O malandro chega de mansinho. Passos curtos, silenciosos, pés descalços. Entra meio como quem não quer nada, como se só estivesse ali de passagem. Ninguém dá muita atenção para sua presença. Ele fica ali, parado, com um simbólico sorriso no rosto, esperando. E daí você nota a presença dele. Percebe o sorriso maroto e o semblante divertido. Depois de uns dias nota que está procurando aquele sorriso na multidão. E toda vez que o encontra, seu coração acelera. Suas mãos tremem e você se sente aliviada e nervosa, feliz e ansiosa. Apreensiva.
Devagar ele dá um sorriso de canto de boca. Os olhos misteriosos e profundos instigam você a se aproximar. E lá vai você. Desarmada, com o coração a mil. Pensando o que aquele sorriso infantil e sonhador esconde do mundo. As palavras proferidas a fazem rir. Palavras pensadas com esmero para que você tenha um tempo agradável ao lado do malandro. Ele sabe como fazer isso. Ele sabe o que dizer.
Vocês voltam a se encontrar. Gostam das mesmas bandas, dos mesmos bares, dos mesmos restaurantes. Leram os mesmos livros e gostam do café com um pouco de leite. Nada exagerado. O leite deve ser na medida certa. Foram aos mesmos shows e deliraram nas mesmas músicas. Gostam de Guinness e acham o chop Black da Brahma adocicado e ruim. Os filmes favoritos são os mesmo. Só a posição no ranking é que muda. Mas ele ainda acha que você superestima A Cor Púrpura.
E então você percebe que sua vida está entrelaçada à dele. Você percebe que o amor que passou a sentir parece até palpável. Você quase consegue segurá-lo e guardá-lo numa caixinha. E você passa a prezar isso com todo o seu ser. E pensa em coisas que nunca havia imaginado. Pensa em casar. Pensa em filhos. Pensa no vestido de noiva. Pensa na aposentadoria.
Mas você não vê o que o malandro faz com você. Você não percebe que na verdade está triste, descuidada e longe de se dizer feliz. O malandro fez com que você viva só para ele. E mais ninguém. Nem você.
Porém, um dia, a coisa se torna tão insustentável que você junta suas coisas e vai embora. Diz: eu não te amo mais. Vira as costas e vai embora.
Anos depois, você sente vontade de vê-lo. De falar com ele, nada de mais. Hoje tudo passou. As dores, as lágrimas. Hoje, você só quer ser amiga. Mas o malandro te engana de novo. Faz você pensar que ele precisa de você e você precisa dele. Faz cara de cachorro pidão, diz que sua vida não é a mesma sem você.
Quando você chega em casa, começa a pensar. E acha que não é feliz com ele, mas também não é feliz sem ele. Você passa a acreditar que nunca mais vai amar ninguém como o amou e que sua vida acabou ali.
De mansinho, o malandro chegou e se instalou. Passos curtos e silenciosos, com os pés descalços. Entrou meio como quem não quer nada, mas ali se instalou e ali ficou. Agora todos notam a sua presença. Através do olhar vazio e desesperançado que você olha o mundo.
MALANDRO É MALANDRO E MANÉ É MANÉ!!!
(Bezerra da Silva)
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