Agir contra o crack é correr contra o tempo. Esse é o lema da mobilização que une sociedade civil, entidades e administração municipal na tentativa de enfrentar esta e outras drogas em Bauru. A cidade deu ontem o primeiro passo oficial em 2012 durante reunião na Secretaria do Bem-Estar Social (Sebes) que discutiu pontos para a implantação do projeto das chamadas Casas de Passagem no município. E, como ponto de partida, será realizada hoje, às 23h, na “cracolândia” da cidade, Centro, ação em parceira com a Polícia Militar para acolhimento dos usuários. A “cracolândia” fica embaixo do viaduto da rua 13 de Maio com avenida Nuno de Assis.
Homens, mulheres, adolescentes ou crianças entregues ao vício em breve terão um espaço para serem acolhidos, orientados e encaminhados à reabilitação. É essa a Casa de Passagem com equipes formadas por psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais e agentes sociais que realizarão desde operações de busca aos usuários a investigações para saber qual o tratamento adequado a cada caso.
Além disso, outro trabalho será o resgate do vínculo familiar do usuário. Segundo a secretária do Bem Estar Social, Darlene Tendolo, a entidade, que será financiada pelo município, não funcionará como um abrigo, mas sim local de permanência para o paciente com um tempo de permanência suficiente para que seja dado encaminhamento ao usuário.
De acordo com a secretária, a pessoa que é levada para o Pronto Socorro para ser atendida muitas vezes está sem as condições básicas, como uma roupa adequada, alimentação e banho e isso acaba influenciando de maneira negativa o trabalho.
“Esse usuário fica à espera de um encaminhamento e, na maioria das vezes, acaba fugindo. Com a Casa de Passagem faremos um acolhimento e um acompanhamento do caso, investigando há quanto tempo a pessoa está na rua, se é reincidente, se tem família e qual o melhor tratamento. Faremos o possível para que a pessoa seja tratada”, promete.
Para a assistente social do Esquadrão da Vida, Eugênia Maria Sellmann Chaves, a Casa de Passagem será importante para desafogar o trabalho da instituição. “Hoje, a pessoa passa por todo um processo de atendimento até conseguir ser internada. Os exames e a alimentação, além do vínculo familiar, por exemplo, são coisas básicas que o usuário precisa ter antes de ser internado. Nesse sentido, a Casa de Passagem irá ajudar bastante.”
Reinserção
Além da internação, para ela, um trabalho de extrema importância que também será feito pela Casa de Passagem é o acompanhamento voltado à reinserção do usuário após a internação. “O usuário que não passou pelo trabalho de resgate de vínculo familiar acaba saindo perdido da internação e, muitas vezes, até voltando para a droga”, completa.
O Esquadrão da Vida é uma unidade de internação que hoje trabalha em convênio com a Secretaria Municipal de Saúde para os encaminhamentos de usuários maiores de 18 anos e do sexo masculino.
A Comunidade Terapêutica Bom Pastor também tem um trabalho vinculado à Secretaria de Saúde e oferece internações para homens e mulheres. Lilian Aparecida de Oliveira é coordenadora da comunidade e ressalta a importância do trabalho prévio que deverá ser feito pela Casa de Passagem.
“O tratamento não é feito somente com o dependente químico, precisamos trabalhar também com a família desse usuário. “No caso da comunidade, a mulher às vezes já vem grávida ou com uma criança no colo. Imagine a dificuldade para realizarmos o trabalho dessa forma. Muitas vezes, ela entra na prostituição para conseguir a droga e acaba rompendo qualquer vínculo com a família”, ressalta a coordenadora.
Casa de Passagem
O projeto para a Casa de Passagem deverá ser enviado à aprovação dos conselhos e encaminhado aos vereadores. “Já estamos aprontando um chamamento público. Não serão empresas que tocarão o negócio e sim as entidades socioassistenciais. Então irá demorar menos para tudo acontecer”, afirma a secretária Darlene Tendolo.
Questionada quanto ao encaminhamento dos menores de 18 anos que serão atendidos pelas Casas de Passagem, Darlene afirmou que a prefeitura tem subsidiado a internação dos adolescentes e crianças dependentes para outras unidades de assistência fora do município.
Além das unidades de internação, os órgãos que acabam atendendo a demanda da cidade em relação às drogas. Atualmente são o Caps/AD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas) e o Cras (Centro de Referência Especializado de Assistência Social).
Chá e combate
Para levantar a bandeira de enfrentamento ao crack em Bauru, a Secretaria do Bem Estar Social e Polícia Militar realizam hoje, às 23h, uma operação de “combate de campo” do crack nos pontos de vulnerabilidade do município.
De acordo com a secretária, mais de 50 servidores públicos e membros da sociedade civil, acompanhados da PM, irão aos locais fazer o acolhimento e revitalização dos usuários de drogas. “Eles serão alimentados, vestidos, levaremos chá de erva cidreira para acalmar... Além de investigar a situação com as famílias”, ressalta Darlene.
Segundo afirmou a secretária, as pessoas usuárias atendidas pelos agentes da operação de “combate de campo”, a exemplo de ações anteriores, serão encaminhadas basicamente ao Caps/AD e Pronto Socorro.
A Associação Bauru pela Diversidade também irá participar da ação. O presidente da ABD Markinhus Souza, enfatiza que os membros da associação estarão no local para dar o suporte aos agentes. “Nós lidamos bastante com o pessoal envolvido nas drogas e estamos acostumados com algumas situações”, enfatiza.
Você sabia?
Hoje, mais de 50 bauruenses já frequentam a “cracolândia” do Centro. Dependentes, ao todo, já chegariam a dois mil na cidade. No Judiciário, só a 2ª Vara da Família de Bauru recebe um pedido de internação compulsória (forçada) por dia.
Responsável por 89 cidades da área do Deinter-4 (Departamento de Polícia Judiciária do Interior), o delegado Benedito Antônio Valencise defende mudanças na lei para que pequenos traficantes sejam punidos como os maiores.
“Eu brincava lá quando era criança e, hoje, vejo a situação: virou um depósito de andarilhos e pessoas usuárias de crack”, relata um morador do Nova Esperança sobre o local onde conviveu com os amigos por cerca de 18 anos. É a praça Ivanildo Fiais da Silva. E o morador anônimo não é o único a tocar no assunto.
“Tenho costume de ficar sentado na porta de casa com alguns vizinhos, mas às vezes achamos chato porque o pessoal da praça fica observando e achando que a gente vai fazer alguma coisa contra eles”, conta o vizinho da praça, Sebastião Miguel, 65 anos.
Para ele, a situação é um “constrangimento” e é preciso mais atenção dos “órgãos do município ao local”. “A gente quer ver coisa boa aqui. É dia e noite o pessoal fazendo uso de drogas. Tem até criança aí que ajuda a vender”, aponta o morador.
Mara Regina Limeira, 40 anos, é empregada doméstica e mãe de três filhos. Conta que, quando seu filho mais velho tinha 13 anos, ela descobriu que o garoto estava faltando às aulas para fazer o uso de drogas. Aos 15 anos, o usuário, acompanhado de sua mãe chegou a frequentar algumas sessões no Caps/AD, mas acabou desistindo do tratamento.
Já aos 16 anos o jovem foi parar na Fundação Casa por roubar um celular e uma bolsa na rua. Após um ano e meio de prisão, Mara conta que a situação só piorou com o passar do tempo. Resultado: agressões, objetos estranhos e armas que apareciam de um momento para outro na casa. “Os vizinhos denunciavam, chegou num ponto em que ele passou a assaltar a vizinhança para poder comprar a droga.”
Hoje, com 20 anos o rapaz está preso no Centro de Detenção Provisória (CDP) por roubo a residências. De acordo com a mãe, a relação entre eles foi cortada. “Eu dizia para o meu filho ir trabalhar, mas roubar era fácil. Lá no CDP ele está preso como um bicho e não vai se curar. Acredito que ele irá sair de lá pior do que entrou. Faz oito meses que está preso. Ele disse que eu o abandonei, e eu digo que foi ele quem nos abandonou e preferiu as drogas. É muita humilhação.”
Fala-povo: ‘Do que Bauru precisa para vencer a luta contra o crack?’
“Precisamos de mais educação e apoio do governo. Não adianta nada só internar a pessoa. Deve haver outras ações”
Sérgio Rufino, 49 anos,mecânico
“A sociedade precisa se unir para vencer essa luta. A criança que não tem qualidade de vida acaba procurando outros meios”
Tábata dos Santos, 21 anos, assistente comercial
“Precisamos de conscientização da população. Uns devem ajudar aos outros. Só quando nos unirmos esse mal acabará”
Dilma Bispo de Souza, 41 anos,atendente
“Faltam lugares para atender os usuários aqui em Bauru. O que temos é pouco para uma população como a nossa”
Mainara Gonçalves, 18 anos, desempregada
“Falta educação de qualidade e mais ação da polícia. Os policiais perderam a autoridade”
Sidinei Pereira Sodré, 46 anos,assistente técnico.
“Eu tenho um caso de usuário de crack na minha família e acho que faltam mais clínicas de tratamento em Bauru. É tudo muito caro”
Maria Aparecida Lucas, 59, pensionista
Homens, mulheres, adolescentes ou crianças entregues ao vício em breve terão um espaço para serem acolhidos, orientados e encaminhados à reabilitação. É essa a Casa de Passagem com equipes formadas por psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais e agentes sociais que realizarão desde operações de busca aos usuários a investigações para saber qual o tratamento adequado a cada caso.
Além disso, outro trabalho será o resgate do vínculo familiar do usuário. Segundo a secretária do Bem Estar Social, Darlene Tendolo, a entidade, que será financiada pelo município, não funcionará como um abrigo, mas sim local de permanência para o paciente com um tempo de permanência suficiente para que seja dado encaminhamento ao usuário.
De acordo com a secretária, a pessoa que é levada para o Pronto Socorro para ser atendida muitas vezes está sem as condições básicas, como uma roupa adequada, alimentação e banho e isso acaba influenciando de maneira negativa o trabalho.
“Esse usuário fica à espera de um encaminhamento e, na maioria das vezes, acaba fugindo. Com a Casa de Passagem faremos um acolhimento e um acompanhamento do caso, investigando há quanto tempo a pessoa está na rua, se é reincidente, se tem família e qual o melhor tratamento. Faremos o possível para que a pessoa seja tratada”, promete.
Para a assistente social do Esquadrão da Vida, Eugênia Maria Sellmann Chaves, a Casa de Passagem será importante para desafogar o trabalho da instituição. “Hoje, a pessoa passa por todo um processo de atendimento até conseguir ser internada. Os exames e a alimentação, além do vínculo familiar, por exemplo, são coisas básicas que o usuário precisa ter antes de ser internado. Nesse sentido, a Casa de Passagem irá ajudar bastante.”
Reinserção
Além da internação, para ela, um trabalho de extrema importância que também será feito pela Casa de Passagem é o acompanhamento voltado à reinserção do usuário após a internação. “O usuário que não passou pelo trabalho de resgate de vínculo familiar acaba saindo perdido da internação e, muitas vezes, até voltando para a droga”, completa.
O Esquadrão da Vida é uma unidade de internação que hoje trabalha em convênio com a Secretaria Municipal de Saúde para os encaminhamentos de usuários maiores de 18 anos e do sexo masculino.
A Comunidade Terapêutica Bom Pastor também tem um trabalho vinculado à Secretaria de Saúde e oferece internações para homens e mulheres. Lilian Aparecida de Oliveira é coordenadora da comunidade e ressalta a importância do trabalho prévio que deverá ser feito pela Casa de Passagem.
“O tratamento não é feito somente com o dependente químico, precisamos trabalhar também com a família desse usuário. “No caso da comunidade, a mulher às vezes já vem grávida ou com uma criança no colo. Imagine a dificuldade para realizarmos o trabalho dessa forma. Muitas vezes, ela entra na prostituição para conseguir a droga e acaba rompendo qualquer vínculo com a família”, ressalta a coordenadora.
Casa de Passagem
O projeto para a Casa de Passagem deverá ser enviado à aprovação dos conselhos e encaminhado aos vereadores. “Já estamos aprontando um chamamento público. Não serão empresas que tocarão o negócio e sim as entidades socioassistenciais. Então irá demorar menos para tudo acontecer”, afirma a secretária Darlene Tendolo.
Questionada quanto ao encaminhamento dos menores de 18 anos que serão atendidos pelas Casas de Passagem, Darlene afirmou que a prefeitura tem subsidiado a internação dos adolescentes e crianças dependentes para outras unidades de assistência fora do município.
Além das unidades de internação, os órgãos que acabam atendendo a demanda da cidade em relação às drogas. Atualmente são o Caps/AD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas) e o Cras (Centro de Referência Especializado de Assistência Social).
Chá e combate
Para levantar a bandeira de enfrentamento ao crack em Bauru, a Secretaria do Bem Estar Social e Polícia Militar realizam hoje, às 23h, uma operação de “combate de campo” do crack nos pontos de vulnerabilidade do município.
De acordo com a secretária, mais de 50 servidores públicos e membros da sociedade civil, acompanhados da PM, irão aos locais fazer o acolhimento e revitalização dos usuários de drogas. “Eles serão alimentados, vestidos, levaremos chá de erva cidreira para acalmar... Além de investigar a situação com as famílias”, ressalta Darlene.
Segundo afirmou a secretária, as pessoas usuárias atendidas pelos agentes da operação de “combate de campo”, a exemplo de ações anteriores, serão encaminhadas basicamente ao Caps/AD e Pronto Socorro.
A Associação Bauru pela Diversidade também irá participar da ação. O presidente da ABD Markinhus Souza, enfatiza que os membros da associação estarão no local para dar o suporte aos agentes. “Nós lidamos bastante com o pessoal envolvido nas drogas e estamos acostumados com algumas situações”, enfatiza.
Você sabia?
Hoje, mais de 50 bauruenses já frequentam a “cracolândia” do Centro. Dependentes, ao todo, já chegariam a dois mil na cidade. No Judiciário, só a 2ª Vara da Família de Bauru recebe um pedido de internação compulsória (forçada) por dia.
Responsável por 89 cidades da área do Deinter-4 (Departamento de Polícia Judiciária do Interior), o delegado Benedito Antônio Valencise defende mudanças na lei para que pequenos traficantes sejam punidos como os maiores.
“Eu brincava lá quando era criança e, hoje, vejo a situação: virou um depósito de andarilhos e pessoas usuárias de crack”, relata um morador do Nova Esperança sobre o local onde conviveu com os amigos por cerca de 18 anos. É a praça Ivanildo Fiais da Silva. E o morador anônimo não é o único a tocar no assunto.
“Tenho costume de ficar sentado na porta de casa com alguns vizinhos, mas às vezes achamos chato porque o pessoal da praça fica observando e achando que a gente vai fazer alguma coisa contra eles”, conta o vizinho da praça, Sebastião Miguel, 65 anos.
Para ele, a situação é um “constrangimento” e é preciso mais atenção dos “órgãos do município ao local”. “A gente quer ver coisa boa aqui. É dia e noite o pessoal fazendo uso de drogas. Tem até criança aí que ajuda a vender”, aponta o morador.
Mara Regina Limeira, 40 anos, é empregada doméstica e mãe de três filhos. Conta que, quando seu filho mais velho tinha 13 anos, ela descobriu que o garoto estava faltando às aulas para fazer o uso de drogas. Aos 15 anos, o usuário, acompanhado de sua mãe chegou a frequentar algumas sessões no Caps/AD, mas acabou desistindo do tratamento.
Já aos 16 anos o jovem foi parar na Fundação Casa por roubar um celular e uma bolsa na rua. Após um ano e meio de prisão, Mara conta que a situação só piorou com o passar do tempo. Resultado: agressões, objetos estranhos e armas que apareciam de um momento para outro na casa. “Os vizinhos denunciavam, chegou num ponto em que ele passou a assaltar a vizinhança para poder comprar a droga.”
Hoje, com 20 anos o rapaz está preso no Centro de Detenção Provisória (CDP) por roubo a residências. De acordo com a mãe, a relação entre eles foi cortada. “Eu dizia para o meu filho ir trabalhar, mas roubar era fácil. Lá no CDP ele está preso como um bicho e não vai se curar. Acredito que ele irá sair de lá pior do que entrou. Faz oito meses que está preso. Ele disse que eu o abandonei, e eu digo que foi ele quem nos abandonou e preferiu as drogas. É muita humilhação.”
Fala-povo: ‘Do que Bauru precisa para vencer a luta contra o crack?’
“Precisamos de mais educação e apoio do governo. Não adianta nada só internar a pessoa. Deve haver outras ações”
Sérgio Rufino, 49 anos,mecânico
“A sociedade precisa se unir para vencer essa luta. A criança que não tem qualidade de vida acaba procurando outros meios”
Tábata dos Santos, 21 anos, assistente comercial
“Precisamos de conscientização da população. Uns devem ajudar aos outros. Só quando nos unirmos esse mal acabará”
Dilma Bispo de Souza, 41 anos,atendente
“Faltam lugares para atender os usuários aqui em Bauru. O que temos é pouco para uma população como a nossa”
Mainara Gonçalves, 18 anos, desempregada
“Falta educação de qualidade e mais ação da polícia. Os policiais perderam a autoridade”
Sidinei Pereira Sodré, 46 anos,assistente técnico.
“Eu tenho um caso de usuário de crack na minha família e acho que faltam mais clínicas de tratamento em Bauru. É tudo muito caro”
Maria Aparecida Lucas, 59, pensionista
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