12 de agosto de 2011

A CRISTANDADE SEM RELIGIÃO

Para o teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer, executado numa prisão nazista durante a 2a.Guerra Mundial, a palavra religião perdera de tal forma sua dignidade humana, que não teve outra escolha a não ser formular a proposição da "cristandade sem religião" como algo necessário para o homem maduro, o homem "que atingiu a maioridade". As implicações sociais e políticas não só do pensamento de Bonhoeffer, mas de sua própria vida, ao mesmo tempo que assusta e afasta aqueles que tem sua igreja na mesma conta que seu clube, por outro lado entusiasma e aproxima cristãos sinceros de todo mundo.

Imagine um pregador, bradando com todo o fervor de sua fé: "A religião impede a libertação do homem!"Loucura? Então imagine um homem profundamente religioso, mas que veio a perceber numa prisão nazista, pouco antes de sua execução, que a religião poderia ser um sério impedimento à libertação do homem, além de se constituir em um obstáculo importante àquela solidariedade total com a humanidade, que Jesus tanto apoiava.


Estamos falando de Dietrich Bonhoeffer, um dos maiores expoentes da moderna teologia cristã, que morreu como um conspirador político, cúmplice num plano de assassinar Adolf Hitler.

Para Bonhoeffer, a palavra religião perdera de tal forma sua dignidade humana, que não teve outra escolha a não ser formular a proposição da "cristandade sem religião" como algo necessário para o homem maduro, o homem "que atingiu a maioridade". As implicações sociais e políticas não só do pensamento de Bonhoeffer, mas de sua própria vida, ao mesmo tempo que assusta e afasta aqueles que tem sua igreja na mesma conta que seu clube, por outro lado entusiasma e aproxima cristãos sinceros de todo mundo que anseiam pela construção do Reino de Deus manifesto na oração de Jesus: "... venha o teu Reino..." aqui e agora, na Terra.

Assim como Abraham Ficher que passou grande parte de sua vida em prisões da África do Sul pela sua luta contra o aparthaid, Bonhoeffer não morreu como um mártir "religioso", insistindo na pureza da religião e na inviolabilidade da Igreja.

Não seria exagerado supor que, neste ponto, ele estava muito mais próximo dos anarquistas, os quais, conscientemente ou não, historicamente vêm assumindo o papel do "bom samaritano" da parábola, enquanto que a maioria dos cristãos abraça o odiento papel do "religioso que passou ao largo", aquele que, quando não faz vista grossa, apóia descaradamente o massacre de inocentes. Por essas e outras, não é de estranhar que as primeiras vítimas do terror nazista tenham sido os anarquistas. Os bombardeios sobre os republicanos que lutavam contra Franco, apenas deram prosseguimento, na Espanha, a um processo iniciado na Alemanha de Hitler contra os ideais libertários. Seu martírio começou antes mesmo do dos judeus.

Enquanto a barbárie nazista prosseguia a olhos vistos por toda a Europa, a Igreja guardava um silêncio sepulcral frente a toda essa perseguição. Nem um dedo foi movido. Muitos dos silenciosos cristãos baixaram a cabeça. Tudo ficava por isso mesmo, o que, de qualquer forma, é vergonhoso. E o que é pior, segundo os termos da tradição cristã, a Igreja "passou-se para o outro lado".

Quem quer que acredite que isso é irrelevante para os tempos atuais está privado não apenas de sensibilidade humana, mas também de discernimento. É um louco.

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