16 de agosto de 2011

Sou um ser humano imperfeito com olhos imperfeitos, porém, feliz.

Pensando sozinho, aqui na sala de minha casa (que na verdade não é minha, é onde meus pais escolheram para eu morar), cheguei a algumas conclusões sobre o comportamento deste indelével ser chamado homem.
Por que não somos perfeitos? Adão e Eva realmente são muito sacanas, ou seria Deus? Eu gostaria de saber se, no lugar da maçã, eles tivessem comido quiabo (argh!).O “legume proibido”. O que poderia nos acontecer?
Ainda bem que não somos perfeitos! Com os meus olhos imperfeitos, vejo que seria um tédio. O que seria do mundo sem pobres, sem injustiças, sem preconceitos, um mundo completamente igual, sem sofrimento, sem dor? O que seria de nós sem a adorável televisão e suas atraentes propagandas dizendo que se seguirmos suas dicas de como sermos felizes, seremos felizes e assim continuaremos sempre? Minha bisavó, coitadinha, não era nem um pouco feliz, pois a propaganda diz que na sua época não existia “aquele” remédio para a sua dor de cabeça. Pelo contrário, hoje eu estou radiante por contar com tantos aliados contra este terrível mal. E como o que importa é a minha felicidade, azar da coitadinha da minha bisavó. Temos também tecnologia avançada e ela é boa! Traz praticidade, conforto, longevidade e muito, muito mais tempo para aproveitarmos todas as coisas boas de nossa vida, tanto que, muita gente simplesmente larga seu emprego para dar lugar a máquinas mais poderosíssimas que produzem muito mais, só para poder usufruir melhor de suas benesses.
Tenho certeza de que somos felizes! Muito felizes. Isso, devido à nossa incrível capacidade de sonhar, idealizar e realizar as coisas. TER carro, TER televisão em todos os cômodos de nossa casa (inclusive na casinha do totó), TER condições de ir a um bom restaurante,TER dinheiro para comprar aquelas coisas caras no novo shopping da cidade, quando só se é permitido olhar a vitrine, e babar, e sonhar , e idealizar... e ser feliz.
Extraterrestres existem! Corram todos! Gritem! Esperneiem! Sintam medo! Sou muito mais perigoso do que pareço!
Que nada! Sou um extraterrestre humanizado, domesticado a tal ponto de não conseguir viver como um extraterreno digno de meu planeta de origem. Adquiri vícios: bebo (e quando eu bebo demais, até fumo), assisto televisão, jogo futebol, sonho e idealizo a todo instante. Aprendi a mentir, a comprar, tenho um MP3 player e bebo coca-cola. Sou orgulhoso. Nunca em minha vida pus um de meus dois pés em um McDonald’s da vida. Já protestei contra as altas tarifas de uma empresa de ônibus e utilizei este mesmo ônibus para me deslocar à minha casa após o protesto. Acho que, por isso, e somando-se às minhas qualidades e pouquíssimos defeitos, tenho boa cotação na bolsa de valores do céu. Porém, me preocupo com os humanos. O seu destino é aquecido no caldeirão do capeta, sua própria criação.
A vida é paradoxal demais para ser vivida. Preciso de emprego, minha cidade precisa de indústrias. Como quer que eu arrume um emprego? Tem outra idéia melhor? O caldeirão do capeta precisa de mais lenha. Vi na televisão que estão nos dando poucos anos de vida se continuarmos nesse ritmo. A guerra, a seca, a pobreza e toda a nossa felicidade. Sim, somos felizes, e isso não é paradoxal?
Por favor, queimem mais florestas! Digo... lenha. Aqueçam o caldeirão do capeta, está saindo muito pouca fumaça. O cheirinho está ficando bom. É dióxido de carbono. O Sr. Progresso da humanidade adora este prato, tanto que o repete várias vezes. Ser vivo ao molho pardo, ou seria molho rubro, de sangue.
Como extraterrestre totalmente lúcido que sou, pelo menos estou tentando mudar o mundo à minha volta, mas, o que eu gostaria mesmo era voltar ao meu planeta de origem. O problema é que eu não sei mais qual é. Aliás, quem sou eu mesmo? Sou um E.T humanizado, e domesticado, e contraditório, e mesmo assim capaz de ser feliz como qualquer ser humano. A diferença é que não existe diferença. Somos demasiadamente iguais, seres não perfeitos, com olhos imperfeitos e felizes. Tudo isso por causa de uma simples maçã. Se pelo menos fosse um pé de quiabo!

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