12 de julho de 2011

Asfalto Que Dá Voto (Fernando Thompson)

Era verdade: estudo da Petrobras comprova que em ano eleitoral o ritmo da pavimentação aumenta. Quando os eleitores vão às urnas, as empreiteiras fazem mais obras

Todo ano de eleição é a mesma coisa. Eleitores vão às urnas e as empreiteiras, às obras. Um estudo inédito da Petrobras comprova em detalhes uma suspeita de todos os brasileiros: as obras públicas aumentam em anos eleitorais. DINHEIRO teve acesso a um gráfico elaborado por técnicos da estatal que mostra a produção de asfalto no Brasil desde 1954. Como se trata da única fabricante do produto no País, a análise da venda comprova que as encomendas aumentam nos anos eleitorais e diminuem nos anos em que não há eleições. Os anos de 1988, 1992, 1994 e 1998 foram os que registraram os picos no consumo de asfalto. Não por acaso, anos eleitorais. O recorde nacional de produção e venda de asfalto aconteceu em 1998, justamente o ano de reeleição de Fernando Henrique Cardoso para a Presidência da República e de escolha de governadores, senadores, deputados federais e estaduais. Naquele ano, a venda de asfalto chegou às alturas: dois milhões de toneladas.

Segundo a Associação Brasileira de Distribuidores de Asfalto (Abeda), este ano o consumo do produto deve crescer 20% em comparação a 1999, por conta das eleições municipais. Ilonir Antônio Tonial, engenheiro responsável pela área de produtos asfálticos da Petrobras concorda com essa previsão. O estudo da empresa mostra que no ano passado foi consumido 1,5 milhão de toneladas. Para este ano, a estatal estima que a produção deve chegar a 1,8 milhão de toneladas. Os técnicos da Petrobras estão apostando que no ano de 2002, quando os brasileiros voltam às urnas para escolher quem vai substituir FHC, deve-se registrar o novo recorde de produção, algo acima de dois milhões de toneladas. Antônio Tonial explica que a Petrobras tem dez unidades de produção de asfalto espalhadas pelo País. Ao todo, a estatal tem capacidade para produzir 3,5 milhões de toneladas por ano, mas o consumo nacional não ultrapassa os dois milhões de toneladas anuais. “Realmente registramos o aumento do consumo em anos de eleições”, confirma o engenheiro. A proximidade da ida às urnas tem levado governos de todo o País a anunciar novas obras. No Rio de Janeiro, um fato inédito: o governador Antony Garotinho (PDT) e o prefeito Luiz Paulo Conde (PFL) uniram-se para fazer um pacote conjunto de obras, orçado em R$ 100 milhões. Na esfera federal, a história se repete. Eleições à vista é sinônimo de mais estradas pavimentadas. No Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER), a informação é de que o orçamento do Ministério dos Transportes, órgão ao qual o DNER é subordinado, está sendo revisto para se adequar ao corte de gastos determinado pelo governo federal.

Segundo a assessoria de imprensa do órgão, no ano passado foram gastos R$ 418,7 milhões com a recuperação e manutenção de estradas federais. Outros R$ 474,6 milhões foram utilizados para duplicação e construção de novas rodovias da União. “A pressão eleitoral acaba provocando o acúmulo de obras perto das eleições”, admite o deputado Manoel Castro (PFL/BA), presidente da Comissão de Tributação e Finanças da Câmara e ex-prefeito de Salvador. Pelo orçamento original, os gastos deste ano devem quase dobrar. Com a manutenção e conservação, o volume deve chegar a R$ 835 milhões, um aumento de 99,4% em apenas um ano. Com a ampliação das rodovias, os gastos previstos são de R$ 812,2 milhões, o que representa um crescimento de 95,9% em relação ao orçamento de 1999. Aumento de preço. Os eleitores, além de terem de ver as cidades transformadas em canteiros de obras, também estão pagando mais caro pela pavimentação e construção de novas estradas. Segundo a Abeda, o preço do asfalto já subiu 23% este ano.

E a conta pode ficar ainda mais salgada, já que a Petrobras pretende pedir à Agência Nacional de Petróleo (ANP), que controla o preço do produto, mudanças na fórmula que fixa o valor da tonelada do asfalto. O gerente de produtos asfálticos da empresa explica que o preço de venda do asfalto nacional é fruto de uma complicada fórmula paramétrica que acompanha a variação da cotação do produto nos Estados Unidos. Atualmente, o preço da tonelada do asfalto nacional é vendida pela Petrobras para as distribuidoras brasileiras por US$ 131. No mercado norte-americano, esse valor sobe para US$ 184. A estatal quer receber mais pelo asfalto que vende. O diretor-presidente da ANP, David Zylberzstajn, assegura que ainda não recebeu nenhum pedido de reajuste da estatal. Mas se o aumento sair, as distribuidoras já decidiram: repassam o reajuste.

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