8 de agosto de 2011

Interpretação Bíblica

Vivemos num mundo materialista (Feuerbach), ou seja, o cosmos gira naturalmente e a existência humana tem seu trilho estritamente dentro de sua natureza, sem intervenção de metafísicas. Esse cosmos também é dialético (Marx) e seus conflitos geram novas situações e momentos históricos. Assim o mundo tem progredido diariamente no decorrer da história.

A ciência, desde seu preâmbulo, tem experimentado esse desenvolvimento materialista dentro do processo dialético. Porém, a religião cristã, não generalizando, é um grande exemplo de tautologia, pois insiste sempre em manter seus dogmas cauterizados, barrando seu desenvolvimento. Há uma tremenda resistência da religião cristã (católicos, evangélicos e outros) em romper com o dogmatismo, desobedecendo o curso natural da história que é desenvolver-se intelectualmente - progressivamente a existência.

A bíblia é o principal "manual", regra de fé da religião cristã. A maneira como a observa, como a interpreta resultará na síntese que será desde a cosmovisão do cristão até mesmo seu comportamento. Há vários tipos de hermenêutica (interpretação bíblica). O fundamentalismo enxerga a bíblia como " palavra de Deus", "divina e soberana", mediocremente nega a crítica bíblica. O fundamentalismo aliena o homem contemporâneo, pois o leva a viver num mundo fora do âmbito do mundo científico, que é o que vivemos. Porém na história vemos o aparecimento de teólogos preocupados em aplicar métodos de interpretação bíblica. Isso é necessário, pois a bíblia fora escrita por homens comuns, dentro de culturas e épocas específicas, estando sujeita a caracteres literários como de qualquer outro livro.

A bíblia não foge do materialismo nem da dialética, pois ela é um resultado humano e histórico. Encará-la como " Palavra de Deus", " Inspirada" é a grande mediocridade da religião cristã, pois assim a prende ao dogmatismo, que por sua vez está preso nos períodos patrístico e escolástico, impedindo uma aplicação dos ensinos bíblicos à existência do homem contemporâneo, pois resultará em choque existencial na questão derradeira da preocupação.

Por volta do ano 400 d.C., a escola de Antioquia opôs-se a interpretação alegórica (Santo Agostinho admirava esse método) usada pelos alexandrinos. Já notamos uma preocupação hermenêutica logo nesse período. Na formação do cânon do novo testamento, livros como: Hebreus, Tiago, II Pedro, II e III João, Judas e Apocalipse foram colocados em debate.

Porém notamos que, após a definição do cânon e da dogmática, a religião cristã não se preocupou em desenvolver um método de interpretação bíblica, pois para ela, a verdade era absoluta, revelada, não havendo necessidade com tal preocupação. Já na Reforma, o Renascimento influenciou os teólogos chamados posteriormente de reformadores. Esses procuraram interpretar a bíblia direto na língua original. Isso era tão sério que Zuínglio tinha as cartas paulinas em grego memorizadas.

A quebra de vínculo com a tradição fez com que a Reforma originasse vários movimentos de diferentes teologias, adquiridas pela interpretação bíblica. Através de uma crítica textual, Lutero rejeitou a epístola de Tiago e encaixou Judas e Apocalipse como livros secundários. Calvino rejeitou Apocalipse e II Pedro. A reforma contribuiu para o desenvolvimento da hermenêutica e da teologia.

Posteriormente, os movimentos intelectuais influenciaram a teologia protestante e a crítica bíblica. Daí por diante houve muito desenvolvimento. O romantismo influenciou teólogos como Schleiermacher, que enxergou o mundo não somente através da bíblia, mas também pelo empirismo. Era o nascimento do liberalismo teológico, que abriu as portas para a ciência dentro da teologia. Ritchl eliminou a metafísica da teologia, Harnack propôs a desdogmatização da fé. Strauss apontou mitos na bíblia, Lessing defendeu que todas as religiões contém algo de verdadeiro e o homem deve ser guiado pela razão. Rauschenbusch tentou horizontalizar mais ainda a bíblia propondo um evangelho social. Kierkegaard tentou interpretar sua fé a partir da filosofia existencialista para entender o sentido da vida. Para Karl Barth a bíblia é o registro da revelação de Deus, apontando para a realidade. Esse negou o misticismo. Paul Tillich afirmava que os mitos da bíblia são símbolos que expressam a revelação que se manifesta na existência, já Bultmann queria demitizar a bíblia.

Como vemos, desenvolveu por demais as leituras bíblicas. É inaceitável a interpretação literal da bíblia. O fundamentalismo é um absurdo, alienante, medíocre, esdrúxulo e satânico (no sentido de opressor).

Em nossa época, é necessário abraçar o relativismo e a subjetividade intelectuais. A teologia não pode ser presa em nada. Não há como negar o caráter mitológico da bíblia. Não há como deixar de contextualizar os ensinos de Jesus e dos apóstolos para nossa cultura. Negar a necessidade de aplicar métodos científicos para a interpretação bíblica é afundar mais ainda a religião cristã. Os cristãos que são ligados à  alguns tipos de denominações  (não generalizando) estão alienados totalmente por um evangelho pobre, fundamentalista.

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