23 de março de 2011

Má alimentação aumenta peso da população (Debate)

Pesquisa divulgada pelo Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) mostra que a fome e a desnutrição deixaram de ser grandes problemas para o brasileiro, que agora se preocupa com o excesso de peso.
Dados de 2006 mostram que 6,6% das crianças menores de 5 anos estão acima do peso ideal, enquanto apenas 2% apresentam déficit de peso em relação à altura. Em 1989, esse índice era de 7,8%.  Segundo o Ministério da Saúde, essa redução mostra que o Brasil atingiu as metas estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para o milênio: erradicar a fome e a pobreza extrema.
Entre adolescentes e adultos, o excesso de peso tornou-se uma preocupação ainda maior. Na faixa de idade entre 10 e 19 anos, 29% dos pesquisados estão acima do peso e 2,3% são obesos. Em indivíduos com mais de 20 anos, o excesso de peso atinge 41,1% da população e os obesos somam 8,9%. Por outro lado, apenas 2,8% estão abaixo do peso ideal.
Alguns dos fatores apontados como responsáveis pelas mudanças nesse cenário são a estabilidade econômica e os programas sociais voltados à população de baixa renda, como o Bolsa-Família. Essas medidas garantem que praticamente toda a população tenha acesso ao mínimo para que não passe fome. No entanto, será que essa população que agora tem poder de consumo está se alimentando bem? 

A Secretária Municipal do Bem-Estar Social em Bauru, Darlene Tendolo, diz que a erradicação da miséria é um fato consolidado na cidade e que ações conjuntas dos setores de Educação, Saúde e Assistência Social garantem que famílias em situação de vulnerabilidade se alimentem bem. “Todos os alimentos fornecidos para os serviços de emergência estão adequados às exigências do Conselho Municipal de Segurança Alimentar e todas as instituições vinculadas à Sebes possuem um cardápio submetido à avaliação de nutricionistas”, alega. Darlene explica que mesmo as famílias que recebem do governo auxílio em dinheiro são orientadas a priorizar a qualidade na alimentação e discernir os alimentos que fazem bem do que fazem mal à saúde. “Realizamos seminários e trabalhamos em parcerias com instituições como o Sesc, que tem o Programa Mesa Brasil, e o Sesi, que tem o Alimente-se Bem. As pessoas aprendem que podem se alimentar de forma saudável, gastando pouco”, afirma. Para ela , uma grande inimiga da alimentação saudável é a atuação intensa da publicidade de alimentos industrializados na mídia.
 “Quem não quer aquele chocolate, aquele salgadinho ou aquele refrigerante da televisão? Esses alimentos têm um poder de atração incrível pelo sabor, pela aparência e até pelas embalagens. Não temos como privar as crianças desses prazeres, mas é preciso moderação”, pondera.
 
Boteco do Valente responde: secretária Darlene, permita a nós do Boteco do Valente  fazer algumas colocações: um primeiro ponto diz respeito à qualidade dos alimentos e sua sanidade. Ou seja, todos devem ter acesso a alimentos de boa qualidade nutricional e que sejam isentos de componentes químicos que possam prejudicar a saúde humana. Estes dois elementos são da maior importância em um contexto atual que favorece o desbalanceamento nutricional das dietas alimentares, bem como o envenenamento dos alimentos, em nome de uma maior produtividade agrícola ou com a utilização de tecnologias cujos efeitos sobre a saúde humana permanecem desconhecidos.

Outro ponto refere-se ao respeito aos hábitos e à cultura alimentar. Exige-se aqui que se considere a dimensão do patrimônio cultural que está intrínseco nas preferências alimentares das comunidades locais e nas suas práticas de preparo e consumo. Pretende-se compreender e defender esta herança, que é passada de pais para filhos e que possui uma lógica associada às condições ambientais e sociais daquela comunidade, bem como de sua própria história. Não se quer dizer com isto que todos os hábitos alimentares são sempre saudáveis. É preciso haver um aprimoramento desses hábitos, quando necessário, mas sempre atento às características específicas desses grupos sociais.

Um terceiro ponto está na sustentabilidade do sistema alimentar. A segurança alimentar depende não apenas da existência de um sistema que garanta, presentemente, a produção, distribuição e consumo de alimentos em quantidade e qualidade adequadas, mas que também não venha a comprometer a mesma capacidade futura de produção, distribuição e consumo. Cresce a importância dessa condição frente aos atritos produzidos por modelos alimentares atuais, que colocam em risco a segurança alimentar no futuro.

Dentro da ótica aqui definida, pode-se afirmar que a segurança alimentar está regida por determinados princípios. O primeiro deles é que a segurança alimentar e a segurança nutricional são como “duas faces da mesma moeda”, não podendo se garantir uma delas sem que a outra também esteja garantida. O segundo princípio está no fato de que somente será assegurada a segurança alimentar e nutricional através de uma participação conjunta de governo e sociedade, sem que com isto se diluam os papéis específicos que cabe a cada parte. Por fim, é preciso que se considere o direito humano à alimentação como primordial, que antecede a qualquer outra situação, de natureza política ou econômica, pois é parte componente do direito à própria vida.

A questão alimentar mexe com interesses diversos e até contrários, o que faz com que a definição do significado da segurança alimentar se transforme em um espaço de disputa. Além do mais, não é um conceito já estabelecido, mas em construção. Visto sob estes dois aspectos fica clara a importância da elaboração de uma argumentação sólida, fundamentada nos princípios já enunciados e que se faz a partir de um debate amplo e ao mesmo tempo consistente.

Dentro dessa perspectiva propõe-se uma concepção que busca ser suficientemente abrangente para dar conta de todas as preocupações antes assinaladas e também intersetorial, ou seja, em que cada categoria trabalhada esteja em direta articulação com as demais, formando um conjunto que somente adquire seu sentido pleno, quando compreendido de uma forma integrada, ou seja, Segurança Alimentar e Nutricional é a garantia do direito de todos ao acesso a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente e de modo permanente, com base em práticas alimentares saudáveis e respeitando as características culturais de cada povo, manifestadas no ato de se alimentar. Esta condição não pode comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, nem sequer o sistema alimentar futuro, devendo se realizar em bases sustentáveis. É responsabilidade dos estados nacionais assegurarem este direito e devem fazê-lo em obrigatória articulação com a sociedade civil, dentro das formas possíveis para exercê-lo.

Falô, Darlene Tendolo?  Nós do Boteco do Valente, aguardamos sua resposta!

Nenhum comentário: