Um levantamento minucioso feito pela vereadora Chiara Ranieri (DEM) e sua assessoria comprovou em números uma realidade já conhecida por todos: a baixa participação de mulheres na política partidária e a discrepância no desempenho eleitoral de candidatas do sexo feminino. Apesar de alguns avanços, os dados apresentados na cartilha elaborada pela parlamentar mostram que o tema é um desafio para os partidos nas próximas eleições.
Isso porque a lei 12.034 de 2009 obriga que as coligações partidárias preencham a cota mínima de 30% de candidatas do sexo feminino nas disputas proporcionais. Antes disso, essa porcentagem era apenas reservada às mulheres. No entanto, nas eleições de 2008, apenas uma das 10 das composições partidárias conseguiu alcançar o índice, mas, mesmo nesse caso, o número de votos aos candidatos do sexo masculino foi quase oito vezes maior.
No total dos 150.075 votos dirigidos a algum dos 223 candidatos à uma cadeira da Câmara Municipal no último pleito, apenas 17.062 foram recebidos por mulher, aproximadamente 11,4%. A baixa quantidade de votos às candidatas é ainda mais acentuada quando comparada com a porcentagem de candidatas, que foi de 23,3%. Ou seja, se não bastasse a pouca participação nas coligações, as mulheres recebem votações inferiores proporcionalmente.
O trabalho realizado pela vereadora Chiara detalhou o número de candidatos e de votos recebidos por homens e mulheres de todas as coligações proporcionais do último pleito. A aliança formada por PSDB e PT do B teve a maior participação de mulheres na chapa. As candidatas foram 10 contra 22 do sexo masculino. O ex-sexo frágil, porém, recebeu apenas 2.883 votos dos 22.457 destinados à coligação.
Por outro lado, apesar de contar com apenas sete candidatas mulheres de um total de 29, a coligação DEM/PTC conseguiu alcançar bons resultados, elegendo a única parlamentar do Legislativo bauruense, justamente a vereadora que organizou os dados referentes ao desempenho feminino nas eleições municipais. A média de votos por candidata entre as mulheres do DEM/PTC foi de 672, contra 338,5 da média das candidatas de todas as coligações. Considerando apenas os homens, esse número chega a 777,8.
O nanico PHS, porém, foi o único partido político que obteve mais votos entre as candidatas mulheres. Elas eram duas e somaram 622 votos, enquanto os cinco candidatos do sexo masculino obtiveram 422. A aliança entre PSB e PC do B também se destacou entre as demais em relação ao número de mulheres na chapa: foram nove de um total de 31, chegando perto dos 30%.
Entre as chapas com menor participação feminina está a forma por PPS e PSDC. Dos 21 candidatos da coligação, apenas duas eram mulheres. PSOL/PSTU não concorreram com candidatas e apresentaram apenas três homens para concorrer a uma vaga na Câmara Municipal.
Chiara Ranieri (DEM), responsável pela elaboração da cartilha com os dados sobre a votação das mulheres nas últimas eleições, acredita que os acontecimentos negativos, referentes à corrupção, associados à política partidária afastam as mulheres das filiações e das candidaturas a cargos públicos. “Realmente tudo o que vimos por aí é desanimador, mas não podemos deixar que isso afaste as pessoas”.
Única parlamentar do sexo feminino em Bauru, a vereadora pontua que as mulheres somam 51% do eleitorado no País, mas a representatividade política feminina não chega perto disso também em razão da falta de incentivos a um engajamento maior das mulheres no cenário.
Com o objetivo de tentar reverter a situação, Chiara Ranieri organizou, no último mês, uma reunião com mulheres para discutir o tema. “Essa é uma iniciativa apartidária. Convidamos mulheres que não são filiadas ao DEM e outras que não são filiadas a qualquer outra sigla. A gente quer discutir e estimular uma participação maior no processo eleitoral”, explica
A vereadora argumenta ainda que os partidos políticos não querem e não podem dar mais espaço às mulheres nas chapas proporcionais com o único objetivo de preencher as cotas. Isso porque as próprias coligações seriam prejudicadas por uma possível baixa votação por parte do sexo feminino. De acordo com a legislação eleitoral vigente, quanto mais votos somados um partido ou uma coligação obtiver, mais vagas no Legislativo poderá alcançar. Na última eleição municipal em Bauru, os grupos políticos precisavam atingir 10.963 votos para garantir uma cadeira na Câmara. Esse número é chamado de coeficiente eleitoral e é obtido através da divisão do total de votos válidos pelo número de vagas do parlamento.
Outra liderança política do sexo feminino de Bauru é a vice-prefeita Estela Almagro. Ela foi a única mulher a fazer parte das chapas majoritárias que disputaram a Prefeitura de Bauru em 2008 e acredita que o sucesso da candidatura junto a Rodrigo Agostinho (PMDB) deva tornar a presença de mulheres se torne uma tendência para o pleito do ano que vem.
De acordo com a vice-prefeita, a presença de mulheres candidatas sempre foi uma preocupação de seu partido, mesmo antes da legislação das cotas. No entanto, a aliança do PT com o PMDB e PR, em 2008, contou com apenas cinco representantes do sexo feminino no total de 24 representantes da coligação. “Muitas mulheres optam pela militância fora do partido, seja no movimento sindical e, principalmente, nas lideranças de bairros, pois lidam com diretamente com problemas do dia a dia, enfrentando a falta de vagas de creche ou a demora para o atendimento no posto de saúde”, exemplifica.
No entanto, Estela admite que o tema está na pauta do partido para as eleições do ano que vem e atribui a questões culturais o distanciamento das mulheres da política partidária. “Quando eu entrei no diretório estadual do PT, meu filho tinha dois meses de idade e muita gente me aconselhou a me desligar. O papel da mulher na família e essa santificação da mãe e da esposa são responsáveis por isso. Os avanços estão acontecendo, mas ainda vai demorar para chegarmos à situação ideal”, opina.
A vice-prefeita, porém, destaca a importância de que os partidos políticos abram mais espaço para a participação das mulheres e invistam, inclusive com recursos, em suas candidaturas. Estela acredita que houve uma má interpretação da lei de cotas para a participação de mulheres nas chapas proporcionais por parte das siglas.20
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