Com o estouro das revoluções socialistas na Europa e na Ásia, tendo URSS e China como grandes modelos, e ícones como Lenin e Mao Tsé-tung, estava nascendo o perfil revolucionário que se espalharia pelo mundo na época pós-moderna, com faces sempre retraídas e olhares mortais. O homem socialista não criou o devido espaço para o divertimento. Sua máxima sempre foi trabalho, com agravantes como a época stalinista e a Revolução Cultural maoísta. Várias etapas do que muitos chamam de Socialismo Real (o qual não se pode contestar que foi real, mas pode-se contestar se foi realmente socialismo) foram vividas no silêncio. Sendo que esse é uma das mais perversas formas de tortura. Amputa-se uma parte do ser quando se abstrai sua possibilidade de comunicação. Porém, mais que silenciado era o povo. Não se tinha motivo para rir. Ou seja, não se tinha motivo para a expressão máxima de felicidade do ser. É óbvio que nem todos seguiram tal linha “mal-humorada”, embora essa talvez até se adapte bem a algumas das várias culturas européias e asiáticas. Quando o fervor revolucionário socialista chegou à América Latina, o dogmatismo e a frieza sofreram vários atentados.
A figura que se levantou como símbolo popular latino-americano foi a de ninguém menos que do guerrilheiro Ernesto “Che” Guevara, a qual passou a rivalizar tendências quando posta de frente com o símbolo euro-asiático: Lenin. Esses dois representam perfeitamente a opção seguida por Europa e América na linha socialista e revolucionária. Lenin possuía um semblante frio. Político extremamente calculista, Lenin aparecia sempre com o rosto sério e confiante. Guevara era o eterno aventureiro, se entregava às paixões perigosas, contestador, capaz de sorrisos e gestos obscenos quando julgasse necessário. Mais especificamente no Brasil , principalmente aqui em Bauru, tanto o típico modelo europeu (aqui representado na figura de Lenin) quanto o modelo latino-americano (aqui representado na figura de Che) sobreviveram e estão aí até hoje. Porém, por incrível que pareça, o modelo predominante na esquerda de Bauru é o que vem do velho continente, embora se tenha uma grande mistura deles no final das contas, cheia de distorções e com velhos e novos dogmas.
Essa bizarra figura que ronda Bauru, esse projeto mal-acabado de militante é o que predomina hoje nas faculdades, partidos, conferências, entidades, conselhos municipais e em todos os lugares em que se fale em política aqui na nossa cidade. O militante das contradições leva preso no seu sovaco sempre um livro de Marx (ou de qualquer outro autor) e se resume somente a esse tipo de leitura, não sai das sessões da Câmara, gosta de frases cheias de economicismo e se julga o detentor de todo o saber, com frases ensaiadas do tipo: "Nós já sabemos o que o povo quer e do que precisa, perguntar-lhe seria uma perda de tempo" e outras do tipo, não sabendo falar a linguagem da periferia, onde só enfia a cara em época de eleição, adora estar em em congressos, conferências e plenárias, só faltando sair no braço para ser eleito delegado para as etapas estadual e nacional,onde em vez de debater, ele só vai para passear e mais nada, porém seu grande prazer é acabar a noite em uma das milhares de chopadas compartilhadas com os amigos da faculdade ou do partido.
Falar às massas tem sido grande dificuldade tanto dos jovens quanto das velhas raposas da política de nossa cidade. Como falar a um povo de analfabetos políticos? Prefere-se então não falar e a população da periferia de Bauru se vê excluída politicamente. É bem verdade que o próprio povo acabou retirando o corpo devido ao mar de lama em que transformaram o ambiente político bauruense, porém o que era obrigação dos ditos revolucionários consertarem, tem se transformado em vergonha. Tanto esquerda quanto direita de nossa cidade, não sabem falar às massas.
Aí que está a importância da adaptação do socialismo para o povo da cidade Sem Limites. Humor político é uma das (se não a) mais brilhantes maneiras de falar ao povo bauruense. Entrar na cultura do povo, das peladas na rua, do jogo do bicho, das batucadas no boteco, do subúrbio e da periferia é ver um povo que mesmo sofrido sempre arruma uma maneira de se divertir e rir ao final. A linguagem que o povo brasileiro entende é a linguagem do sorriso, do deboche, da ironia. O humor é a linha política dos trópicos e a tendência que deveria predominar em uma cidade como Bauru. Infelizmente alguns de nossos políticos preferem a exclusão das massas da política local e assim as massas preferem não fazer parte de tal política que nos faz rir só se for para não chorar.
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