D. Sebastião, rei de Portugal, que originou o fenômeno do Sebastianismo, ou seja, o mito do redentor da pátria, o salvador dos portugueses e brasileiros. Segundo a versão histórica portuguesa, em l580, quando atingiu 2l anos e logo depois de ter assumido o trono de Portugal. D. Sebastião foi para o Norte da África tomar a cidade de Alcacer-Quibir aos mouros, como parte de uma cruzada para expandir a cristandade.
O couro do boi do Bumba-meu-Boi, principalmente os de sotaque de zabumba e de pandeiros de costa de mão, das regiões de Cururupu e Guimarães, costuma ter a ponta dos chifres em metal dourado e traz, bordada na testa, uma estrela de ouro e jóias. Afirma-se que essa estrela e os chifres com ponta dourada constituem alusão ao touro encantado e aos tesouros de Dom Sebastião na ilha dos Lençóis.
Conta-se ainda que tudo o que existe em Lençóis pertence ao Rei Sebastião e que ninguém ouse botar uma pata sequer no que é de Sua Majestade. Quem tentar levar alguma coisa que pertence à ilha terá que devolver o quanto antes, sob pena de arriscar a própria vida e a de todos os seus companheiros, pois o barco pode virar e levar todos para a morada real, identificada como o Reino ou Palácio de Queluz (embora este só tenha sido construído no século XVIII, na cidade de Sintra, muito depois de sua época).
A guerra contra os mouros foi um fracasso, mas como o corpo do rei D. Sebastião, supostamente morto em combate nunca foi encontrado, originou-se à lenda do sebastianismo, segundo, a qual o rei não teria morrido e retornaria às praias de Lisboa, numa manhã de nevoeiro. A lenda contada por Erasmo Dias e relatada por Cascudo diz que, depois de desaparecer de Alcacer-Quibir, o rei veio com a corte do Palácio de Queluz encantar-se nas praias dos Lençóis, entre os municípios de Cururupu e Turiaçu, no Maranhão. Não por acaso, o Palácio de Queluz foi a última residência oficial de D. João VI, antes de ser obrigado pelas tropas napoleônicas a fugir para o Brasil em l808 com parte da sua corte, deixando para trás um país entregue às guerras napoleônicas.
Nas noites de sexta-feira, não havendo luar, aparece um grande touro negro com uma estrela resplandecente na testa. Quem estiver na praia será tomado de pânico irresistível. Quem estiver no mar ouvirá o canto das açafatas, entoado no fundo das águas, onde está a cidade encantada d'el-Rei D. Sebastião. Quem tiver a coragem de ferir o touro na estrela radiante vê-lo-á desencantar-se e Sua Majestade aparecer. A cidade de São Luís do Maranhão submergir-se-á totalmente e diante da praia dos Lençóis emergirá a cidade encantada, onde o rei espera o momento da sua libertação. Na praia dos Lençóis é proibido pelos pescadores levar-se qualquer recordação local, que tenha sido colhida na praia ou n'água do mar: conchas, estrelas, búzios, algas secas, jóias." (CASCUDO,1984, p.758)
Adaptada para o Bumba-Meu-Boi como idéia fundante, a lenda desloca o aparecimento do touro encantado das noites de sexta-feira para o período junino, onde o rei, sob a forma de um touro reluzente, coberto de pedras preciosas, com olhos em fogo, fulgurante estrela na testa, chifres de ouro, boca em brasa e a desabalado galope, percorre o Maranhão apavorando e protegendo o povo humilde. É um touro violento que não se deixa domesticar, mas se deixa domar para alegrar São João. É em função desta lenda que se diz ainda hoje no Maranhão que para ser de peso o folguedo tem que ter um touro valente na roda capaz de derrubar qualquer vaqueiro, pular qualquer cerca, acabar com qualquer vadiagem. É provável que também a lenda do sebastianismo tenha sido levada para o Maranhão pelos portugueses imigrantes do Norte de Portugal e depois adotada pela Igreja Católica, a partir do culto ao messianismo.
Afirma-se que as dunas de areia da Ilha dos Lençóis têm semelhanças com o campo de Alcácer-Quibir, onde el rei dom Sebastião desapareceu. Lençóis é considerada uma ilha encantada, que serve de morada a dom Sebastião. Seu reino está oculto no fundo do mar, próximo aquela ilha. O rei vive em seu palácio submerso e seu navio, por mais que tente, nunca encontra a rota para Portugal. Dizem que nas noites de sexta-feira dom Sebastião aparece na praia na forma de um touro negro, com uma estrela de ouro na testa. Se alguém conseguir atingir a estrela e ferir o touro, o reino será desencantado, a cidade de São Luís irá submergir e aparecerá uma cidade encantada com os tesouros do rei.
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