“ A desigualdade não deve acabar. Ela deve continuar como está, a não ser que o Brasil ganhe muito dinheiro, o suficiente para sobrar um pouquinho para os pobres.(...) Isso é por que não compensa tirar dinheiro dos ricos e dar para os pobres, pois eles vão gastar tudo em pinga (...) Além do mais, essa é a vida: uns tem que trabalhar e se dar mal para outros se darem bem (...) O que devemos é continuar iludindo os pobres com melhorias e acabando com eles ao mesmo tempo”.
Este parágrafo de introdução é fruto de uma abordagem feita com alunos de uma faculdade onde eu estudo. O que foi pedido, é que se desenvolvesse uma redação em que fosse apontadas algumas soluções “criativas”, “fictícias”, “imaginárias”, mas que fossem também eficazes para uma completa extinção da desigualdade entre classes no Brasil.
Apesar de ser fruto de imaginação fértil, as palavras acima, em especial, me fizeram refletir sobre como funciona a verdadeira realidade da sociedade brasileira.
Vamos por partes.O Brasil gera cada vez mais riquezas, se firma no cenário internacional como pais bonzinho, que se preocupa em pagar suas dívidas pontualmente (o FMI que o diga!), bate recordes em exportações, auto-suficiência em petróleo, é líder da diplomacia dos países “em desenvolvimento”, tudo isso e muito mais.
Já, no plano interno, o pobre fica com o troco da pinga, com a merreca, com as ditas “melhorias”, que não passam de esmolas que calam a boca de alguns críticos e do povo, este que sempre acha que sua vida um dia vai mudar ou pelo menos melhorar. Nas mãos de quem? Da elite? Podemos esperar sentados. Ou não.
A maioria reconhece o enorme abismo social que existe no Brasil, sabem que a situação deve mudar urgentemente, sabem dos motivos de tanto atraso. Pobreza, corrupção, má distribuição da renda, passado histórico de colonização estrangeira. Portanto, a consciência do caos está presente na mente da maioria das pessoas e o problema está exatamente aí: está apenas na mente das pessoas.
O que mais pude acompanhar nas redações, é que o Brasil é um país rico, porém injusto e, o que “atravanca o pogréssio” é a latente falta de igualdade.
O termo desigualdade social tem como sinônimo, classe social. Em sua versão contemporânea tem origem na economia, no capitalismo. Quando é dito “versão contemporânea” significa que a desigualdade ocorre também por outras formas. No Brasil, desde o início de sua exploração, há 506 anos atrás, ela tinha fundamentos políticos - jurídicos, ou seja, éramos dominados por outro país, assim como, submetidos às suas leis. A sociedade de estamentos não permitia tanta mobilidade social (será que hoje podemos comemorá-la?) e a economia de mercado não tinha se desenvolvido por completo em nosso país. Com a “independência”, “abolição da escravatura” e a republica, herdou-se os mandatários antigos, suas bandeiras, sua força. O trabalhador se tornara livre e agora tinha um salário, que maravilha ! Nada adiantava. As relações de mercado foram aumentando, a produção também e consequentemente a exploração do trabalhador. A dependência com relação ao patrão continuava, só que agora o trabalhador pagava sua comida e moradia, pagava para trabalhar na realidade. Ele tinha lazer? Não. Tinha descanso? Não. Nem o chamado essencial para a vida. Com seu pequeno salário contraia dívidas, não tinha como pagá-las e o fazia com seu trabalho, estabelecendo aí uma nova situação de escravidão no Brasil. Se compararmos a sociedade brasileira contemporânea com os tempos da escravidão negra, veremos que ela se mostra tão excludente como a das antigas.
Hoje, o que vale mais não é tanto a força física, mas sim o poder de persuasão. Temos como dominante a idéia de falsa democracia, plantada pela ideologia burguesa financeira, apoiada pela mídia, mercado, herdeiros políticos dos antigos senhores de terras, etc... Sua penetração é tão forte que o que nos faz te ruma vida intranqüila e difícil, funciona também com o antídoto, o “salvador da pátria”, capaz, de um dia para o outro se transformar no oásis de riqueza e fartura, que todos poderão desfrutar, com certeza. A vida se resume neste pensamento. Entenda – se por vida dentro da ordem capitalista.
Desigualdade existe, muita, e ela precisa acabar com urgência! Mais quando se é perguntado o que fazer para acabar com ela, temos respostas vazias, quase sempre relacionadas a um aperfeiçoamento do capitalismo, que é justamente a principal causa de todo esse mal. Dentro da ordem não se faz revolução! Como diria um colega...
Enquanto isso, infelizmente, o brasileiro é feito de bobo. A classe alta luta para se manter no poder, a média sonha em ficar alta, e a maioria, pobre, assiste a tudo sem saber como e porque lutar, e sem forças para isso, acaba por tentar encontrar maneiras de driblar, contornar sua situação: é o que chamamos de “jeitinho brasileiro”. Nossa “malandragem”, “esperteza”, “improviso”, tão elogiado por todos como um dom que o brasileiro tem. Por favor, vamos parar imediatamente com essa putaria!
A história nos mostra que a revolução somente acontece em casos de extrema convulsão social, em tempos de tal descontentamento da maioria, que a pressão fica insuportável e a massa explode. Porém, toda revolução precisa de organização, conhecimento da causa, sonhos, aspirações. Neste ponto o brasileiro ainda parece confuso, ajudado é claro pela enorme “propaganda de guerra da burguesia tupiniquim”.
Nós temos condições de viver num país melhor, sem as amarras da burguesia, o problema é que a maioria não sabe, ou simplesmente não pode saber, já que a educação representa um enorme perigo para manutenção do poder constituído.
Sempre seremos uma maioria alienada nas mãos de um gigante guloso. Algo possível seria tentar derrubá-lo, mas a questão ainda paira no ar para a maioria: como? Baseando-se em suas reflexões e conclusões, tente responder...
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