10 de junho de 2010

Novas Balizas da Educação Popular

Apresentamos aqui no Boteco do Valente, algumas reflexões do Frei Clodovis Boff sobre Educação Popular (EP). É o que ele está chamando de “balizas” que apontam para novos caminhos da EP, apontam para novas idéias e prática.Estas reflexões surgiram da partilha de experiências de agentes de EP da América Latina e Caribe.

1 – Subjetividade

Subjetividade afetiva, emocional. Do “ego” psicólogo e do “eu” pessoal. Cultivo das relações intersubjetivas. Com familiares, amigos, próximos, integrar o cotidiano. Não descuidar do lazer. Cuidado de si: saúde física e mental. Sentir-se bem. Importância de ser Ter uma subjetividade rica, feliz. De sentir-se auto-realizado. Melhor: auto-realizando-se. Estar centrado.

2 – Alternativa

Ser mais positivo que opositivo. Mais alternativo que negativo. Mais positivo que “do contra”. Frente ao sistema vigente, privilegiar o diferente, o que constrói o novo. Assim, se realiza o futuro-já. Se faz já a nova sociedade. Ou não se faz nunca. Não ficar esperando o “grande dia”. O “amanhã” chega com realizações micro hoje.

3 – Flexibilidade

Fugir de toda rigidez: coisa de morto. Eterno? “Enquanto dura”. Jogo de cintura. Relações soltas, móveis. “Pensamento fraco” no campo das mediações. Sentido do provisório. Para acompanhar a rapidez das mudanças. Valorizar tudo o que é nascivo, frontal. “O novo”. Mas também não o culto do “novo pelo novo”. Necessária referência ao permanente. Para manter a capacidade de criticar e escolher. O permanente são os princípios. Nesse campo sustentar um “pensamento forte”. A coragem das próprias convicções.

4 – Globalização

Hoje é impossível uma educação à parte. Isolada como era possível até 10 anos. Hoje tudo está ligado a tudo. A EP está dentro de uma realidade global ou globalizada. Entender da dinâmica global que atravessa hoje o mundo.Para situar aí o trabalho educativo. Portanto: “agir localmente, e pensar globalmente”.

5 – Feminino

Não é só mulher. É dimensão geral do Humano. De todo o Humano: mulher e homem. E é também dimensão da sociedade e da cultura. É a dimensão da vida, da atenção, da ternura, da intuição, da sensibilidade, da presença, da companhia, da misericórdia, da beleza, da graça, do cuidado. É a dimensão da vida, da atenção, da ternura, da intuição, da sensibilidade, da presença, da companhia, da misericórdia, da beleza, da graça do cuidado.

6 – Raízes Culturais

A força está na raiz. Cultura é raiz. O barco do movimento popular afundou? Não, só mudou de oceano. Navega hoje mais no cultural. Menos no econômico (sindicato). E menos no político (partido). Está nos movimentos de gênero, de etnia, de espiritualidade, da cultura moderna, da pós-moderna. E aí surgem os “novos sujeitos”: a mulher, o negro, o índio, o jovem. O místico. As revoluções têm na cultura sua raiz. Embora não seus galhos (organizações). E nem seus frutos (projetos). “a revolução não começa na rua, mas na cabeça das pessoas. Depois vai pra rua” (Mário Benedita, escrito uruguaio). As revoluções mais profundas são as simbólicas, culturais. Elas são matrizes de revoluções sociais e políticas. Elas vão mais fundo: mudam as subjetividades, as mentalidades. Elas vão longe. Duram mais.

7 – Gratuidade

Crescer em capacidade de admirar. De contemplar. De experienciar: beleza, arte, amor. Não funcionalizar tudo: isso é “para” aquilo. E os valores autofinalizados, que valem-por-si-mesmo? Amor é para algo? E a pessoa: é fim não meio. Qualquer pessoa. Pobre não é para a revolução, a revolução é para pobre. Fugir da febre produtivista. Do “mostrar serviço”. Da eficiência? Em prejuízo da eficácia. Buscar mais a qualidade que a quantidade. Não se deixar enredar na “lógica do interesse”,que reina na atual sociedade mercantilizada.

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