21 de junho de 2011

Brincadeira Tem Hora e Limite,Rafinha Bastos!

Entro no Twitter e me deparo com um link para a entrevista que a Rolling Stone fez com Rafinha Bastos – aquele cara de stand-up que o público brasileiro ama de paixão – e abro a página (ó o link aí: http://www.rollingstone.com.br/edicoes/56/textos/a-graca-de-um-herege/ )  já que no tweet alguém colocou aspas numa declaração que me deixou irritadíssmo. Lendo a entrevista, escrita por algum jornalista que notoriamente foi parcial (e com razão), fiquei puto da vida ao constatar que um cara de popularidade tão acentuada quanto esse comediante não tem noção do aspecto social que deve cumprir uma vez que tem um público tão amplo e tão jovem.

A pessoa que fez a entrevista com Bastos fora convidada a ver uma de suas apresentações. O show corria bem, com piadas sórdidas e preconceituosas, quando Rafinha soltou, “Só vejo mulher feia reclamar de ser estuprada… Elas não têm do que reclamar, deveriam encarar isso como uma oportunidade… O cara que estupra não merece ser preso, merece um abraço”. Segundo o relato do jornalista, o público recolheu suas risadas e pairou no ar um clima bem pesado, o repórter pôde ouvir uma mulher cochichar, “Que horror”, ao seu lado. (Rafinha Bastos, tu deu de falar merda agora? Me explica essa beiçada, se você for homem o bastante, ou melhor, entra num presídio bem lotado, onde os presos não toleram esse tipo de crime , e conta uma piada dessas, pra tu ver o que vai te acontecer!!) 

Após o show, Bastos e o jornalista teriam se dirigido a outro local para realizar a entrevista. Parece que o comediante havia ficado realmente incomodado pelo público não ter correspondido da maneira como esperava. Tentara se justificar, dizendo que é um cara polêmico e admitindo ser preconceituoso, acha que gordo é gordo por preguiça, que não faz piada para agradar todo mundo, que era da turma da bagunça no colégio e zoava quem dava “brecha”, que se acha fodão, assim como era seu pai e acrescentou que a piada do estupro costuma funcionar. Então, convidara o entrevistador para a próxima apresentação que iria fazer e repetira a piada. Daquela vez, para alívio de Bastos, todos tinham rido como se não houvesse amanhã. Na saída, cumprimentando o repórter, dissera, “Viu como a piada do estupro funciona?”, e tristemente foi comprovada a razão do comediante.

Não vou questionar os valores do Rafinha Bastos. Cada um tem seus próprios preconceitos. Ninguém está salvo de ser babaca. E também não estou aqui para dizer que ele deve parar de fazer suas piadas sobre gente obesa, órfãos, cadeirantes e outros. Todos têm direito de se sentirem tão ofendidos com as palavras dele quanto ele de ganhar dinheiro com humor negro – afinal, o público dele não é constituído só por homens, ricos, brancos, esbeltos, lindos, perfeitos e que só conhecem pessoas deste mesmo padrão, não é verdade? Consumidor sustenta o mercado e será assim sempre. Mas ainda acho que roubar dinheiro público ou ganhá-lo através da exploração da fé de pessoas humildes ainda é comparável ao lucro que alguns obtêm pregando a ignorância e cegueira social. O que eu quero questionar é a falta de consciência de um cidadão feito o Bastos. Ele, que muitas vezes aparece na mídia defendendo causas bacanas como a do #foraSarney, acrescentando que usa de sua popularidade para fortalecer a idéia, solta uma “piada” dessas com claro teor de apologia a um crime horrendo feito o estupro, mas nesse momento se esquece da forte influência que exerce sobre seus adoradores.

É claro que, neste caso, ninguém vai formar o “clã Rafinha Bastos” para sair na rua procurando mulheres “feias” para estuprar (coisa que vemos acontecendo com gente se juntando para bater em homossexuais, mas isso já é outro assunto), contudo, como é “a situação que cria o algoz”, um cara que vai praticar qualquer ato (ilícito ou lícito), em determinada ocasião, puxa de seu subconsciente todos os motivos que o justificam ou não.

Assim, o cara nunca vai admitir que estuprou alguém porque teve aval do Rafinha Bastos, porque não é bem isso mesmo, mas a consciência o permite quando acredita que uma “piada” dessas faz sentido. Preconceito social é que cria um indivíduo preconceituoso, como naquele caso em que alguns seres incendiaram um índio pensando que era um mendigo. Eles fizeram isso porque foram os criadores do preconceito contra moradores de rua? Pois é… Ninguém é tão criativo, muito menos os preconceituosos desse nível. Espero que essa sequência de analogias tenha sido inteligível e não confusa.

Na própria entrevista, Bastos revela um fato marcante sobre seu pai, que também fazia graças como o filho, e conta que, quando criança, fora ao zoológico onde havia cangurus que permaneciam imóveis. Ao questioná-lo do motivo que levava os animais a ficarem parados, ele respondeu ao filho que “era porque os cangurus só pulavam na Austrália”. Rafinha, que idolatrava o pai, disse que acreditou nisso até os vinte e poucos anos.

Só pra citar aqui: grupos minoritários quando se trata de poder (mulheres, negros, LGBT, indígenas, pobres, migrantes nordestinos nos grandes centros do Sul/Sudeste) são alvos constante de um certo tipo de humor duvidoso que privilegia o insulto, o preconceito, a humilhação.

Semana passada em entrevista à revista Rolling Stone Brasil Rafinha Bastos declarou que ‘mulheres feias’ deveriam agradecer caso fossem estupradas, afinal os estupradores estavam lhes fazendo ‘um favor’, uma ‘caridade’.

Hoje, mais uma vez, os ‘humoristas’ do CQC ocuparam as redes sociais e a mídia impressa. Desta vez com uma piada anti-semita feita por Danilo Gentili no twitter. Diante da reação nas redes e certamente da mobilização da comunidade judaica, Danilo Gentili não apenas apagou seu tweet anti-semita como pediu desculpas públicas à comunidade judaica. A ‘gracinha’ anti-semita de Danilo Gentili também gerou reação em cadeia de seus seguidores preconceituosos. É a geração CQC mostrando seu aprendizado ao insulto.

Embora não tenhamos tido o prazer de ver Danilo Gentili sequer pedir desculpas à população negra por suas piadas racistas (nem apagar seus respectivos tweets), não deixa de ser alentador o fato de ele ter de se render a uma comunidade organizada e com o poder de pressão como a judaica.

E quanto a Rafinha Bastos será que o veremos se retratar por suas piadas de mau gosto, ofensivas às mulheres e de apologia ao estupro? O mesmo, já conhecido por piadas comuns e preconceituosas, ataca agora com sua versão machista. Cansado de reproduzir chavões sobre gordos, carecas, deficientes, judeus e pagodeiros, o humorista achou que seria “engraçado” fazer apologia ao estupro. “Toda mulher que eu vejo na rua reclamando que foi estuprada é feia pra caralho. Tá reclamando do quê? Deveria dar graças a Deus. Isso pra você não foi um crime, e sim uma oportunidade”, esse é parte do texto apresentado por Rafinha em seu stand up.


O estupro é uma das formas mais graves de violência de gênero. Não é apenas a agressão física que incomoda, mas sim a opressão psicológica, a violação do corpo, do íntimo, a submissão e a humilhação que deixam marcas profundas nas vítimas. A piada, que para Rafinha Bastos parecia inovadora, é tão velha quanto nossa civilização. A ideia machista que nos ensina “não seja estuprada” em vez de “não estupre”, está enraizada em nossa sociedade e contribui para que a responsabilidade pela violência seja atribuída à vítima e não ao agressor. Justificar um estupro pelo tamanho da saia que a mulher usava ou pela natureza do homem, incapaz de controlar seus “instintos”, é cruel. Nada justifica ou miniminiza a violência sexual, independente da situação da mulher, ela continua sendo vítima da agressão.

Outra ideia comum é de que existem mulheres “estupráveis”. Em alguns casos o estupro é encarado como cortesia. É o que defende Rafinha Bastos: mulheres fora do padrão de beleza, solteironas ou lésbicas devem encarar a violência sexual como um favor.

Segundo dados do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas para a América Latina, 33% das mulheres entre 16 e 49 anos de idade já sofreram algum tipo de abuso sexual, e a cada 12 segundos uma mulher é violentada no Brasil. O estudo ainda revela que 70% dos casos ocorrem dentro de casa, onde os agressores são membros da família da vítima. Apesar dos números revelarem o tamanho do problema, o assunto não é debatido e mulheres ainda são silenciadas em meio a chacotas.

O humor inteligente deve questionar os padrões estabelecidos pela sociedade, trazer a tona a hipocrisia e os preconceitos existentes. Deve incitar a reflexão a cerca de temas importantes. Mas Rafinha Bastos, através do humor ofensivo, somente perpetua as ideias de uma sociedade conservadora. Insultar minorias, difundir preconceitos é o que a sociedade faz há milhares de anos. Não há nada de novo ou irreverente, somente a pobreza de conteúdo e a chatice das piadas velhas.
A Secretaria Especial de Políticas para Mulheres publicou ontem uma nota de repúdio às piadas de apologia ao estupro do Rafinha Bastos e, hoje, a Ouvidoria desta Secretaria oficiou o Ministério Público Federal por meio do Ofício nº 926/2011, entendendo que tais declarações fazem apologia ao crime de estupro.

Nota de repúdio às piadas de mau gosto do “humorista (aonde?)” Rafinha Bastos

http://www.sepm.gov.br/noticias/ultimas_noticias/2011/05/nota-de-repudio-as-piadas-de-mau-gosto-do-201chumorista201d-rafinha-bastos

A Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) vem a público manifestar sua indignação pela maneira como o “humorista” Rafinha Bastos, da TV Bandeirantes, faz piadas com os temas estupro, aborto, doenças e deficiência física. Segundo a edição desse mês da Revista Rolling Stone, durante seus shows de stand up, em São Paulo, ele insulta as mulheres ao contar anedotas sobre violência contra as mulheres.“Toda mulher que eu vejo na rua reclamando que foi estuprada é feia pra caralho. Tá reclamando do quê? Deveria dar graças a Deus. Isso pra você não foi um crime, e sim uma oportunidade. Homem que fez isso [estupro] não merece cadeia, merece um abraço”. Isso não é humor, é agressão gratuita, sem graça, dita como piada. É lamentável que uma pessoa – considerada pelo jornal The New York Times como a mais influente do mundo no twitter -, expresse posições tão irresponsáveis e preconceituosas. Estupro é crime hediondo e não requer, em nenhuma hipótese, abordagem jocosa e banalizada.

Vale lembrar que qualquer mulher forçada a atos sexuais, por meio de violência física ou ameaça, tem seus direitos violados. Não há diferenciação entre as vítimas e, tampouco, a gravidade e os danos deste crime diminuem de acordo com quaisquer circunstâncias da agressão. Assim, a SPM condena a banalização de tais preconceitos e, como organismo que visa, sobretudo, enfrentar a desigualdade para promover a igualdade entre os gêneros, a Secretaria repudia esse tipo de “humor” e qualquer forma de violação dos direitos das mulheres. Humor inteligente e transgressor não se faz com insultos e nem preconceitos. A sociedade não quer voltar à era da intolerância e, sim, dar um passo adiante.

Então, me pergunto, quantos jovens que idolatram Rafinha Bastos vão acreditar em muitas  coisas que o comediante diz até alta idade como verdades absolutas? E até fazer besteiras por causa disso?
 Sim, eu, tanto como homem quanto como ser humano, repudio o estupro, fecho com a mulherada do Slut Walk Brasil, ou Marcha das Vadias, como quieram os puritanos (www.slutwalkbrasil.blogspot.com), estou junto com todas as vítimas, familiares e amigos pela “piada” infame de Bastos. Incitação ao crime não deve ser encarada como humor, seu pé no saco difsfarçado de comediante!

O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) pediu abertura de inquérito policial contra o humorista Rafinha Bastos, do CQC (Band), para apurar uma suposta prática de incitação ao crime e de apologia ao estupro após as polêmicas declarações dele num show de stand-up comedy e reproduzidas na edição de maio da revista Rolling Stone brasileira.

Na ocasião, Bastos disse que "toda mulher que eu vejo na rua reclamando que foi estuprada é feia pra c... Tá reclamando do quê? Deveria dar graças a Deus". E foi além, dizendo que o homem "que cometeu o ato merecia um abraço, e não cadeia".

O pedido de inquérito foi feito pela promotora de Justiça Valéria Diez Scarance Fernandes, coordenadora do Núcleo de Combate à Violência Doméstica e Familiar de São Paulo. Ela encaminhou nesta quinta-feira (7) um ofício ao delegado-diretor do Departamento de Polícia Judiciária (DECAP), Carlos José Paschoal de Toledo, pedindo a abertura do inquérito contra o humorista.

No documento, Valéria diz que Rafinha compara publicamente o estupro a "uma oportunidade" para determinadas mulheres e o estuprador a um benfeitor, digno de “um abraço”. Em nota, a promotora se justificou:

- O estupro é um crime. O estuprador é um criminoso que deve ser punido e não publicamente incentivado.

A requisição de instauração de inquérito é resultado de representação feita à Promotoria de Justiça pela coordenadora do Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher, da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, Thais Helena Costa Nader.

Leia abaixo o desafio da presidente do Conselho Estadual da Condição Feminina a Bastos:


“Eu convido Rafinha Bastos a marcar uma hora comigo e as demais 32 integrantes do Conselho de Defesa da Condição Feminina para que ele entenda, exatamente, o que é um estupro”, disse Rosmary, presidente do Conselho, à reportagem. “A piada que ele fez continua repercutindo, o que é uma lástima. Rafinha extrapolou da condição de humorista, fez uma frase completamente inaceitável e nefasta”(nota do Boteco do Valente:Toma, Rafinha, pois quem gosta de caçar chifre na cabeça de cavalo, uma hora acha, e você achou bonitinho o seu, seu mané!).


Rosmary, que foi a primeira titular de uma delegacia da mulher no Brasil, há mais de 20 anos – hoje, só no estado de São Paulo existem 128 delas --, acredita que Rafinha não pode se recusar a aceitar. “Se ele tiver um mínimo de sensibilidade, virá até nós entender o estrago que fez com essa frase”, afirmou. “A violência contra a mulher está aumentando e, quando uma pessoa influente como ele faz esse tipo de coisa, só piora tudo”. A delegada lembrou que, tempos atrás, o Brasil não fazia parte das estatísticas mundiais de violência contra a mulher. “Mas, hoje, somos o décimo país com mais crimes desse tipo”.

Rosmary fez questão de passar, para o próprio Rafinha Bastos o endereço e telefone do Conselho Estadual da Condição Feminina para que Rafinha Bastos agende o encontro com ela e as 32 conselheiras. “Ele pode ligar para (11) 32 21 63 74 e falar com a minha secretária. Proponho o encontro aqui mesmo, na sede do Conselho, rua Antonio de Godoy, 122, 6º andar. Estamos esperando por ele”. É com você, Rafinha? Vai ser homem o bastante pra topar o desafio ou  vai se cagar todo de medo?

5 comentários:

Liriane Kampf disse...
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Anônimo disse...
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