As ideologias ainda estão vivas?
A história do socialismo é conhecer parte da verdade relativa, e conseqüentemente, parte da verdade absoluta, na busca da realização de uma sociedade igualitária, verdadeiramente justa, ou seja, humanitária.
A grande esperança dos que se chamam neoliberais, ou seja, daqueles que estão concentrando o poder nas mãos da minoria elitista, consiste nisso: que a idéia do socialismo desapareça e que o marxismo se torne uma peça de museu, tema de mera reflexão abstrata de historiadores, filósofos e cientistas sociais. E nos dias atuais, essa tentativa dos neoliberais parece estar surtindo efeito, tendo em vista, o distanciamento dos estudos aprofundados do marxismo, seja em escolas, universidades ou em círculos de discussão política, social e/ou econômica.
É indubitável (incontestável) que o capital e os capitalistas se tornaram os beneficiários das últimas revoluções da ciência e do avanço da tecnologia. Elas fortaleceram as grandes corporações, o controle de manipular a mídia, a capacidade de articular entre eles e ao mesmo tempo, impedindo que uma força contra-pêlo pudesse aparecer pondo em risco seu poder. Nas nações capitalistas periféricas, em especial, as burguesias associadas e dependentes não puderam arriscar-se à alternância de “promessa e repressão” diante da virulência da rebelião popular e por causa de sua rendição silenciosa aos interesses e às pressões do sistema capitalista mundial de poder.
Atrelado a uma concepção agressiva de “democracia no mundo livre”, o sistema capitalista atingiu de forma fenomenal inúmeros blocos interessados em se perpetuar no poder e se lambuzar de todas as regalias provenientes e conquistadas. Com diversas façanhas e promessas de alternativas e possibilidades, o sistema capitalista conseguiu espaço para progredir e expandir. Não se pode esquecer, da importância que se faz nesse contexto, a presença dos intelectuais orgânicos. – conceito criado pro Antonio Gramsci para delinear todos aqueles que se encarregam de representar e propagar uma ideologia, para fins e interesses. Os intelectuais orgânicos do capitalismo, tiveram representatividade de forte cunho social, político e econômico para a estabilidade do sistema. Não podendo esquecer também, da importante posição religiosa, que, sempre apoio direta ou indiretamente, a ascensão do poder capitalista. A igreja católica pode ser considerada parte do grupo de intelectuais orgânicos do capitalismo.
O socialismo, por sua vez, continua vivo e o marxismo contém o mesmo significado científico, ideológico e político que sempre teve, seja como meio de descoberta e de difusão da compreensão global, dos processos gerais de transformação da civilização existente, seja como organização partidária dos portadores da “ótica comunista” da auto-emancipação coletiva dos trabalhadores e de sua revolução social. Suas interpretações diversificadas, algumas vezes, foram distorcidas propositalmente em benefício dos opositores da ideologia socialista. Utilizando as próprias concepções marxistas, moldaram toda e qualquer manifestação de política esquerdista popular, para deturpar suas verdadeiras finalidades. E com o tempo, tendo o poder centralizado nas mãos capitalistas, os mesmos, vem conseguindo, gradativamente, extinguir a ideologia marxista da grande massa populacional.
A volta aos clássicos e a compreensão do presente com as categorias de explicação e de ação que eles inventaram, revela a congruência lógica e a força histórica do socialismo. E sugere os rumos da civilização em crise: “de seus escombros britará uma civilização sem barbárie, na qual a democracia terá como premissa histórica à liberdade com igualdade e como objetivo a fraternidade humana e a felicidade de todos.” (Em defesa do Socialismo – Florestan Fernandes).
Questionando as novas ideologias
Só se moderniza o socialismo colocando-o em prática e forjando as fronteiras da revolução anticapitalista. Por sua vez, o socialismo é, por sua essência, a “democracia da maioria” e deve assegurar, quando esta se dissolve por desnecessária, a democracia plena.
Vivemos um momento da história humana muito rica de promessas e de transformações profundas em processo. Tudo isso, para mascarar o verdadeiro foco de toda politicagem que se encontra por trás de todo painel democrático dos governos burgueses no poder.
O debate que se trava aqui na cidade de Bauru suscita, ainda, um tema de extrema importância e relevância. Tem que ver com a condenação do comunismo e dos clássicos do marxismo. A intenção de sempre ofuscar as tentativas de manifestação popular democrática, ligando todo e qualquer ato público esquerdista, com gandaias, bagunças, badernas etc.
O mundo capitalista oferece compensações materiais, que são paupérrimas como sucedâneos de promessas calcadas em utopias igualitárias e libertárias, de fraternidade e felicidade entre os seres humanos. Se as nações capitalistas não gastarem muito dinheiro para sufocar a tensão por igualdade, liberdade e humanismo integral, os anseios pela construção do socialismo terão fortes probabilidades de assumir em caráter ético e de tomar conta das consciências e do comportamento coletivo. O que a “revolução de cima para baixo” não poderia consumar, dentro das constrições que a anulavam, ações e aspirações espontâneas coletivas possuem chance de implementar.
Para onde se caminhar?
Resta saber onde ficamos, nós perdidos nos submundos de Bauru. O “quintal” do capitalismo local sai dessa história muito mais ameaçado que na era colonial. Deve-se atentar para o papel efetivo dos países que servem como meras ferramentas para enriquecimento dos mais ricos. A exploração é cada vez mais intensa, mesmo que mais disfarçada. O governo que deveria nos representar, compactua da conjuntura internacional neoliberal e caminha de mãos dadas, atrelado a venda cínica do nosso país, ou seja, a possibilidade cada vez maior da exploração do nosso povo.
Nesse ínterim, Bauru e as demais cidades do interior paulista precisarão proceder a sua escolha: “ser quintal” ou “marchar para uma democracia de fato”? Dentro desse contexto, descobre-se que o marxismo não está morto. A internacionalização da economia, da cultura e do Estado significará, para nós, a rendição incondicional ao Neoliberalismo. As compensações serão atraentes, quanto ao nível de vida material dos estratos sociais situados acima do nível de pobreza. O capitalismo oligopolista contém todos os componentes nocivos da subalternização (ou da heteronomia) nacional: a dominação colonial, a dominação neocolonial e a dependência se entrecruzam e alimentam a mudança social destruída de qualquer compulsão coletiva revolucionária. Nessas condições, o que é indesejável no mundo capitalista renascerá aqui como estilo de vida. Impõe-se não esquecer: a alienação ou a brutalização produzida no trabalhador sob o capital industrial no contexto neoliberal resulta de todas as instituições-chaves em conjunto. Não se configura, aí, uma transação vantajosa. A desumanização constitui o produto final de muitos fatores convergentes incontroláveis. E eles são absolutos, disfarçados, endeusados: da educação, à igualdade de oportunidades e à democracia erigem-se vários biombos, que escondem a realidade (que os cientistas sociais explicam para a minoria esclarecida e “responsável”) e sacrificam a pessoa ao culto da competição, do lucro e da lei do mais forte.
Malditas sejam todas as cercas!
Malditas sejam todas as propriedades privadas, que nos privam de viver e de amar!
Malditas sejam todas as leis, amanhadas por umas poucas mãos para ampararem cercas e bois e fazer a terra escrava e escravos os humanos!
(Pablo Neruda)
Referências Bibliográficas:
GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere, volume 1. Editora Civilização Brasileira.
FERNANDES. Florestan. Em defesa do Socialismo.
MARX, Karl. Os pensadores. Editora Nova Cultural. 2004
LÖWY, Michael. Walter Benjamin: Aviso de incêndio – Uma leitura das teses “sobre o conceito da história”. Boitempo Editorial. 2005
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