ladrão de gravata
Tubarão – ladrão de gravata
Esperto demais – otário
Malandro demais – otário
Gavião – paquerador
Ricardão – paquerador
Uns e outros – a pessoa de quem se fala
Vinte e um – marido traído
Touro – marido traído
Cara de boi – marido traído
Lubiza – capeta
Dois é de caifaz – capeta
Coisa ruim – capeta
Forma de fazer capeta – capeta
Espírito mau – capeta
Forma de fazer lubisomem – capeta
Forma de fazer pomba gira – capeta
O Dicionário tem a assinatura de Jorge Garcia, um dos autores de “os Direitos do Otário”, com 1000tinho e foi distribuído junto com o LP, “Alô malandragem, Maloca o Flagrante”, na folha que contém as letras das músicas.
Joaquim Ferreira dos Santos, então responsável pela seção Música, da Revista Veja, na edição de 27.07.1983 (há 20 anos) sob um correto “Diário do Morro” e um subtítulo, pouco correto, o “cantor dos bandidos” Bezerra da Silva, saudou o 11º LP de Bezerra da Silva, Produto do Morro, como uma “impagável seleção de sambas-crônicas sobre a filosofia, personagens e costumes desse que conhece como poucos”. Dizia que “desde Moreira da Silva nâo surgia um sambista que soubesse retratar com tanto humor e malícia vida nos morros e subúrbios cariocas”.
Bezerra da Silva, então com 47 anos, (hoje tem 67) “tem a vantagem de uma grande vivência com os malandros da cidade”. “Preso várias vezes por vadiagem, Bezerra visitou quase todas as delegacias da Zona Sul (do Rio) e reconhece no escuro o perigoso caminho que leva às mais escondidas biroscas dos morros”.
Tarik de Souza, no Jornal do Brasil, de 23.04.1986, escreveu um belo texto comparado sobre Moreira da Silva e Bezerra da Silva, sob o titulo: “Conversa de bambas, o confronto dos malandros”, apontando Moreira e Bezerra como “dois autênticos representantes da malandragem carioca”. O pretexto foi o lançamento do LP de Bezerra, “AlÔ Malandragem, Maloca o flagrante”, com o que rotula de “condimentados sambandidos”.
As conclusões sobre “uns e outros”
“Moreira pega leve, como os de sua geração. Vigora o paco, célebre conto do vigário, o sonho com o milhar do bicho, o amigo urso que pede emprestado e não devolve. No máximo esvai-se em sangue, em slow motion humorístico, o vagulino de Na Subida do Morro, aquele que “bateu numa mulher que não era sua” e acabou esfaqueado anatomicamente – “Duodeno, vesícula biliar, faço-lhe uma tubagem” – Protesto no máximo contra a inadimplência dos devedores do BNH (Inadimplente).
Bezerra pega pesado. Tiros, sierenes de polícia, profissão de cadáveres e muita picardia saem de seu disco. Os dedos-duros, línguas de tamanduá, são impiedosamente vergastados, assim como os otários e corujões (curioso alcagüete).”
“Da era do malandro alinhado, chapéu de panamá, camisa de malha de seda, que no máximo prometia deixar o rival “todo cortado’, a artilharia pesada da mais brava, do tempo do malandro rife, não apenas as armas e as gírias, mas também os costumes mudaram. O que se segue, mais do que um glosssário comparativo, seria um hipotético diálogo de gerações, situações e cacoetes da marginalidade carioca. Com a palavra, dois de seus mais ilustres intérpretes”:
Comparação entre a gíria de Moreira da Silva e Bezerra da Silva
Moreira Bezerra
Pequena (mulher) criança
Encanado (preso) grampeado
Dar um castigo (surrar) ripar
Peixeira (faca) matraca (metralhadora)
Justa (polícia) cana dura, tira, kojak
Delerusca (delegado) homem da lei
Vagulino (vagabundo) crocodilo, corujão
Aço no abdômem levar um eco (tiro)
Mato sem cachorro (flagrante) pintou sujeira
zé mane (otário) marcou bobeira
presunto (defunto) comida de piranha
rango (refeição) ciscante (galeto assado)
boteco (botequim) boca isolada (lugar)
desguiar na carreira (fugir correndo) Dar o pinote,corcoviar, saltar de banda, sair batido
pendura (sair sem pagar) Um sete um (falsário)
muamba (produto ilegal) Cabrito importado
entregador (delator) língua nervosa
Paulo Pestana, então no “Correio Braziliense”, publicou em 12;05.1986, sob o título de “Bezerra da Silva abre temporada do samba com malandragem”em que transcreve o glossário de “malandrês, que estava inserido no LP , “Alô malandragem, Maloca o Flagrante”.
Aproveitando o lançamento do mesmo LP, “Alô malandragem, Maloca o Flagrante”, Marcelo Beraba e Fernando Paulino Neto, na Folha de São Paulo, de 08.06.1986, publicaram uma entrevista com Moreira da Silva e Bezerra da Silva. “São dois malandros que se curtem mas fazem questão de mostrar que suas obras são muito diferentes: Moreira inventou o breque e o seu malandro é um personagem muito bem vestido de terno branco que nunca banca o otário; o samba de Bezerra é recolhido nos morros do Rio e da Baixada Fluminense e são chamados por ele de reportagens do cotidiano”.
19 comentários:
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