29 de abril de 2011

O Despotismo dos Deuses


1ª PARTE: BREVE PASSAGEM PELOS DEUSES E RELIGIÕES MAIS IMPORTANTES DA PRÉ-HISTÓRIA E ANTIGUIDADE OCIDENTAL

Engana-se quem pensa que somente os nossos espertíssimos contemporâneos usam os deuses como uma forma de conseguir poder, dinheiro e outras benesses. Na verdade os deuses sempre estiveram no imaginário do ser humano e sempre serviram para explicar coisas que eram ou são inexplicáveis. Deuses, também, sempre foram muitíssimo utilizados por uma pessoa, ou por um grupo, para dominação das massas, através de amedrontamento, submissão, exploração...

No período conhecido como pré-história, as primitivas comunidades gentílicas já possuíam deuses. Não na forma abstrata como estamos acostumados hoje. Na verdade o deus de uma comunidade podia ser uma pedra, uma planta, um animal, um raio, ou qualquer outra coisa. À frente da comunidade estava o nomarca ou pater ou patesi (o nome variava dependendo do contexto da comunidade) que além de ser juiz, chefe militar, chefe político(1) era também o líder religioso.

Foi depois da unificação do Egito que Menés se tornou, não o representante, mas a vivificação de Amon-Rá (mistura dos deuses do Alto e Baixo Egito). Uma grande jogada política de Menés que com a unificação dos deuses via mais facilidade em dominar o unificado Egito e manipular o povo.

Menés morreu e seus sucessores foram durante muitos anos a vivificação de Amon-Rá. O camponês era a peça fundamental desse modo de produção asiático, tributário ou palatino e além de produzir para sustentar o seu faraó era convocado para construir as gigantescas pirâmides. Esses imensos esforços e uma má condição de vida davam ao camponês uma existência muito curta. Vários achados arqueológicos constataram sérios problemas na coluna-vertebral das massas camponeses resultantes do esforço para carregar as imensas pedras que compõem as fantásticas pirâmides. O despótico atrelamento de política com religião foi a jogada responsável para tais monumentos serem erguidos.

Na Grécia Antiga, os deuses erravam como os humanos, possuíam desejos, inclusive sexuais, mas, não deixavam de ser extremamente superiores aos mortais. Os deuses chegavam a punir os seres que tentavam se equiparar a eles. Como exemplo pode ser citado o caso de Aracne, que por se achar tão boa bordadeira quanto a deusa Minerva foi transformada em aranha.

Em uma época em que o trabalho manual era visto como algo para seres inferiores, os deuses se dedicavam mais à atividades dignas da época. Eram deuses poetas, músicos, guerreiros. Somente o deus Vulcano(2) era responsável por trabalhos manuais no meio dos deuses. Confeccionava armas e outros objetos. Mas, devido a isso, era considerado um deus inferior aos outros e por alguns nem deus era considerado.

A morte na Grécia seguia o mesmo caminho. Bravos guerreiros, poetas, músicos e heróis rumavam para o paraíso conhecido como Campos Elísios, já os trabalhadores manuais iam parar no sombrio Hades.

Roma Antiga seguiu praticamente os mesmos padrões religiosos da Grécia. Os deuses eram iguais, só que com nomes diferentes. A religião era e ainda é algo que mexe tanto com as pessoas que o imperador romano Calígula achou ter se transformado no deus Apolo. Passava vários dias em orgias, nomeou seu cavalo Incitatus como cônsul e mandou arrancar a cabeça de todas as estátuas de deuses para pôr a sua.

O povo romano e os imperadores romanos eram extremamente religiosos, mas isso em momento algum significava que eram piedosos e caridosos. Tinham autorização dos seus deuses, inclusive, para brincar com a vida humana, como acontecia com os gladiadores. Uma das diversões favoritas da época era sentar-se comendo um pedaço de pão enquanto se assistia um leão faminto devorando um prisioneiro. É com a grande aceitação do cristianismo em Roma que essa prática perde a sua força.

2ª PARTE: ONIPOTENTE, ONICIENTE, ONIPRESENTE. PRA QUÊ?

Seria no Império Romano que ganharia força o cristianismo. O número de adeptos aumentava consideravelmente, mesmo quando a religião era proibida. Jesus Cristo tinha a mesma cruel morte de vários que já haviam perturbado o Império. Seria o cristianismo não só uma nova corrente espiritual, viria para ficar e se tornar a corrente espiritual mais forte e poderosa até os nossos dias, contribuiria não só para a junção de bárbaros e romanos, mas também para o surgimento de um novo período da história conhecido como Idade Medieval. Era a Igreja Católica, a instituição mais poderosa da Idade Feudal. Havia chegado o tempo de um único deus ser idolatrado, perdiam a força, no ocidente, as religiões politeístas.

Porém, até ganhar força total na Idade Média, o cristianismo percorreu um longo caminho. Conta a Bíblia que a primeira aliança de Javé (Aquele que é) com um homem, foi feita junto ao seu escolhido, o mesopotâmico Abraão, indicando-lhe o território da Palestina, onde surgiria um novo povo de onde sairia o salvador da humanidade.

Além de fazer a aliança com Abraão, Deus se apresentou como o Todo Poderoso e o Deus Único. Era ele o Deus da criação do mundo e que serviria para responder várias perguntas irrespondíveis aos homens, um dos motivos que fez a Igreja Católica conseguir tantos fiéis.

Ganhava espaço o Deus criador, imutável e infinito, como definiu Aurélio Agostinho. Todo poderoso Deus, criador dos céus e da terra. Criou plantas e animais, mas, mesmo com toda a sua onipotência precisou descansar no sétimo dia.

Criou os primeiros seres humanos à sua imagem e semelhança, mas, mesmo Deus sendo a perfeição, sua criação falhou e a criatura traiu seu criador cometendo o ato extremamente irreparável e cruel de comer um proibido fruto, contrariando as ordens divinas. Preferiram o caminho do mal, da tentação, de Satanás em forma de serpente que silvava a delícia do pecado. Era a segunda grande decepção do deus que escreve certo por linhas tortas, pois antes já havia tido ao seu lado o anjo Lúcifer, que tentou tirá-lo do poder. Só que Deus, vitorioso, lançou-o às trevas.

Carente e ditatorial, Deus ganhava espaço com o cristianismo, ordenava no seu primeiro mandamento: "Amem-me acima de todas as coisas". Porém, a cristandade, não seguia nem o primeiro, nem o segundo, nem vários outros mandamentos. Eram os primeiros a errar e a levar o terror para vários povos. Deus não era exatamente amor e saber como idealizou Aurélio Agostinho. Deus podia ser o ódio e a ignorância, quando a cruz estava acompanhada da espada.

Curioso o quarto mandamento que havia recebido Moisés: "Não matar". Como fugiriam do Egito se não fosse a morte de vários primogênitos? Mas, contradições podem ser esquecidas, pois se o Mar Vermelho se abriu e a Virgem ficou grávida, Deus deve ser mesmo maravilhoso. Celibatários padres podem hoje se considerar semi-deuses, pois conseguem fazer virgens freiras ficarem grávidas em conventos. Mais uma vez vêm as santas palavras de Aurélio Agostinho: "É melhor casar do que viver a fornicar".

A verdade é que o catolicismo muito se aproxima de outras religiões em alguns fatores, os cantos, por exemplo, são uma prova clara disso, uma adaptação da Igreja Católica para atrair fiéis, já que todas as religiões pagãs tinham música em seus cultos. Outra coisa que pode ser destacada no catolicismo é a presença de um único Deus, onipotente, mas, apoiada de várias outras figuras religiosas, como os santos, por exemplo. Se repararmos bem, essa mitologia cristã tem estórias fantásticas bastante similares às estórias mitológicas greco-romanas, como por exemplo o Santo Guerreiro que vence o dragão, o pequeno Davi que derruba o gigante Golias, Noé e o dilúvio e as parábolas.

Em pleno século XXI, os que pensam que Deus perdeu força se enganam, pois, a Igreja Católica sempre soube se adaptar para conseguir fiéis através dos tempos. Enquanto nas cidades temos hoje os padres extremamente musicais, saltitantes e aeróbicos, nas zonas rurais o Deus que impõe muito mais medo do que qualquer outro sentimento continua fazendo parte das vidas das pessoas que até se autoflagelam para conseguir suas indulgências. É a vez do deus do conformismo: "A vida é ruim porque Deus quis assim". "Um dia melhora, se Deus quiser". "Morreu, vai ter paz ao lado de Deus". "A gente vive mal, mas, tem gente que vive pior, temos que agradecer o pouco que temos a Deus". Assim vive o pobre, rezando diante da sua sopa de vegetais da caatinga para agradecer a refeição daquele dia. Enquanto isso Deus pai, todo poderoso, está sentado de braços cruzados nos céus, com Jesus, seu único filho, nascido da virgem Maria, ao seu lado direito exclamando: “Pai, tu não sabes o que fazes!”

(1)juiz, chefe militar e chefe político dentro das devidas proporções para a época

(2)como ficou conhecido em Latim

Obs.: Vários fatos e personagens descritos nesse texto não são comprovados historicamente.

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