A galera aqui do Boteco do Valente faz toda questão de parabenizar o FC Sankt Pauli pelo retorno a elite do futebol alemão, mas vamos contar essa história, pois agora,
em seu ano de centenário, o St. Pauli conseguiu no último dia 8, o
acesso a Bundesliga, primeira divisão do Campeonato Alemão, da qual
ficou fora desde a temporada de 2001/2002.
Um clube de futebol cujo assessor de imprensa é relacionado para um
jogo de primeira divisão. Seu ex-presidente é assumidamente gay.
Uma torcida que se declara contra o racismo, fascismo e sexismo. Um
uniforme que leva o nome de uma sex shop entre os patrocinadores e com a
camisa em uma cor peculiar: marrom. Um de seus símbolos é a bandeira
pirata. O St. Pauli pode não lutar pelo título alemão, mas brilha por
ser a equipe mais alternativa do mundo. O time, que voltou nesta
temporada à primeira divisão, tenta se firmar na elite. A tarefa tem
sido árdua: o St. Pauli ocupa a 13ª posição com 28 pontos, três acima da
zona de rebaixamento.
O time de Hamburgo tem uma série de peculiaridades que o fizeram ganhar a simpatia de milhões de fãs não apenas na Alemanha. Em sua última “peripécia”, o St. Pauli teve um jogador especial relacionado para enfrentar o Hannover 96, no fim de fevereiro. Hauke Brückner, assessor de imprensa do clube, ficou no banco de reservas. O jornalista, de 30 anos, já havia defendido o time em dez partidas na temporada 2002/03, quando o St. Pauli estava na segunda divisão alemã. Conheça mais algumas curiosidades sobre o St. Pauli:
O time de Hamburgo tem uma série de peculiaridades que o fizeram ganhar a simpatia de milhões de fãs não apenas na Alemanha. Em sua última “peripécia”, o St. Pauli teve um jogador especial relacionado para enfrentar o Hannover 96, no fim de fevereiro. Hauke Brückner, assessor de imprensa do clube, ficou no banco de reservas. O jornalista, de 30 anos, já havia defendido o time em dez partidas na temporada 2002/03, quando o St. Pauli estava na segunda divisão alemã. Conheça mais algumas curiosidades sobre o St. Pauli:
EX-PRESIDENTE ASSUMIDAMENTE GAY
Corny Littman presidiu o St. Pauli entre 2002 e 2010. Diretor teatral, ele é declaradamente gay, o que ilustra um ponto forte do clube: seu caráter contrário a qualquer forma de discriminação. Os torcedores da equipe abominam todo tipo de racismo, sexismo, xenofobia e homofobia. Outro exemplo deste comportamento foi a remoção de um anúncio de uma revista masculina do estádio, pois foi considerado ofensivo às mulheres. |
UNIFORME COM PATROCÍNIO DE SEX SHOP
A sede do St. Pauli se localiza na região de Reeperbahn, área da cidade de Hamburgo na qual se localizam boates e casas de prostituição. O clube não poderia perder a oportunidade para faturar em cima disso. A diretoria fechou um contrato com a Orion, uma das lojas de artigos eróticos mais conhecida do mundo. Para comemorar o retorno do time à primeira divisão, o sex shop fabricou 20 mil camisinhas com o escudo do St. Pauli. |
UMA TORCIDA FANÁTICA E POLITIZADA
Os torcedores do St. Pauli fazem questão de exibir sua posição política, alinhada à esquerda. Estima-se que o clube tenha cerca de 11 milhões de sócios na Alemanha. A fama da equipe de Hamburgo se espalhou pelo mundo: hoje, há em torno de 500 fãs clubes do St. Pauli fora do país. A paixão da torcida também se mede no estádio. Quando o St. Pauli estava na terceira divisão, o clube tinha uma média de 15 mil torcedores por partida como mandante - contra 200 da média geral do torneio. |
BANDEIRA PIRATA COMO SÍMBOLO
Force um pouco sua memória e tente se lembrar de algum time cujo uniforme tem o marrom como a cor principal. Além da peculiaridade em sua camisa, o St. Pauli tem como símbolo extraoficial a bandeira pirata. Em 2009, após marcar um gol contra o Hansa Rostock, Deniz Naki fez a festa da torcida ao fazer um sinal de que cortaria o pescoço dos adversários. A identificação com o símbolo foi completada no fim da partida, quando ele fincou uma bandeira do St. Pauli no gramado. |
LIGAÇÃO PRÓXIMA ENTRE CLUBE E MÚSICA
Não seria um exagero dizer que o St. Pauli joga por música. Quando o time entra em campo no estádio Millerntor, nada de hinos; pelos alto-falantes, ouve-se Hells Bells, do AC/DC (foto). Se a equipe da casa faz um gol, a música Song#2, do Blur, anima a torcida. A ligação do clube de Hamburgo com a música vai além. Diversas bandas se mostraram simpatizantes do St. Pauli, como Bad Religion, Asian Dub Foundation e Turbonegro, e até compuseram canções sobre a equipe. |
No final dos anos 70 os
neonazistas, de forma similar a outros países (especialmente na
Inglaterra), começam a se infiltrar nos estádios de futebol de
Hamburgo, que até então não tinha nenhum caráter político,
tomando em pouco tempo o controle dos estádios graças a sua grande
organização. A partir de então eles começam a se situar no "Bloco
E" da Curva Norte, por esse motivo muitos torcedores deixam de
ir aos estádios. Essas organizações fascistas, que ainda hoje
continuam na ativa (como "FAP", "NF" ou o mais
velho partido nazista alemão "NDP"), eram capazes de
criarem torcidas organizadas de caráter neonazista como os
"Borussenfront" em Dormunt ou os "Hertafrösche"
em Berlim. Muitos dos importantes líderes destes grupos eram
militantes de partidos neonazistas. Suas zines, bandeiras e outros
materiais eram dessa mesma influência política, assim como os hinos
que cantavam nos estádios. Não tardou para a polícia interceptar,
nesse mesmo ano, uma circular interna escrita pelo líder nazista
Michael Kühnen, na qual dizia que "o futebol devia ser um campo
de captação de recrutas para o movimento nazista alemão".
Por outro lado, ao
norte da cidade, no bairro de St. Pauli, dar-se início a uma série
de acontecimentos significativos para a história do bairro: os
"squatters" se multiplicam em muito pouco tempo e as baixas
rendas que pagavam pelos tetos fazem com que a maioria dos habitantes
da esquerda de Hamburgo se desloque para o bairro de St. Pauli,
trazendo consigo, claro, um aumento no número de espectadores do
Millentorn (estádio do St. Pauli) que até então não superava os
2000 afiliados.
O FC St. Pauli sempre
foi uma equipe modesta, limitando-se apenas a jogar na Bundesliga, e
quase sempre jogou na segunda e terceira divisão alemã. Seu
estádio, o Millentorn, conta com uma capacidade de 21000
espectadores. Por volta de 1985 começa-se a notar esse crescimento
na torcida do St. Pauli. Em apenas um ano a equipe começou a dobrar
o número de sócios, passando para 4000 afiliados. Já em 1989
começam a se organizar de um modo mais efetivo os primeiros grupos
de torcida do St. Pauli. Em 1991 editam um vídeo sobre eles mesmos
em sua passagem pela Bundesliga, feito que voltariam a realizar em
1997. Também começam a organizar seu meio de comunicação próprio,
o famoso "Millentorn Roar!", que atualmente tem uma tiragem
de mais de 30000 números, tornando-se assim a revista de torcidas
com maior tiragens do mundo.
Mas não avancemos
tanto, pois como já dissemos, pouco a pouco a massa do St. Pauli vai
aumentando, chamando a atenção da extrema-direita. Em 1988 após
uma disputa entre Alemanha e Holanda em Hamburgo, alguns fascistas
decidem, para celebrar a vitória da seleção alemã, acabar com a
Haffenstrabe, conjunto de okupas situada em St. Pauli. A resposta do
bairro é incrível: avançaram em fúria contra os fascistas,
confrontando-se fisicamente com eles; os nazistas sofreram numerosas
perdas. Depois deste fato, mais e mais antifascistas uniram-se à
torcida do St. Pauli. Porém, neste momento, o verdadeiro motivo de
sua organização foi para lutar contra os projetos mesquinhos da
diretoria do clube, que queria transformar o St. Pauli em um "time
grande" à custa da população. Eles planejaram um mega-projeto
esportivo que necessitava, como infra-estrutura, milhões de
marcos... um estádio novo, um centro comercial, uma cidade
esportiva...
Enfim, isto supunha o encarecimento do preço dos tetos,
o desalojamento das casas okupas, maior controle policial na zona,
aburguesamento do bairro etc., e as torcidas do St. Pauli se
organizaram para impedir este projeto. Foram ao estádio e fizeram
uma série de manifestações, agitando cartazes e bandeiras. O clube
então cedeu e as coisas ficaram como estavam. Era a segunda grande
vitória, em tão pouco tempo, ganhada pela torcida do St. Pauli,
esse foi o verdadeiro começo do que viria depois: deslocamentos de
milhares de torcidas organizadas para ver o St. Pauli jogar por toda
a Alemanha, o reconhecimento das torcidas estrangeiras (Celtic
Glasgow, Athletic de Bilbao etc.) e a perplexidade dos meios de
comunicação pela "estranha" torcida do St. Pauli
(comunistas, anarquistas e antifascistas em geral), pelas bandeiras
de Che tremulando no Estádio de Millentorn e pelos hinos
antifascistas cantados por toda a sua torcida. O movimento
contra-cultural também se fez presente: punks e skinheads
antifascistas prestaram toda a sua solidariedade ao time do St.
Pauli, formando inclusive algumas torcidas organizadas.
No início dos anos 90
torcedores antifascistas começaram a se organizar em torno do St.
Pauli, surgindo assim o primeiro deles: o "St. Pauli Fans".
Nesse mesmo ano, surgiu também o "St. Paulianer", que era
uma torcida organizada que agrupava todo o tipo de juventude
antifascista, contendo em suas fileiras um grande número de
skinheads libertários, Redskins e SHARP. Sobre esta torcida ocorreu
um fato curioso no final dos anos 90, quando os torcedores do "St.
Paulianer" foram a Nuremberg, assistir à partida de seu time,
se confrontaram fisicamente com os fascistas. A imprensa e as pessoas
leigas ficaram completamente surpreendidas ao ver uma "encarniçada
briga de rua entre skinheads de esquerda contra skinheads de
direita". Existia também uma outra torcida denominada "BAFF"
(Bündnis Antifas chistischer FusballFans). Entretanto, como já
dissemos, o St. Pauli também contava com um grupo de torcedores
fascistas que faziam manifestações políticas dentro do Estádio de
Millentorn. Em todos os campos que iam, os neonazistas se mobilizavam
para enfrentar os torcedores do St. Pauli. Mas a união entre as
torcidas antifascistas do St. Pauli resultou na vitória final contra
o eixo nazista. As brigas foram continuas e selvagens, mas no final
de tudo as torcidas organizadas do St. Pauli limparam seu estádio da
sujeira nazi-fascista, os expulsando dali no tapa (a única
linguagem que esses fulanos conhecem). Também são famosos seus
confrontos com os fascistas de Hamburgo, Berlim e Borussia Dortmund.
Seu reflexo em outras torcidas alemãs é incrível, seguiram seus
exemplos outras torcidas como as do Schalke 04, Kaiserlauntern e
Mainz.
Enfim, a ideologia no
seio do St. Pauli, tanto dos torcedores como da própria equipe, é o
antifascismo. Foram os primeiros a organizar partidas contra o
racismo, convidando imigrantes a participar. Até pouco tempo, a
torcida e a equipe protestaram contra a guerra dos EUA no Iraque,
levantando faixas com os dizeres: "FUCK THE WAR!".
Atualmente, o St. Pauli conta com dezenas de grupos organizados que
animam regularmente a equipe (todos eles antifascistas, claro!)
distribuídos entre a Curva Norte e a "Gegengerade", que é
a parte do estádio situada em frente à tribuna central. Todos eles
animam de pé os 90 minutos da partida. Seu lugar de encontro é o
?Fanlanden?, uma espécie de lugar clandestino onde se reúnem todas
as torcidas do St. Pauli, e onde se distribuem material do grupo e da
equipe, elaboram a fanzine, reúnem bandeiras, discutem futebol e
política e, naturalmente, tomam algumas cervejas. Também tem um
programa de rádio próprio onde retransmitem diretamente todas as
partidas que o St. Pauli joga fora de casa.Ficam aqui os mais sinceros parabéns
a torcida e o clube, pelo acesso conseguido e fazemos votos que
mantenham sua postura e atitude, que não façam concessões e muito menos abaixem a cabeça pra quem quer que seja por estarem
na primeira divisão e que continuem sendo mais uma "organização" da
luta anticapitalista nos tempos de hoje.
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