17 de agosto de 2011

Desemprego: Uma Ferramenta Estratégica Para o Lucro das Empresas

Conseguir emprego aqui em Bauru não é uma tarefa nada fácil. Já não bastasse a má educação que o Estado fornece e a falta completa de estrutura para a formação profissional daquele que não tem como arcar com os custos de sua educação, o desemprego é uma arma que a elite utiliza para que possa haver mão-de-obra barata. O trabalhador é um produto em oferta no mercado, no entanto, as oportunidades são escassas.

Vamos pensar num produto com pouca oferta, mas com a demanda em alta. Esse produto terá um valor elevado. Leva-o quem puder comprar. Por exemplo, um produto de tecnologia de ponta ou um trabalhador com as maiores qualificações possíveis dentro de um setor industrial. Com certeza são produtos difíceis de serem encontrados em grande quantidade, mas que todos gostariam de possuir. Sabe o empresário que ele deve procurar os nichos para que seus produtos possam atender o gosto dos seus clientes. As vontades individuais daqueles que possuem dinheiro são atendidas pelo mercado, pois, podem pagar pelo produto que eles querem. Os trabalhadores produzem, assim, não aquilo que é necessário a sociedade, mas aquilo que o mercado impõe, aquilo que um indivíduo de classe alta deseja e pode pagar (uma Mercedes ou um Volvo, por exemplo), um desejo imposto pela ideologia elitista que, por sua vez, atinge as classes mais pobres que apenas podem ficar no desejo. É com os meios de comunicação de "massa" que a elite cria uma ilusão pregando a sua ideologia.

Existem as empresas que utilizam a estratégia do "marketing de massa"(1) como utilizou Henry Ford no Ford-T, que servem para atender um tipo padrão de consumidor; e existem as empresas que utilizam o marketing de nicho(2) que é uma estratégia voltada para um grupo de consumidores com um poder elevado de compra que deseja ter seus interesses atendidos. Há outros tipos de estratégias mais específicos, mas que não interessam ser analisados nesse momento.

Para Adam Smith "o verdadeiro preço de alguma coisa é o trabalho e a dificuldade para adquirí-la"(3). Ou seja, o mercado em função dos nichos que oferecem um maior poder de compra e desejam maiores vantagens. Já com as teorias de Keynes os trabalhadores também precisam consumir aquilo que suas empresas vendem, ou seja, o Estado era o único capaz de regular a economia possibilitando o aumento da demanda para os produtos. Isso, na verdade, apenas mudou a forma com que as empresas obtiveram os lucros. Em vez de lucrar com a venda direta do produto, onde tinha-se uma larga produção para pouca demanda, as empresas hoje lucram a partir dos investimentos, são lucros a longo prazo que possibilitam um maior consumo. As facilidades de pagamento, como o parcelamento, ou os empréstimos públicos são formas de lucro em longo prazo. Hoje, tem-se claramente o Executivo local aplicando leis que possibilitem que as empresas invistam dinheiro sem que ela perca o lucro. Mas nada disso beneficia realmente o trabalhador. Mas sim, cria-se uma ilusão de que ele pode consumir.

Agora, imaginemos um produto que poucos procuram, mas que está em abundância no mercado. O seu valor será baixo, pois, haverá muita oferta para um espaço miúdo dentro das mais diversas segmentações mercadológicas. E quanto maior for a concorrência, mais baixo será o seu valor. Por exemplo, quanto mais pessoas pobres existirem mais elas serão aptas para trabalhos que não exigem tanta especialização para a sua execução, pois, não tendo capital para montar o seu negócio ou para investir em sua formação, essas pessoas acabam tendo que vender a sua força de trabalho aos empresários. Assim, aumenta-se a concorrência entre os trabalhadores abaixando o seu valor. A questão é que há alguém ditando as regras: os grandes empresários.

Um pão, um leite, um ovo são produtos importantes para o trabalhador bauruense e são vendidos em mercearias. Mas, não interessa às grandes redes de supermercados perder clientes para pequenos proprietários, e por isso, usufruindo-se de boa infra-estrutura, suas ofertas e qualidade de serviços se tornam mais atraentes à maioria dos consumidores. Essas grandes empresas acabam se beneficiando, pois, possuem melhores condições para investir.

Mas quem define o valor? O pão, por exemplo, não pode ser tão barato porque as empresas precisam lucrar e todos os consumidores necessitam deste produto, portanto, estará sempre sendo produzido e com alto consumo. Somente terá o seu valor diminuído quando for favorável a economia (queda de demanda, excesso de produção, queda do dólar etc.). Já o trabalhador precisa ser o mais barato possível porque os empregadores contratam para poucas vagas. Ou seja, os empresários, com o Estado intermediando as relações, é que definirão o valor dos produtos.

O desemprego em grande número é o que possibilita o baixo salário do trabalhador. A participação do poder público na economia é fundamental nesse processo para que permita um bom mercado para as empresas, mantendo um alto nível de desemprego e controlando os níveis dos preços dos produtos para evitar uma crise. Se uma empresa com poucas concorrentes ou sendo única no mercado que produz produtos de grande importância para a vida atual (esponjas de aço como as da Bombril, que até pouco tempo era uma empresa quase sem concorrentes, ou microcomputadores, por exemplo) vender seus produtos com um valor excessivamente alto, poderá provocar uma crise atingindo outros setores da economia.

O pleno emprego sugerido por Keynes na verdade era uma forma de superar a recessão nos países altamente industrializados, mas que não impedia novas recessões causando então mais desemprego e, sobretudo, favorecia o aumento da exploração desses países aos países subdesenvolvidos, pois, aqueles necessitam exportar mais do que importar para fortalecer a economia nacional.

Vivemos numa sociedade com um alto índice de desigualdade. Com isso, as oportunidades serão mínimas, os trabalhadores terão menores qualificações para cargos que exigem funções mais específicas e, portanto, aumenta-se a mão-de-obra barata para cargos onde a exploração é maior, pois são serviços que exigem muito do esforço físico e do tempo de produção. Como a procura por emprego é muito alta e a sobrevivência do trabalhador fala mais alto, as condições impostas pelos empresários de nossa cidade deverão ser aceitas.

- João - informou o patrão ao seu funcionário - eu sei que você entende é de contabilidade, mas, por motivos de economia, tivemos que demitir o nosso boy. Você poderia cumprir essa função também?

- Sou obrigado a aceitar? - respirou fundo e continuou - Não há outro jeito de resolvermos esse problema?

- Se você não aceitar, meu amigo, terei de contratar outro que aceite, e você sabe que a fila para o seu cargo é bem grande - respondeu mostrando-lhe os classificados.

- Não há outro jeito, né?

- Infelizmente não!

O trabalhador, dentro de nossa cidade, não passa de um produto móvel que se enquadra no exemplo de produto de alta oferta e pouca procura, tendo então, o seu valor baixo, e que deve seguir as regras do mercado impostas pelos patrões. Com tantos desempregados por aí a oferta se torna muito alta favorecendo ao empregador pagar um salário que não comprometa os seus lucros, e exigindo diversas atribuições ao empregado que estará sob suas ordens. Quanto menos o empresário puder pagar, mas ele o fará. Independente se for bom ou ruim, para o empregado o que importa é o lucro do patrão.

NOTAS:

(1) KOTLER, Philip. Administração de Marketing. 2000. Pg 278.

(2) Idem.

Pg 279.

(3) Idem. Pg 57.

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