Um Ensaio de Phil Baker.
Os setores de uma cidade são até certo ponto decifráveis. Mas o significado particular de cada um deles não representa nada para nós, é como o segredo da vida privada em geral, quando tudo que possuímos são desprezíveis documentos. - Guy Debord. [1]
BASES
A palavra 'psicogeografia' esteve muito em voga nos anos 1990 em Londres, mas o que significa? Foi originada nos anos cinqüenta com o grupo avant-garde-revolucionário francês, primeiramente chamado Letristas, e depois Situacionistas. Sua primeira aparição foi na 'Introdução a uma Crítica da Geografia Urbana' (1955), onde dá uma definição compacta: 'o estudo dos efeitos do ambiente geográfico, conscientemente organizado ou não, nas emoções e maneiras, comportamentos e modos de ação, procedimentos e condutas, ações e atos de indivíduos'. [2]
Debord acrescenta que o adjetivo 'psicogeografico' tem um que de 'agradável imprecisão', e que qualquer um que faça uma leitura dos atuais modismos descobrirá sua relação com Jack o Estripador, a rua morta, a feiúra dos edifícios, as igrejas de Hawksmoor, os lugares de nossa infância, a paisagem rural, Stonehenge e os gêmeos Kray.
Eles realmente estão relacionados a todas essas coisas. Atualmente a maioria dos usos da palavra envolvem três ou quatro idéias principais, separadamente ou combinadas: o efeito dos arredores na emoção e no comportamento, e sua ambiência; uma 'cartografia cognitiva' (a cidade em nossas mentes, com os lugares que têm um significado especial para nós); e que pode ser mais prosaicamente chamada de 'história local.'
Os Bairros chineses, os cemitérios e os distritos vermelho-claros, cada um deles têm suas próprias auras distintas, e esta idéia de ambientes diferentes é uma idéia central na psicogeografia. As zonas e quarteirões de uma cidade são compostos de distintos microclimas psíquicos; alguns lugares nos atraem outros nos repelem, outros nos dão uma sensação psiquica mais morna ou mais fria, de certo modo tudo isso pode ser mapeado. Esse efeito emocional pode estender-se desde um vão entre edifícios, ou até mesmo aos quartos. Dependendo da mão, pode ser sobrenatural, se lida com idéias algo místicas, ou completamente materialista. Veja esta descrição da Fazenda Broadwater:
«Aquela propriedade (Hardcastle) parecia não ter nenhum outro propósito a não ser ser um eterno palco de repetidos dramas de desordem pública. Foi para isso que foi projetada. Seu labirinto de átrios, rampas, sacadas de acesso, suas vielas cegas de medo e perigo. Suas silhuetas ameaçadoras nos pontos mais altos do edifício. Toda sua arquitetura era uma sólida fortaleza de privação..........» [3]
Em seu aspecto mais esotérico, incluiria o argumento de Iain Sinclair em 'Lud Heat' (1975), de que as igrejas de Hawksmoor inspiram a malevolência oculta que provoca o crime violento.
Ivan Chtcheglov, um camarada Letrista de Debord, levou ao extremo sua idéia de ambiência em sua 'Receita para um Novo Urbanismo' (1953). Chtcheglov chamou a atenção das autoridades após tentar dinamitar a Torre Eiffel, mas antes dele desaparecer no sistema psiquiátrico ele deixou seu breve mas inesgotável panfleto. Mostra sua percepção das zonas e quarteirões, sua visão da construção intencional de uma cidade psicogeográfica dividida em zonas distintas (uma distrofia da Disneilândia), seu entusiasmo pelas colunatas e quarteirões desertos de Giorgio de Chirico, e um elemento de Surrealismo tardio:
«Alguns ângulos irregulares, algumas perspectivas recuadas, nos permitem perceber brevemente concepções originais de espaço, mas esta visão permanece fragmentária. Deve ser buscada nos locais mágicos dos contos de fadas e nos escritos surrealistas: castelos, paredes infinitas, pequenas cercas esquecidas, cavernas enormes, espelhos de cassino». [4]
Chtcheglov foi a vanguarda da linha de frente Letrista na ambiência afetiva e na construção de ambientes emocionalmente determinados pelo cenário. Haveriam 'cômodos mais propícios aos sonhos que qualquer droga, e casas onde não resta outra coisa a não ser o amor'. [5]
Este aspecto foi em grande parte afastado nas noções posteriores da psicogeografia, mas a psicogeografia Letrista-Situacionista inclui seqüências do filme Dr. Caligari, as prisões de Piranesi (Piranesi foi um 'psicogeógrafo de escadaria', de acordo com Debord [6]), a arquitetura visionária, amadora e 'selvagem' (Postman, Cheval, Mad King Ludwig), e até mesmo designe de interiores.
A sensação do lugar é inseparável do significado do lugar, freqüentemente as cartografias pessoais têm seus próprios marcos.
«A aura dela transfigurou para mim toda a parte superior do Gloucester Place, e de tal maneira que não pude passar por ali dois ou três anos depois que eu a perdi. Porém, freqüentemente ela se encontrava comigo num local que denominamos O Objeto. O Objeto ficava em uma arcada da Baker Street, e se parecia como um grande poste de amarração............» [7]
Há um mapa privado mais extenso no coração dos 'Lugares' de George Perec (c.1969-75), uma descrição de doze locais de Paris que ele associou a uma antiga namorada. Ele transforma a cidade em um memorial personalizado, e comemora o que ele chama de 'lugares mortos que deveriam sobreviver.' [8]
A Psicogeografia não está interessada em mapeamentos panóticos 'objetivos', mas apenas nos mapas cognitivos privados de nossas cidades reformadas. Os mapas copia-e-cola de Paris de Debord, 'Discours sur les Passions d'amour' (1957) e 'Cidade Nua' (1957), tornaram-se exemplos definitivos desta 'renovada cartografia', [9] mas alterar o aspecto de mapas de Túneis do Metro são outro exemplo, com três estações sulistas na Linha Vitoria rotuladas como 'depósito de lixo', 'depósito de lixo' e 'depósito de lixo', por exemplo, ou as três estações na Linha Distrital rotuladas de 'a casa de Ali, 'Drogas Aqui' e 'Cidade do Sexo.' [10]
Estes mapas cognitivos se sobrepõem com histórias maiores. A composição de Chris Petit de 1993 em Newman Passage ('Jekyll and Hyde Alley', um local sinistro que ele denomina o coração secreto de Fitzrovia) se situa em uma cartografia pessoal de locações de filmes.:
«Quando cheguei a Londres pela primeira vez há vinte anos atrás e não conhecia ninguém, eu freqüentava cinemas baratos que logo desapareceram -- o cinema de desenho animado na Estação Vitória, o Tolmers, o Metrópole, a Biografia predominantemente homossexual em Wilton Road, Classics, Jaceys; estes não eram dias seletivos -- e, quase inconscientemente, para ter o que fazer nos domingos, eu comecei a procurar cinemas em Londres: num parque sinistro perto do campo de futebol do Charlton Athletic erguia-se o Blow Up; no canto da Powis Square o Performance; o bar Covent Garden e o Hotel Coburg em Frenzy. Eu visitava estes lugares e me sentia um pouco menos anônimo, um pouco mais definido, e costurando pacientemente construí meu próprio mapa da cidade, um limitado (e supersticioso), embora com mais significado que o oficial...» [11]
Outro mapa privado usa o tropo familiar da cidade como texto:
«Meu diário pessoal de West End está agora coberto de anotações e observações que para mim são plenas de significado: a esquina da Avenida Shaftesbury, uma pequena ladeira do Circo Cambridge onde certo dia Edgar Manning atirou em três homens em 1920, por exemplo; ou o edifício na Rua Gerrard que agora é um supermercado chinês e um restaurante, mais conhecido como Clube 43; ou minúsculo restaurante na Rua Lisle que hoje oferece 'A Comida Chinesa Mais Barata na Cidade', mas que em 1918 era um laboratório sombrio onde o grupo de Billie Carleton comprava cocaína.» [12]
«Todas as cidades são geológicas», escreve Chtcheglov, «você não pode dar três passos sem encontrar fantasmas carregando toda a carga de suas lendas». Muito do que agora é chamado psicogeografia é história local dissonante e marginal, incluindo uma boa porção de obras de Sinclair, como 'Downriver' (1991), Tom Vague 'Entrance to Hipp: A Psychogeographical Guide to Notting Hill' (1997), e numerosos livros curiosos, baratos, datados ou desconhecidos antes do termo psicogeografia entrar em voga; por exemplo, 'The London Nobody Knows' por Geoffrey Fletcher (1962), 'Evil London' por Peter Aykroyd [sic] (1973), 'London's Secret History' por Peter Bushell (1983) e 'The Black Plaque Guide' por Felix Barker (1987).
A história Psicogeográfica tende freqüentemente a uma combinação que vai do esotérico ao enigmático, do anticonvencional ao sórdido, ou da arqueologia envolvendo crime e baixaria. Jack o Estripador e o mago elizabetano John Dee são de interesse da psicogeografia (Jack o Estripador, de uma forma ou de outra, tornou-se uma figura central na psicogeografia de Whitechapel, Dee faz parte da psicogeografia de Mortlake), Cromwell e Pitt o Jovem não tem interesse algum. Também é mais completamente psicogeográfico quando há algum senso de história que afeta o ambiente, e quando a característica inerente ao local afeta sentimentos e a conduta, ou quando afeta a leitura contemporânea popular de um lugar. Nesse sentido, pode haver uma alienante e recalcitrante forma de história, e outra que resiste e que é recuperada por 'herança'.
A alienação foi um fator importante na recente popularidade da psicogeografia. Até mesmo em seu aspecto mais básico, a impressão do lugar, a psicogeografia é uma ferramenta útil para decifrar aspectos de locais -- não restritos a questões econômicas, mas resultantes do efeito provocado pelo meio ambiente na qualidade de vida -- que foram palco de violências e dissensões sem precedentes. A cartografia cognitiva é universal e inevitável. Mas sua recente fetichização foi acompanhada por um pós-consenso, por um sentimento pós-societal de que a sociedade como um todo (declaração famosa não formulada até 1987 [13]) não oferece nenhuma salvação, mas apenas as próprias rotas das pessoas e os lugares. A sobreposição das histórias e mitos do lugar é uma conseqüência resultante do ambiente inóspito da metrópole. As pessoas querem inscrever marcos e encontrar traços na cidade, como as histórias que criavam para falar sobre as estrelas e constelações, de forma a sentirem-se mais em casa em um universo indiferente.
PONTOS DE REFERÊNCIA
Quase poderia ser dito que a psicogeografia urbana clássica começa -- retroativamente, e de uma perspectiva de influência situacionista -- com Thomas De Quincey, traçada por surrealistas como Walter Benjamin, e pelos letristas e situacionistas. Mas a psicogeografia de Londres durante os últimos 25 anos deve menos a todos esses e mais a Iain Sinclair cujo trabalho foi inspirado por uma tradição completamente diferente que apareceu durante a era hippy. Tome a abertura de um livro de 1970 em Carnaby Street: «A menina diz, 'Carnaby Street é um lugar feliz. Eu acho que ele fica no caminho do dragão'». [14]
As raízes de Sinclair não foram os Situacionistas mas a escola 'Mistérios de Terra'. Os anos sessenta testemunharam o ressurgimento do interesse pela zona rural, por conceitos antigos da terra, pela geometria sagrada; pelos longos alinhamentos artificiais na paisagem. No livro 'Vista sobre Atlântida', publicado em 1969, John Michell revela um interesse pelo trabalho de Alfred Watkins. «Os povos antigos espalharam santuários e monumentos por toda parte em alinhamentos seqüenciais milhas e milhas pelo país afora», explica Michell. Para Watkins, «a existência destes alinhamentos esquecidos -- surgidos de um momento de intuição,... [como] as vias do dragão sagrado da velha China, com seus caminhos místicos, secretos, cruzando cenários e paisagens -- é conhecida por todo mundo. Por detrás destas obras há um princípio comum que não se rende facilmente aos argumentos dos modernos pesquisadores; se você freqüentar santuários antigos com uma mente inquisitiva, você estará sujeito à influência de mentalidades antigas». [15]
A obra mais famosa de Watkin, 'The Old Straight Track' (1925), foi republicada em 1970 e chegou ao mercado como Ábaco em 1974. Permaneceu neste clima até ser influenciado por livros como 'Prehistoric London: Its Mounds and Circles' (1914) de Elizabeth Gordon, quando Sinclair escreveu seu original 'Lud Heat' (1975). Cheio de diagramas, esse livro sugere que as igrejas de Hawksmoor, alinhadas ao longo de Londres em uma sinistra geometria oculta, exercem uma influência malévola por um 'estranho e poderoso magnetismo, provido de uma força secreta'. [16] Esboçado a partir de numerosas fontes desde Thomas De Quincey até as pirâmides perdidas de Glastonbury, a composição de Sinclair é uma hilariante obra-prima da paranóia.
'Lud Heat' inspirou a novela 'Hawksmoor' (1985) de Peter Ackroyd, onde desenvolve um contraste entre os mundos de Sir Christopher Wren (esclarecimento, luz do dia, procriação) e Nicholas Hawksmoor (desafeto secreto, escuridão fuliginosa, velho gnosticismo, convicções pagãs, esterilidade). A maior parte dos aspectos psicogeográficos do livro -- determinismo comportamental, embora oculto, pelo ambiente construído -- não foram devidamente observados pelos críticos, um tipo de psicogeografia chegava em Londres como a principal corrente literária, e a excêntrica abordagem de Sinclair / Ackroyd de Hawksmoor ameaçava transformar aquela área de Londres em uma espécie de Jack o Estripador.
Nesse meio tempo o desafeto continuou queimando em lenta combustão o legado da Internacional Situacionista. Durante 1970, Malcolm McLaren (o futuro empresário de Sex Pistols e candidato a prefeito, mas que quando estudante de arte foi influenciado pelos situacionistas) pesquisou um filme documentário da psicogeografia da Oxford Street: 'De Tyburn na forca, Gordon Riots e Barnaby Rudge.... A vinda da loja de departamentos e o controle da multidão. As políticas de enfado.... mais Mars bars são vendidas na Oxford Street do que em qualquer outro lugar'. [17]
Durante algum tempo foi associado à Angry Brigade, num interesse pelos situacionistas enquanto minoria, como afazer secundário. Como McLaren recorda posteriormente é necessário ir até a extinta Compendium Bookshop de Camden e fazer 'o teste do globo ocular'. [18] Mas isto chamejou em um perfil superior ao término dos anos oitenta, com Greil Marcus em 'Lipstick Traces: A Secret History of the Twentieth Century' (1989), na retrospectiva situacionista de 1989, no ICA e no Centro Pompidou em Paris.
Os dois fluxos da psicogeografia, situacionista e Earth Mystery, fundiram-se na fundação da Associação Psicogeográfica de Londres (LPA) em 1992. A LPA sinalizou seus alinhamentos situacionistas por um uso evidente de tergiversação na linha de abertura de seu manifesto, 'Por que Psicogeografia?': 'Há um espectro que assombra a Europa, não o mundo. O espectro da psicogeografia.' [19]
Enquanto grupo essencialmente far-left pós-situacionista com uma propensão à traquinagem e à desinformação, o LPA reivindicou acreditar no alcance mais selvagem da psicogeografia, no aspecto visível. Escorregadia e espinhosa, a posição deles nestas coisas foi uma estratégia caracterizada pela ironia, insinceridade ou exagero contra a 'recuperação' (compare a abordagem de Debord em suas Mémoires) projetada para manter-se distante da academia. 'Não representamos nenhuma tentativa de "justificar" ou "racionalizar" o papel de magia no desenvolvimento de nossas teorias; o que basta para torná-las completamente inaceitáveis'. [20]
Entre 1992 e 1997, a LPA editou numerosas publicações como 'Smash the Occult Establishment' sobre Greenwich, a Família Real e a Maçonaria; e 'Open Up the Northwest passage', a Passagem Noroeste é uma metáfora navegacional da perambulação urbana de De Quincey adotada e transformada por Debord. O LPA reivindicava a Colina Santa Catarina como a representação mística de Inglaterra, relacionando-a com alinhamentos planetários e a morte possivelmente ritual de William Rufus em 1100, mas eles também poderiam fazer um vigoroso uso de Gesalt 'figura / chão' em sua versão invertida para ilustrar o modo pelo qual a população proletária do de East End foi relegada a pano de fundo de cenário durante os anos oitenta'. [21]
O centro de Londres deslocou-se para o leste nos anos posteriores à década de 1980, inicialmente em virtude da nova excitação em torno do distrito financeiro da Cidade. O concomitante redescobrimento de East End -- para muitos um velho e exótico território desconhecido -- representou um ímpeto adicional à psicogeografia. Devido aos ventos prevalecentes e ar mais limpo no Oeste, o lado Oriental das cidades do Hemisfério Norte tende a ser o lado pobre que, por seu turno, faz dele o lado 'ruim'. A Londres oriental foi por muito tempo um centro de imigração, sujeitando-a a fantásticas temáticas de orientalização, [22] e também foi associada a Jack o Estripador e uma espécie de período de criminalidade que por muito tempo marcou a imagem de Londres na França. Em setembro de 1960, a Internacional Situacionista manteve sua Quarta Conferência em um 'endereço secreto' localizado em 'l'East End, na Sociedade dos Marinheiros Britânicos em Limehouse, um quarteirão celebrizado pelos crimes lá ocorridos. [23]
Debord e Jacques L'Eventreur compartilharam uma grande fascinação pela feiura surrealista. Jacques foi apelidado de 'psicogeógrafo apaixonado'. [24] Psicogeografia e Jack o Estripador parecem permanentemente unidos. A obra de Alan Moore foi particularmente celebrizada neste período, incluindo sua novela gráfica do Estripador 'From Hell' (1991-8, posteriormente filmada), que também incluiu Hawksmoor. Ele estendeu seu alcance psicogeográfico bem além dos eventos 'Beat Seance' de 1997, como o 'Highbury Working', usando tropos fantasmagóricos e ocultos para a ressurreição da história local marginal.
Nesse meio tempo a carreira de Iain Sinclair se consolidou. Um pequeno romance sobre o Estripador, 'White Chappell Scarlet Tracings' (1987), foi seguido por 'Downriver' (1991), cheio de histórias marginais de Thameside e observações, e até que de 'Lights Out for the Territory' (1997), Sinclair estava na plenitude de sua celebridade. 'Lights Out' mesmo caracterizado como esotérico, e menos enigmático que as obras anteriores, constituiu parte um safári sociológico no mundo da TV a cabo e dos cães pit-bull. Apenas a pouco tempo que a palavra 'psicogeografia' começou a aparecer nos escritos de Sinclair, normalmente aplicada a outros, como a LPA ou Chris Petit.
'Lights Out' aborda uma discussão em torno da curadora e artista londrina Rachel Lichtenstein em condições que são aplicáveis ao próprio projeto de Sinclair: 'uma artista especializada no não-esquecimento da recuperação de «rastros discerníveis»'. [25] Em 1999, Sinclair colaborou com Lichtenstein em 'Rodinsky's Room', um livro sobre um cômodo abandonado em Brick Lane que foi, desde meados dos anos 1980s, mitologisado como uma cápsula do tempo. Rodinsky também abasteceu Sinclair com material para 'Dark Lanthornes: Rodinsky's A to Z' que incluiu um fac-símile de uma Londres anotada de A a Z. possuida por Rodinsky e marcada com lugares de significação pessoal. Foi subtitulada como 'Rodinsky as psychogeographer', um exemplo notável do aspecto 'cartográfico pessoal' da psicogeografia.
Por volta de 2001, a psicogeografia foi definitivamente caracterizada como importante corrente literária com 'London: The Biography' de Peter Ackroyd . Embora Ackroyd denigra a palavra, o livro dele é, em última análise, baseado em uma psicogeografia irracionalista, reivindicando que o caráter e a atmosfera inerente aos diferentes distritos de Londres foi, com o passar do tempo, possuída por um assombroso processo de controle da atividade humana em seu interior. Muito diferente do 'London: A Social History' (1994) de Roy Porter que concluiu que Londres já era; e que os anos Thatcher provocaram sérios danos à cidade; que caiu do patamar de cidade turística para uma mera zona internacional. Em outras palavras, não é a Cidade Eterna, é exatamente o oposto do argumento de Ackroyd. [26]
A veneração quase Platônica de Ackroyd por essa continuidade é uma tentativa neo-conservadora para conter a mudança, e para reinscrever uma cidade que ameaça tornar-se indecifrável. 'O espírito indígena ou nativo que anima uma área particular' assegura, por exemplo, que 'a vida secreta de Clerkenwell... é muito profunda', e que Bloomsbury está mergulhada no ocultismo (Alvenaria, Teosofia, o Amanhecer Dourado, astrologia, livrarias secretas). 'Aqui tudo parece ser uma congregação de forças novamente alinhadas... que permanecem ativas em algumas ruas dentro do bairro'. [27]
No ano em que o livro de Ackroyd foi publicado, a cúpula da Biblioteca Britânica em Bloomsbury foi reaberta com um espaço de vendas a varejo e fornecimento de comida e bebidas. Seus fantasmas exorcizaram tudo isso e o espaço foi reconsagrado como um templo do turismo, o novo espaço foi destruído por um incêndio.
RUINAS
Guy Debord em 'In girum imus nocte et consumimur igni' (1978) lamenta Paris como um lugar inteiramente devastado: 'me limitarei apenas a algumas palavras para anunciar, a despeito do que os outros possam dizer sobre isto, que Paris já não mais existe. A destruição de Paris é apenas um exemplo notável da doença fatal que está destruindo atualmente todas as principais cidades'. No tempo em que Paris existia, ela tinha 'um povo que não vivia por imagens' e 'o moderno sistema mercantil não tinha ainda demonstrado completamente o que poderia fazer com as ruas'. [28]
Esta idéia da ruína é recorrente nos escritos psicogeográficos, vide 'The Ruins of Paris' (1997) de Jacques Reda ou 'A Journey Through Ruins: The Last Days of London' de Patrick Wright (1991, com sua irônica dedicação à Sra. Thatcher), ou o real e exacerbado senso de decadência no trabalho de Sinclair, como em sua mais recente obra intitulada 'Lights Out for the Territory' de 1997.
Há até mesmo uma idéia mais recorrente que acredito não ser desconexa. Um denominador comum entre os aspectos esotéricos e inferiores do lugar é que eles tendem a ser pouco conhecidos, ou de certo modo, 'secretos', a palavra favorita do psicogeógrafo. Compare dois recentes livros: Mark Manning escreve sobre 'esta secreta vila de Clerkenwell que se revela apenas aos poucos com o passar dos anos com a poesia de seus nomes secretos, seus pátios silenciosos, suas igrejas e locais ocultos', enquanto Bill Drummond escreve o contorno de seu nome pelo mapa:
«Eu costumava brincar, eu e minha Londres de A a Z. Mas a melhor coisa destes passeios foi que eles me levavam a ladeiras, ruelas, hortas dos fundos, e fossos que em condições normais nunca teria visitado. Então eu descobri coisas; lojas, cafés, caçarolas velhas, um baú de tesouros descartados... e emblemas secretos. Os emblemas secretos sempre eram o melhor». [29]
Esta paixão pelo segredo mantém os psicogeógrafos longe do mapa turístico. Louis Aragon escreve em 'Paris Peasant' (1926) sobre sua antipatia para com Montparnasse e Montmartre. Ele preferia zonas 'periféricas' e 'suspeitas' onde a 'liberdade e o segredo tinham uma melhor chance de florescer', [30] e ele achou seu local definitivo um uma velha Arcada na Passagem da Ópera que logo seria demolida, onde ele poderia exercitar seu raro talento para descobrir aquilo que André Breton definiu como 'um tipo de vida secreta da cidade'. [31]
Se o segredo caracterizou inevitavelmente uma forma de erotismo para os surrealistas, a idéia de segredo para os situacionistas -- congenial à grandiosidade paranóica de Debord -- tem um significado mais estrutural como o oposto do Espetacular. Porém, há um significado muito mais simples de 'segredo', bem menos usado e um distinto sinônimo para 'não estragado, intato, incólume, não devastado, não espoliado'.
'Não estragado, intato, incólume, não devastado, não espoliado' assumiu seu moderno significado por volta de 1925 como resposta à expansão urbana e ao turismo. É uma palavra chave para a compreensão do século XX, que supõe dois tipos de lugares, arruinados não arruinados [N.T. no original, with its assumption that places are ruined unless they are not]. Aqui Bali torna-se um paradigma. O romance de Alex Guirlanda 'The Beach' (1996) caracterizou a ruína da Tailândia, com a grande afluência às suas praias estação após estação, e um grupo de pessoas que está disposta a matar para manter uma praia particular secreta. A noção do segredo, naturalmente, foi recuperada para dar aos próprios guias de viagem um frisson extra para eles, um sentimento súbito de excitação ou medo, como 'City Secrets: London' e 'Secret London'. [32]
A qualidade das mudanças secretas urbanas muda de tempos em tempos. O grande segredo do recente século XIX foi a extensão da pobreza e da degradação, dando origem a livros reveladores como 'In Darkest London' (1880) de William Booth [N.E. Phil Baker quis dizer 'In Darkest England' (1890)]. Mas ao final do hiper-transparente século XX, o segredo foi positivo, e foi desejado como nunca. Este desejo por lugares secretos está ligado a fantasias perenes dos lugares 'fora do mapa', como Londres terrae incognitae de De Quincey, as zonas limiares e os vislumbres paradisíacos -- nas ficções de Alain-Fournier, H.G.Wells e Arthur Machen, por exemplo [33] -- mas ganha uma nova e tardia urgência, em virtude do super-desenvolvimento, da superexposição da Londres milenária:
«Eu suspeito que certas áreas de Londres retêm sua integridade e beleza apenas pela invisibilidade. Ameaçadas ou abandonadas, elas enfraquecem lentamente no plano astral, um universo alternativo onde todos os edifícios esquecidos e a arquitetura arruinada do mundo ainda existe, ainda funciona, ainda é habitada. Às vezes eu acho que preciso apenas me virar repentinamente no momento certo para vislumbrar um ectoplasmático Brookgate em todo aquele Antemuro de concreto vítreo colocado em seu lugar». [34]
'Algumas esquinas e recantos representativos de Londres, comenta um crítico, 'elevam Leather Lane e a quarta dimensão ao seu devido lugar'. [35]
Hakim Bey escreveu liricamente em 'Sacred Drift' sobre o desejo por espaços fora do mapa. 'Se o mundo moderno fosse completamente mapeado, sabemos agora que o traço por definição jamais poderia ser preciso... porque a geografia é fracionária... '. Temos que desaparecer em 'dimensões fracionárias escondidas do mapa da cultura onde a tirania racional dos Consensos e das Informações não pode penetrar'. Para Bey, busca o viajante busca 'os espaços ocultos e secretos da vida real, intatos do controle e da mediação onde o autêntico e o maravilhoso ainda florescem'. [36]
As idéias psicotopológicas de Bey, Zonas Autônomas Temporárias e nômades à deriva são reconhecidamente construídos em cima das idéias situacionistas de psicogeografia, 'situações' e deriva (vento), abriram caminho para Chtcheglov e Debord como 'uma técnica de passagem transitória por ambientes variados'. [37] Posteriormente isso tornou-se um paradigma do pensamento francês, [38] mas na rua a deriva foi uma tentativa de recuperar a não realização urbana, sublimada, perdida, desorientada, com a chance de achar lugares desconhecidos.
É mais duro perder-se agora do que era quando Walter Benjamin escreveu: 'encontrar um caminho na cidade, tanto quanto na floresta, requer prática'. [39] Os telefones móveis oferecem a opção 'FINDme' que reconhecem o local onde você está em qualquer lugar no país e proverá informação sobre serviços, lazer e turismo. E isso é apenas a opção um: a opção dois é a linha McDonalds: 'Para encontrar onde fica o McDonalds mais próximo, tecle 1501'.
Chtcheglov escreveu 'uma doença mental varreu o planeta: a banalização'. A fascinação pela psicogeografia, relativamente difundida nos anos noventa, coincidiu com uma percepção da chamada depressão [N.T.: no original, dumbing down], que teve seu correlativo na paisagem urbana. A psicogeografia, a gnoses do lugar, era o oposto daquela depressão, o palimpsesto do conhecimento secreto escrito por Sinclair e outros era o oposto da banalização.
Forças de mercado virtualmente incontroladas reduziram Londres a uma cidade de espetáculo turístico. Alguns parques temáticos (o que é obrigatório ver na Grã Bretanha? [40]) são pontilhados por uma gigantesca indústria de serviços, que alcançou sua auto-paródia em meados dos anos1990 com o aparecimento de riquixás [N.E: carros de duas rodas para transporte de pessoas, puxados por um ou dois homens, usados na Ásia] nas ruas de West End.
Zonas ambientes de um tipo não conversível para 'local obrigatório para turistas' estão particularmente em extinção. Não seria nenhuma grande perda se o Shakespeare's Globe Theatre fosse recriado e reerguido em Austin, Texas, mas o fechamento iminente da zona de livros usados em Charing Cross Road, ou o ambiente de Pimlico Road (recentemente golpeado por seu primeiro Starbucks, e reservado para remodelação, reconstrução) é devastador, como a perda dos pequenos cafés italianos como Alfredo ou Boggi. Cyber-flâneurs podem localizar tais cafés em www.classiccafes.com, um endereço que também oferece uma boa recuperação da psicogeografia na era 2000:
«Psicogeografia é a paisagem escondida das atmosferas, histórias, ações e caráter que os ambientes carregam. Os caminhos sociais perdidos que compõem os contornos culturais inconscientes dos lugares... Com os cafés, surge um tipo de atmosfera de viúva bem dotada bem à nossa frente, aparente e familiarmente monótono contudo cheia de segredos».
As zonas de tempo são uma variedade notável de zona ambiente em extinção: 'Nos recentes Anos Setenta a rua tinha um ar dos Anos Cinqüenta, com um café arte-deco e um café non-arte-deco, uma loja com roupas de linho abaixo do preço e uma livraria oferecendo uma perfuração na orelha'. [41]
Ainda podem ser encontrados ambientes temporais evasivos (em regiões de Pimlico e Victoria, por exemplo), mas de uma maneira crescente as zonas temporais só sobrevivem dentro de edifícios. Locais rústicos contemporâneos como Rodinsky's Room da Dennis Severs, um célebre café de Spitalfields -- 'a casa secreta da Folgate Street 18' -- foi recentemente o tema de uma composição de Peter Ackroyd. [42]
Naturalmente, sempre houve resistência à mudança: faz muito tempo desde a formação em 1875 da Society for Photographing Old London por causa da demolição de velhos edifícios. As eras prévias lamentaram a perda dos principais edifícios, como o Arco de Euston em 1962, ou a extensa transição dos edifícios do século XIX para escritórios e prédios hoteleiros nos anos sessenta, que deram origem a livros como Goodbye London (1973). Em contraste, a banalização atual é menos relacionada a grandes monumentos ou à arquitetura do que a uma perda ecológica mais sutil e penetrante de toda uma textura ao nível da rua.
As vitrines, vistas como uma possibilidade utópica no século XIX, tornou-se uma realidade distrófica ao final do século XX, com o empresariado atormentando exibindo seus produtos, agências de câmbio e agências estatais. Vamos considerar a área ao redor do Museu Britânico e da antiga Biblioteca Britânica, antigamente amplamente associada a pequenos livreiros orientais como Luzac ('com seu latente mistério', como comenta um escritor dos meados do século XX, 'como se eles fossem o começo de uma história escrita por Algernon Blackwood' [43]). O que marca aqueles espaços agora é uma agência do American Express, a faculdade TEFL e um par de lojas de souvenirs. No outro lado da Museum Street, oposta ao museu, havia um loja que vendia uma extraordinária variedade de coisas. Agora é uma Starbucks.
Atrás da New Oxford Street havia uma loja no número 56 chamada Cuba, vendendo roupas da metade do século XX -- antigos Crombies, casacos feitos a mão, lenços de seda -- com uma placa de madeira do lado de fora (Est. 1985). É difícil de acreditar que qualquer coisa assim modestamente idiossincrática e de baixo-orçamento pudesse ter florescido por ali. O número 56 agora é uma casa de câmbio. Na direção leste, a primeira coisa com que deparamos são lojas de café e sanduíches pertencentes a uma rede. No cruzamento da Coptic Street, um inofensivo restaurante funciona num canto, ao lado de um McDonalds, uma vitrine da faculdade TEFL e outra vitrine de uma pizzaria.
A própria Biblioteca foi decapitada de Bloomsbury e foi recolocada em um local relativamente sem sentido de Euston. Seu catálogo da Internet traz uma propaganda da Amazon (Compre grandes livros a bons preços: compre livros AGORA de nossos patrocinadores) e fora da Biblioteca há uma estátua de Blake's Newton -- Blake é uma figura negativa, bem esquisita, qualquer pessoa se aborrecesse quando lembra de Blake -- um símbolo que carrega a lenda orgulhosa: 'Ajudou a Fundação do Esporte e das Artes por contribuições do Vernons Littlewoods Zetters'. Mas ninguém tem dúvida sobre quem são os verdadeiros beneficiários dessas coisas.
Os pequenos canteiros de flores em Islington são obscurecidas pelas enormes e feias placas anunciando seus patrocinadores. A morte lenta da qualidade do espaço público, e a hiperativa-capitalização-banalização da vista da cidade, ameaça produzir um desinvestimento psíquico na rua, que só serve para aumentar ainda mais a anomia urbana, uma situação em que um grande número de pessoas se ressente da falta de integração com instituições estáveis. Ninguém caminha prazerosamente pela paisagem de um McDonald onde proliferaram corretores de imóveis, fomentadores da Kwik Foto, propagandas da Faculdade Americana em Londres, escritórios nos cantos das lojas e infinitas vitrines de serviços de bufê.
Desde os anos oitenta houve um concomitante aumento do interesse em decorações privadas, controláveis, como desenho de interiores e jardinagem urbana. Estas zonas autônomas são um cumprimento da visão distrófica de Chtcheglov de que 'todo mundo viverá em sua própria catedral pessoal, ou coisa parecida'. A inspirada revista World of Interiors surgiu em 1981, com 'tablescapes' e pintura orgânica ('você pode verificar a diferença'), pressagiando a década que fechou suas portas ao lado de fora do mundo. O extraordinário sucesso da revista, improvável em uma ou duas décadas anteriores, foi persuasivamente relacionado à alienação da classe-média. [44]
Para aqueles entre nós que não estamos no mercado da pintura orgânica, dos soundscapes -- que não deixa de ser um ambiente portátil e temporário, e não sem uma dimensão de psicogeográfica [45] -- seria uma alternativa menos cara a um ambiente incompatível, juntamente com saltos mais especializados no fetichismo: 'Todos nossos paraísos na Terra estão sendo atravancados em centros de férias... mas ainda há alguns lugares agradáveis não descobertos... chegou o momento de mergulhar nestes lugares antes que sejam etiquetados'. [46]
Os lugares mudam. Mas Londres está sendo arrasada por algo mais radical, pela substituição do lugar pelo 'espaço'. A superpopulação, cotações de propriedade, apartamentos apertados inadequados para a 'brincadeira', e uma moda não-sem conexão com o minimalismo, tudo combinado para fazer do espaço um conceito ascendente desde antes dos recentes anos 1990 ('seria o espaço é o último luxo?' [47]). O lugar tem significado, mas o espaço é um bem descartável.
Como uma afirmação da história e da memória, e do valor do ambiente e da atmosfera, a popularidade da psicogeografia nos anos 1990 foi uma derradeira afirmação do lugar contra o espaço. Isso freqüentemente conduziu as pessoas a refugiar-se em zonas intersticiais do significado privado e do conhecimento esotérico, mas foi pelo menos uma tentativa para manter um investimento psíquico na rua. Isso foi acompanhado de uma alienação de um tipo quase sem precedente do ambiente construído, talvez respondendo definitivamente às ansiedades expressas no livro de Marc Augé 'Non-places'. [48]
Augé critica a expansão global do não-lugar, e sugere que a vida contemporânea tende para a condição de lobby corporativo, lanchonete ou sala de embarque de aeroporto. Três recentes livros, escolhidos quase ao acaso, mostram quão abrangente se tornou esta percepção de supressão e de ruína.
«.... Nevsky Prospect, uma rua de fantasmas se é que sobrou algum. Jerome diz que toda cidade tem sua rua de fantasmas. Além do Palácio de Stroganov e da Catedral de Kazan. Além dos escritórios da Aeroflot, e do Café Armênio em baixo. Além do apartamento onde eu fiz amor com minha sócia do Politburo. Que agora foi transformado em um escritório do American Express. Tudas estas lojas novas, Benneton, The Haagen-Daaz shop, Nike, Burger King, uma loja que não vende outra coisa a não ser filmes de máquina fotográfica e chaveiros, outra que vende Swatches e Rolexes. Parece que as principais ruas do mundo estão se tornando iguais no mundo inteiro».
«Eu voltei a Key West em 1991... Um edifício alto que tomara o lugar do Sands e do Half Shell [bares] foi quadruplicado para acomodar alunos de uma faculdade, que fizeram de Key West um ambiente de farra e bebedeira... O quarteirão de Mallory tornou-se uma parafernália de lojas de camisetas e de agencias vendendo viagens e excursões a um recife agonizante... Em uma mesa, um homem tira foto das pessoas que passam.
... Seis anos depois... Key West agora tem um Gap, Banana Republic, Planet Hollywood, e um Hard Rock Café, com promessa de implantar mais entrepostos de mercado de massa, inclusive um Hooters, com suas franqueadas e desajeitadas garçonetes... »
"... você tem que entender que isto não é só conversa, nós temos que agir contra todos esses centros de compras, contra todos esses bares yuppies, esses jovens profissionais urbanos ambiciosos e prósperos, contra todas essas vitrines que estão nesse exato momento tomando conta da maior parte de Berlim». [49]
Naturalmente, nenhum destes lugares é Londres: mas esse, de certo modo, é meu tema.
NOTAS
1 'Critique de la separation' (filme de 1961), screenplay de Guy Debord, 'Oeuvres cinematographiques complètes, 1952-1978' (Paris, 1978) p. 45.
2 Guy Debord, 'Introduction à une critique de la géographie urbaine', Les Lèvres Nues, 6 (September 1955) trans. in Situationist International Anthology, ed. Ken Knabb (Berkley, 1981), pp. 5-8.
3 Jake Arnott, 'He Kills Coppers' (London, 2001), p. 265.
4 Chtcheglov, 'Formulaire pour un urbanism nouveau', Internationale Situationniste, 1 (June 1958), trans. in Situationist International Anthology, ed. Ken Knabb (Berkley, 1981), pp. 1-4.
5 Ibid.
6 'Exercice de Psychogéographie', Potlach, 2 (29 June 1954).
7 Robert Aickman, 'The Attempted Rescue' (London 1966), p. 127.
8 Discussed and quoted in David Bellos, 'George Perec: A Life in Words' (London, 1995), pp. 417-18.
9 Debord, 'Introduction à une critique de la géographie urbaine'.
10 Both seen by the author (Phil Baker), autumn 1998.
11 Chris Petit, 'Newman Passage'; or, 'J. Maclaren-Ross and the Case of the Vanishing Writers', in The Time Out Book of London Short Stories, ed. Maria Lexton (London 1993), p. 137.
12 Marek Kohn, 'Dope Girls' (London, 1992), p. 11.
13 Margaret Thatcher in Woman's Own, 31 October 1987. Entre os propósitos perdidos da psicogeografia -- o desaparecimento da química de De Quincey, dos livros raros da Sinclair, o 'amor acima de tudo' de Walter Benjamim, para as mulheres que passam, a indagação dos letristas sobre o Santo Gral da rua em '36 rue des Morillons' (o endereço do escritório do Paris Lost Property) -- alguns foram modificados mas o sentido de comunidade e de sociedade sustentável não é de forma alguma o menos importante.
14 Tom Salter, 'Carnaby Street' (London, 1970), p. 5.
15 John Michell, 'The Fuss About Leys', in An Orthodox Voice (Brentford, 1995), pp. 29-30.
16 Iain Sinclair, 'Lud Heat' (London, 1975), p. 11.
17 Cited in 'Impresario: Malcolm McLaren and the British New Wave', exh. cat., New York, The New Museum of Contemporary Art (1988), p. 73.
18 Malcolm McLaren, cited in 'Simon Ford, The Realisation and Suppression of the Situationist International: An Annotated Bibliography', 1972-1992 (Edinburgh, 1995), p. 111.
19 The London Psychogeographical Association, 'Why Psychogeography?' , broadsheet (1996) widely disseminated and reprinted, e.g., in 'Autotoxicity: Second Assault' (Sheffield, 1997).
20 The London Psychogeographical Association, 'The Unacceptable Face of Contemporary Psychogeography' (1996); reprinted in 'Mind Invaders: A Reader in Psychic Warfare, Cultural Sabotage and Semiotic Tourism', ed. Stewart Home (London, 1997), pp. 151-3. As estrelas principais do LPA foram notavelmente Fabian Tompsett e Stewart Home que teceram suas ficções ultra-violentas com referências psicogeográficas, principalmente em Come Before Christ e Murder Love (London, 1997); as primeiras referências às vezes não passam de aquiescência ao legado situacionista, mas aqui elas são sólidas e extensas, com John Dee, Greenwich e North West Passage.
21 'Smash the Occult Establishment', London Psychogeographical Association Newsletter, 6 (Beltaine 1994); 'Open Up the Northwest Passage' London Psychogeographical Association Newsletter, 3 (Lughnassadh 1993); 'St. Catherine's Hill etc.', in Fabian Tompsett, 'The Great Conjunction' (London 1992); 'East End Gesalt' in Fabian Tompsett, 'Dislocation on the Isle of Dogs', 'Transgressions: A Journal of Urban Exploration', 2-3 (August 1996), pp. 101-5.
22 E.g. 'A Estrada de Whitechapel... é um tipo de portal à sujeira e sordidez do Leste', John Francis Brewer, 'The Curse Upon Mitre Square' (London 1888), p. 66. A natureza da Zona Leste de Londres ficou ambígua neste primeiro trabalho psicogeográfico envolvendo o Estripador -- que liga o assassinato de Catherine Eddowes com os eventos do século XVI exatamente no mesmo ponto -- distinto da obra de Sax Rohmer, notavelmente 'Dope' (Londres, 1919) cujo pivô é um contraste entre West End - East End, e o livro Limehouse de Thomas Burke.
23 'La quatrième conférence de l' I.S. à Londres', Internationale Situationniste, 5 (December 1960) p. 165.
24 'Exercice de Psychogéographie', Potlach, 2 (29 June 1954).
25 'Lights Out for the Territory' (London, 1997), p. 238.
26 Roy Porter, 'London: A Social History' (London, 1994). Neste aspecto, veja particularmente o Prefácio e afterword, 'The London Marathon'.
27 Peter Ackroyd, 'London: The Biography' (London, 2000), pp. 691, 469,468.
28 Guy Debord, 'In girum imus nocte et consumimur igni' (London, [c.1991], pp. 30-31, 28, 29. The palíndromo título significa: 'Perambulando pela noite consumidos pelo fogo'.
29 Mark Manning, 'Crucify Me Again' (Hove, 2000) and Bill Drummond, '45' (London, 2000), both cited in Iain Sinclair 'If I Turn and Run', London Review of Books, 1st June 2000.
30 Louis Aragon, 'Paris Peasant', trans. Simon Watson-Taylor (London, 1971), p. 149
31 Breton, cited by Simon Watson-Taylor in his introduction to 'Paris Peasant', (London, 1971), p. 10.
32 Robert Kahn, ed. 'City Secrets: London' (New York, 2001) and Andrew Duncan, 'Secret London' (London, 1995). Duncan is the author of 'Walking Notorious London' (London, 2001).
33 Alain-Fournier, 'Le Grand Meaulnes' (Paris, 1913), as 'The Lost Domain' (London, 1929); H.G.Wells, 'The Door in the Wall'(1906) in his 'The Door in the Wall and Other Stories' (London, 1936).
34 Michael Moorcock, 'King of the City' (London, 2000), p. 180.
35 Eric Korn on 'Moorcock', Times Literary Supplement, 26 May 2000, p. 23.
36 Hakim Bey (Peter Lamborn Wilson), 'Sacred Drift: Essays on the Margins of Islam' (San Francisco, 1993), p. 157.
37 'Definitions', Situationist International Anthology, ed. Ken Knabb, p. 45.
38 A história da psicogeografia é ligada com certas práticas de andar, notavelmente flânerie [passeio] e dérive [deriva] que não devem ser confundidos. Flânerie tende a ser solitário, relativamente vagaroso, e relacionado à compra de mercadorias (vitrine de lojas, shopping centers, estacionamento, centro de compras, restaurantes, livrarias, prostitutas) em locais conhecidos. Dérive ignora mercadorias, eram freqüentemente comunais e poderiam ser cansativos, exaustivos. Chtcheglov via o dérive como um tipo potencial de livre-associação ambulante: O dérive (com seu fluxo de atos, seus gestos, seus passeios, seus encontros) foi total e exatamente aquilo que a psicanálise (no melhor sentido) é para a linguagem. Fale a vontade, deixe suas palavras fluir, diz o analista ...Chtcheglov, 'Letters from Afar', Internationale Situationniste, 9 (August 1964), p. 38 (fragment in Situationist International Anthology, ed. Ken Knabb, p. 372). Chtcheglov escreveu isto de um asilo, possivelmente La Borde, onde é dito freqüentemente que ele foi paciente de Felix Guttari. Subsequentemente o dérive encontrou ecos em Lyotard, 'Driftworks' (Dérive et partir de Marx et Freud, Paris, 1973), Deleuze e Guttari (nomadism passim, 'o passeio do schizo' em 'Anti-Oedipus').
39 Walter Benjamin, 'A Berlin Childhood around the Turn of the Century', cited in Susan Sontag's 'Introduction' to One Way Street and Other Writings' (London, 1978), p. 10.
40 Salon Wanderlust internet site, c. 1998-2000.
41 Suzannah Clapp, 'Bruce Chatwin' (London, 1997), p. 12. The street was Camden Parkway.
42 Ackroyd wrote the 'Introduction' to Dennis Severs, '18 Folgate Street: The Tale of a House in Spitalfields' (London, 2001), which began life as 'Secret House at 18 Folgate Street' (announced for Ebury Press, 1999).
43 Arthur Calder-Marshall, 'The Magic of my Youth' (London, 1951), p. 34.
44 'Pode aluguem postular uma relação entre o culto de um controle privado do mundo e um público incontrolavel que não exerce papel algum?'... Uma revista chamada World of Interiors, por exemplo, nunca floresceria uma década atrás... Nos anos sessenta, em contraste, teve sua face pública na forma de roupas... Isso ocorre como um fenômeno estranho da recessão onde o aumento do desemprego ocorre paralelamente a uma elevação das despesas com o interior privado'. Roy Strong, 'Biedermeier Revived'[c 1984] reprinted in 'Strong Points' (London, 1985), pp. 32-4.
45 Cf. Guy Debord, 'Psychogeographical Game of the Week', Potlach, 1 (22 June 1954), onde ele sugere construir uma casa a partir do nada, servindo e dando uma festa com pessoas cuidadosamente escolhidas, bebidas e 'disques'. Seria um trabalho de ambiencia calculada, ou uma 'situação' proto-situacionista.
46 Michael McMillan, 'A Sardine Sage', four-panel strip on back cover of Arcade: The Comics Revue, 6 (Summer, 1976).
47 'Isn't Space the Ultimate Luxury?' ('Espaço para pensar. Espaço para respirar. Espaço para manobrar. Espaço para ser a gente mesmo'.) Espaço Renault para anúncio de automóvel, c. 1999. O suplemento de propriedade do The Guardian também foi chamado 'Espaço', como ocorria com pelo menos dois modestos varejistas.
48 Marc Augé, 'Non-places: Introduction to an Anthropology of Supermodernity' (London, 1995; as Non-lieux, Paris, 1992). Algo disto já tinha sido abordado por E. Relph in 'Place and Placelessness' (London, 1976), um velho exemplo sobre o que se tornaria uma crescente ansiedade mais tarde na (pós-) modernização -- o turismo e a 'disneyficação' -- conduzindo a locais superficiais com identidades permutáveis: 'não-lugares'.
49 David Mitchell, 'Ghostwritten' (London, 1999), p. 217; Thurston Clarke, 'Searching for Crusoe' (London, 2001), pp. 9-10; Philip Hensher, 'Pleasured' (London, 1998), p. 68.
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