Da Guerrilha Urbana de Guillén ao Não Pagamento de Impostos de Tolstoi:
Cinco Propostas de Anarquismo Prático
As idéias de Marcos e Abraham Guillen, Tolstoi, Debord e Jared James, apontam para cinco propostas, não excludentes entre si e facilmente compreensíveis (que não quer dizer simples) de anarquismo prático, de fazer uma revolução socialista libertária permanente.
Há 500 anos os radicais vem usando das mais variadas táticas na tentativa de debilitar ou destruir o capitalismo, como
-- a social democracia (ganhar o controle do aparato estatal através das eleições);
-- o leninismo (capturar o aparato estatal pela força das armas, como faz atualmente a FARC, por exemplo);
-- a guerrilha revolucionária de tipo clássico (levante armado das massas, tomada do poder, instauração do socialismo a partir de cima, muitas estátuas e nomes de heróis e mártires em qualquer lugar, purgações, etecetera, enfim, um mundo perfeito);
-- o sindicalismo (federações de camponeses, conselhos de soldados e operários);
-- as greves gerais;
-- as insurreições;
-- a desobediencia civil;
-- as campanhas específicas;
-- as manifestações (AGP, por exemplo);
-- as lutas ligadas a gênero, identidades raciais, sexuais, ou étnicas;
-- os boicotes;
-- o isolamento como indivíduo, pequeno grupo ou comunidade;
-- o ludismo;
-- as publicações; e
-- a educação.
Todas essas táticas fracassaram em seu intento maior de destruição do capitalismo. Embora algumas válidas como tentativa, muitas delas acabaram até mesmo provocando efeito contrário, reforçando ainda mais o sistema, além de desperdiçar inutilmente vidas, tempo e energia. Chegou o momento de repensar tudo isso.
Um estudo de autores distintos como o russo Tolstoi, o francês Debord, o espanhol Guillén, o estadunidense Jared James e o mexicano Marcos, revelará que eles acreditavam que o caminho mais efetivo e mais rápido para destruir o capitalismo estava não no FAZER ALGO, mas no NÃO FAZER NADA QUE, DIRETA OU INDIRETAMENTE, CONTRIBUISSE PARA ALIMENTAR OU MANTER O SISTEMA. Em outras palavras: o capitalismo seria destruído apenas NEGANDO-LHE nosso suor e nosso sangue.
Trata-se de coisas que podem ser praticadas a partir desse momento por qualquer um de nós enquanto indivíduos, famílias ou grupos pequenos. Elas não exigem que construamos vastas organizações nacionais ou internacionais. Elas não
requerem vastos recursos, guerrilheiros ferozes, ou uma coragem extraordinária. Elas não exigem negar ou sacrificar nossas vidas por uma causa ou se abster dos verdadeiros prazeres da vida:
1) A TÁTICA DE TOLSTOI:
a) recusar pagar impostos
b) recusar tomar parte no serviço militar
«Para livrar-se dos governos não é necessário lutar contra eles pelas formas exteriores (insignificantes até o ridículo diante dos meios de que dispõem os governos) é preciso únicamente não participar em nada, basta não sustentá-los e então cairão aniquilados. E para não participar em nada dos governos nem sustentá-los é preciso estar livre da fragilidade que arrasta os homens aos laços dos governos e que lhes fazem seus escravos ou seus cúmplices».
Vide http://www.reocities.com/projetoperiferia5/tolstoy.htm
2) A TÁTICA DE DEBORD:
«Emancipar-se das bases materiais da verdade invertida [não fazer absolutamente nada que contribua para manter o capitalismo vivo, nem uma palavra, nem um gesto, nem um centavo], eis no que consiste a auto-emancipacão da nossa época»
Vide «A Sociedade do Espetáculo» em http://www.reocities.com/projetoperiferia4/se.htm
3) A TÁTICA DE JARED JAMES:
a) Assembléia caseira (pequeno grupo que se reúne semanalmente na casa de alguém);
c) Assembléia por local de trabalho (os empregados de determinada empresa se reúnem semanalmente em algum lugar)
b) Assembléia das casas e/ou locais de trabalho (vários pequenos grupos reunidos no bairro em um local apropriado e suficientemente grande para recebê-los).
Vide «Projeto para Associações de Bairros Autônomos e Democráticos e Como Criá-los»,
Vide http://www.reocities.com/projetoperiferia/gettingfreept.htm
4) A TÁTICA DE GUILLEN.
Vide
a) -- Guillén, Abrahan 1977, Revalorización de la guerrilla urbana, México, A. Guillén & D. Hodges
b) -- Guillén, Abrahan 1978, Guerrilla 1, (en colaboración con otros autores), Barcelona, Ed. Hacer
c) -- Guillén, Abrahan 1973, Philosofhy of the urban guerrilla, The revolutionary writings of Abrahan Guillén, Por Donald C. Hodges, William Morow & Co, INC New York
d) -- Economía Libertária, (Alternativa para un mundo en crisis).
Abraham Guillen. Primera Edición, Fundación de Estudios Libertarios Anselmo Lorenzo. Bilbao 1988, 636 páginas.
e) -- Economía Autogestionária (Las bases del desarrollo económico de la sociedad libertaria). Abraham Guillen, 512 páginas. Edita Fundación Anselmo Lorenzo. Distribuye Madre Tierra.
f) -- Socialismo Libertário. Abraham Guillén. 581 páginas. 1990, Móstoles, Ediciones Madre Tierra
5) A TÁTICA DE MARCOS
«[...] Nós estávamos aprendendo e, imagino, esta sociedade civil, também. Nós aprendíamos a ouvir e a falar, do mesmo modo, imagino, que a sociedade civil. Também imagino que a aprendizagem foi menos árdua para nós. Afinal de contas esta havia sido a origem fundamental do EZLN: um grupo de “iluminados” que chega da cidade para “libertar” os explorados e que se depara com o fato de que, mais que “iluminados”, confrontados com a realidade das comunidades indígenas, parecíamos focos fundidos. Quanto tempo demoramos em dar-nos conta de que tínhamos que aprender a ouvir e, depois, a falar? Não tenho certeza, já passaram não poucas luas, mas calculo uns dois anos pelo menos. Ou seja, o que em 1984 era uma guerrilha revolucionária de tipo clássico (levante armado das massas, tomada do poder, instauração do socialismo a partir de cima, muitas estátuas e nomes de heróis e mártires em qualquer lugar, purgantes, etcetera, enfim, um mundo perfeito) por volta de 1986 já era um grupo armado, esmagadoramente indígena, ouvindo com atenção e balbuciando apenas suas primeiras palavras com um novo professor: os povos indígenas [...]
México, Julho de 2003.»
Vide http://www.ezln.org/
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