6 de março de 2011

Tucuruvi: ALMA NÃO TEM COR!

A polícia investiga oito e-mails recebidos pela escola de samba de São Paulo Acadêmicos do Tucuruvi. As mensagens ofensivas protestavam contra o samba-enredo da escola, que em 2011 homenageou merecidamente os nordestinos. As ameaças vieram por e-mail. Uma delas dizia "eu como paulistano tenho nojo dessa escola de samba e seu samba-enredo. Assim como vários paulistas e paulistanos repudio este enredo nojento e absurdo. Querem exaltar o Nordeste, desfilem por lá". Outro recado era mais violento: " vou dar um aviso: na primeira ameaça que alguém receber de qualquer verme dessa escola de samba, a coisa vai ficar preta".

A Acadêmicos do Tucuruvi foi uma das 14 escolas de samba que desfilaram pelo Grupo Especial do Carnaval de São Paulo. O samba-enredo desse ano foi "Oxente. O que seria da gente sem essa gente. São Paulo, a capital do Nordeste". Três dos oito e-mails foram recebidos por esses dias. A diretoria da escola registrou um boletim de ocorrência. O caso está sendo investigado pela Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância. 

Será que ainda hoje, essa meia dúzia de foruxos não se deu conta que que se não fosse o Nordeste, nosso estado, e por que não o Brasil, não teria se desenvolvido, e pior, em um país aonde até mesmo tivemos um nordestino, e recentemente, uma mulher, como presidentes da República?  Isso é completamente inadmissível! Um verdadeiro retrocesso! Observem que o zé mané diz ter nojo por ser paulistano, talvez não o tivesse se ele fosse goiano ou gaúcho, donde se deduz que esse luminar da sabedoria humana restringe apenas aos abençoados nascidos em solo paulista a exclusividade do saber, da cultura, da riqueza e da diversão, ou seja, o mundo não pode existir se tudo não for uma exaltação à São Paulo. Talvez quem sabe ele faça uma exceção aos Estados Unidos da América do Norte, com quem ele deve estar acostumado a falar fininho e manso, né, seu bunda-mole?

Triste e paradoxal esse nosso mundo. Nos dias atuais em que tantos esforços se fazem na busca de soluções que caminhem na direção do justo usufruto da vida, das benesses da natureza, justo quando mais se discute meios de preservar o planeta, exatamente por que cada vez mais se entende que tudo que existe por aqui além de vital é de direito de todos, ainda existem idiotas desse naipe - e que não são poucos - que não param de olhar para os próprios umbigos a julgarem-se o centro do universo. É de dar dó. Nunca sairão de seus quintais, por medo de descobrirem que o Brasil e o mundo podem perfeitamente funcionar sem São Paulo. Aliás podem funcionar não, funcionam de verdade!
   
É preciso respeitar o nordeste e principalmente os nordestinos, que sofrem pela falta de política de governo apta a alavancar o crescimento e industrialização na região nordeste. É a região brasileira que possui o maior número de estados em total de nove: Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Piauí, Pernambuco (incluindo o Distrito Estadual de Fernando de Noronha e o Arquipélago de São Pedro e São Paulo), Rio Grande do Norte (incluindo a Reserva Biológica Marinha do Atol das Rocas) e Sergipe. Na verdade, o nordeste é responsável pelo destino do Brasil há vários anos. Em 1930 foi com ajuda do Estado da Paraíba, que a região Sul iniciou luta para acabar com a política "café com leite", que trazia péssimo revezamento na Presidência da República de Políticos de São Paulo e Minas Gerais. Recentemente, foi graças à gloriosa mão-de-obra nordestina que a nova Capital Federal, foi construída a tempo de ser inaugurada pelo Presidente Juscelino.

Ledo engano do imbecil que mandou esses e-mails para o pessoal da Tucuruvi, em achar que o Nordeste é feito por vagabundos ou alienados, e que todos os nordestinos são cadastrados nos programas sociais do Governo Federal, que contam com participação de todos.

O Nordeste conta com vários ministros funcionando perante dos Tribunais Superiores, bem assim, são inúmeros os Ministros de Estado de origem nordestina, que decidem os rumos do Brasil diariamente.

É preciso lembrar que o Nordeste vem decidindo as eleições há muitos anos, queiram ou não queiram os xenofóbicos. Em geral o nordeste desde 1989 vem traçando o destindo das eleições presidenciais, seja de forma acertada ou não, esse fato é a realidade intangível, fora o fato de que vários nomes da música, do humor, além de  muitos times, como Sport Recife, ASA de Arapiraca, Comercial do Piauí, Corinthians Alagoano ,Bahia, só pra citar alguns, que defendem essa tão querida região, em vários campeonatos de futebol e conquistam fãs até mesmo fora do Nordeste, que nem são nascidos lá, mas que apreciam um bom futebol,  enfim, de vários ramos que enaltecem o nosso país, saíram e até hoje saem de lá, alegrando  e emocionando milhares de corações brasileiros.

E tem mais: "O sertanejo (nordestino) é, antes de tudo, um forte", já escrevia o fluminense Euclides da Cunha no seu clássico Os Sertões. No dia 08 de outubro é comemorado o Dia do Nordestino, sinal de uma resposta positiva aos inúmeros preconceitos que essa população sofre ainda no chamado Sul maravilha. Outro dado é que só tem dia quem precisa se afirmar na sociedade perante uma discriminação, veja o exemplo das mulheres, negros e LGBTs.. 


Com uma região que sofre com constantes secas, uma oligarquia opressora e sem muitas condições de cidadania, os nordestinos perceberam melhores oportunidades de trabalho na região Sudeste, desde o século 19, o mesmo período que migraram para o Norte no chamado ciclo da borracha. Quem nunca, pelo menos uma vez em sua vida, ouviu e não se comoveu com as histórias de milhares de nordestinos que migraram e foram uma espécie de mão de obra barata para a classe média de São Paulo e Rio de Janeiro? De origem pobre e, em geral, analfabetos, eles foram logo alvo de preconceitos. "Pau de arara", "risca faca", "paraíba", "cangaceiro", "vagabundo","preguiçoso",  "cabeça chata" são alguns dos termos pejorativos usados para apontar e menosprezar esses migrantes que no fim, acabaram construíndo todas as maravilhas do Sudeste.

Mesmo com a migração nas últimas décadas para o Sul ser de nordestinos de classe média, ainda encontram manifestações radicais contra a presença dos nordestinos, como o recente manifesto lançado em 2010, São Paulo para os Paulistas. Escrito por universitários, ele começa: "Quantas vezes você, paulista, presenciou cenas de desrespeito praticado por migrantes? Invadirem espaços, agirem como se estivessem em sua terra. Imporem sua cultura e costumes à nossa vontade. Inundam nosso estado, exigem serviços, põem-se de 'vítimas', apagam nossa identidade. Assim somos desrespeitados. E dentro da nossa terra"!

O mais triste, por uma questão de bairrismo, é o não reconhecimento dos valores e da rica cultura que os nordestinos só acrescentaram e acrescentarão a esse calderão miscigenado chamado Brasil. Triste exemplo de tal pessoa, que desagradável e criminosamente discriminou os nordestinos, devendo ser punida exemplarmente para que fique de lição. Seguem aqui a letra e a sinopse de tão maravilhoso samba:

Oxente, o que seria da gente sem essa gente? - São Paulo - capital do Nordeste!

A Tucuruvi voltará ao Anhembi para falar sobre o povo nordestino e a maior capital do Nordeste, a cidade de São Paulo. E promete levantar poeira no sambódromo ao ritmo do forró. O carnavalesco Wagner Santos irá mostrar os anônimos migrantes nordestinos que entram nos limites da cidade a cada minuto e vivem entre a expectativa de desengano na metrópole e a esperança de uma vida melhor.
E a esperança e o desafio é que movem esse valente povo do nordeste e, também, a nossa cidade grande. São atraídos e guiados pelo sonho de um Eldorado, se lançam na aventura da busca de um lugar ao sol. Um povo alegre, festeiro e trabalhador que têm o sonho de ser reconhecido e homenageado na cidade que ajudaram a construir. Sonhos, desilusões e realizações, estão presentes nos tijolos desta grande metrópole que pelos nordestinos é chamado carinhosamente de São Paulo a Capital do Nordeste.

A escola já adianta que o enredo não terá espaço para críticas ou preconceitos, mas será um agradecimento ao povo nordestino, que muito contribuiu para o crescimento e desenvolvimento econômico, cultural e social da nossa querida São Paulo. Em uma visão carnavalesca: A magia da esperança e do arrojo do migrante aventureiro que supera as dificuldades para conhecer e conquistar outras terras, seu fascínio e encantamentos pela descoberta de novas paisagens, descobrir a diversidade cultural de nosso povo, sua vontade de vencer na vida, superando sua saudade da terra natal.

O enredo tratará dessa mistura de sonho e realidade: uma São Paulo nordestina do cinza do concreto duro, das cores fortes e vibrantes, a presença da medicina popular, danças, festas, personagens, ritmos, religiosidade e culinária do povo nordestino. Procurando manter vivas as diversas manifestações folclóricas e culturais (Mitologia, Lendas e Cancioneiro), que faz a história de um povo valente e guerreiro, hoje já integrado a sociedade paulistana. E, apesar de tudo a vida é uma festa. O migrante nordestino em São Paulo, quer assumir a sua cultura e manter acesa a alegria de viver na cidade grande.
Tudo isto regado a muita alegria; aliás, uma das grandes qualidades do nordestino é que em seu rosto sempre há um espaço para expressar a sua gratidão à alegria de viver.
No desfile no Anhembi, a  escola irá mostrar a reação de um grupo de migrantes nordestinos, chegando a Rodoviária de São Paulo, sua realidade (Terra seca, mas boa), sua gente, seu primeiro contato com a cidade grande e a hesitação diante das novas imagens da atração em terras de hábitos e cultura diversas (São Paulo). A Tucuruvi chegou e promete que o Forró vai levantar a poeira no Anhembi!


Sou cabra da peste, vim lá do Nordeste
São Paulo é minha capital
Levando alegria, eu vou por aí
Eu sou valente, sou Tucuruvi!
Vou embarcar nessa aventura
Em busca de um lugar ao sol
Trago no peito desafio e esperança
Na bagagem a lembrança,
Sonho ou realidade.
Vou construindo ilusão,
Erguendo os pilares da cidade,
Deixando marcas da minha tradição
Ao som do tambor, a fé em louvor, religião
“Oxente” festeira, acende a fogueira, é São João
Vem, vem provar
O sabor que vem de lá
Esse gosto, esse tempero
É de fato brasileiro.
Da sanfona um acorde tocou forte o coração
Olha o povo dançando pra lá,
Arrastando a sandália pra cá,
O forró ta danado de bom
Um sorriso é a moldura do meu traço cultural
Quando a gente se encontra, a mistura é natural.
Carrego na alma a bravura,e o orgulho de ser quem eu sou
Vai, meu samba, reconhece o meu valor!

E só pra lembrar reproduzo aqui uma letra do grande André Abujamra:

ALMA NÃO TEM COR
Alma não tem cor
Por que eu sou branco?
Alma não tem cor
Por que eu sou negro?
Branquinho
Neguinho
Branco negão
Percebam que a alma não tem cor
Ela é colorida
Ela é multicolor
Azul amarelo
Verde verdinho marrom 

E pra sintetizar tudo isso que eu disse , segue aqui o discurso histórico de Martin Luther King:

"E eu lhes digo meus amigos: apesar das dificuldades que enfrentamos hoje e amanhã, eu ainda tenho um sonho. É um sonho enraizado no sonho americano. Eu tenho um sonho de que um dia esta nação se levantará e dará testemunho do verdadeiro significado do sua crença; nós conservamos estas verdades para que fique auto-evidente: que todos os homens foram criados iguais.

Eu tenho um sonho, que um dia sobre as colinas vermelhas da Geórgia os antigos donos de escravos serão capazes de assentarem-se juntos à mesa da irmandade. Eu tenho um sonho que um dia, mesmo o estado do Mississipi, sufocado pelo calor da injustiça, sufocado com o calor da opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça.
 

Eu tenho um sonho: Que um dia esta nação se porá de pé e viverá o verdadeiro significado de sua crença: Nós conservamos esta verdade para ser auto-declarada, que todos os homens foram criados iguais. Eu tenho um sonho, e nele, meus quatro filhos pequenos viverão em uma nação em que não mais serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo de seus caráteres."
 

Eu tenho um sonho hoje. Eu tenho um sonho de que um dia lá embaixo no Alabama com seus vícios racistas, com seu governador tendo em seus lábios palavras de interposição e nulificação, um dia bem ali no Alabama, os garotinhos negros e menininhas negras serão capazes de andar de mãos dadas com os garotinhos brancos e menininhas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho hoje este sonho.

Esta esperança é nossa esperança. É com esta fé que eu me volto para o Sul. É com esta fé que nós seremos capazes de transformar a montanha do desespero em uma pedra de esperança. Com esta fé nós seremos capazes de trabalhar juntos, lutar juntos, para juntos ficarmos de pé pela liberdade, sabendo que um dia, nós seremos livres"
"Deixe a liberdade ressoar. Nos cumes das colinas prodigiosas do Novo Hampshire, deixe a liberdade ressoar. Nas montanhas poderosas de Nova York, deixe a liberdade ressoar. Nas elevações dos Alleghenies da Pensilvânia, deixe a liberdade ressoar. Mas não só isto; deixe a liberdade ressoar no Monte Stone da Geórgia. Deixe a liberdade ressoar em cada colina e até nos montículos de terra das toupeiras do Mississippi.

E quando isto acontecer, quando nós a deixarmos ressoar, vamos nos apressar para aquele dia quando nós, todos os filhos de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e pagãos, protestantes e católicos, seremos capazes de nos dar as mãos e cantar as palavras do velho negro espiritual:
 
"Livre por fim, livre por fim / Graças ao Todo-Poderoso Deus / Por fim eu estou livre."

Registramos aqui o sentimento de repúdio, indignação e total desprezo, e por que não dizer, nojo, ojeriza, entre vários outros termos apropriados para tal ocasião,  do Boteco do Valente, um blog feito por um paulista de nascimento, mas que é um grande fã do Nordeste,  pelos atos criminosos de discriminação a tão guerreiro povo.

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