Morto pela polícia militar em 1979, Santo Dias virou sinônimo da luta operária contra a desigualdade; quase 31 anos depois, uma pequena multidão ainda se reúne no local do crime para não deixar apagar a memória do militante, e sua lembrança continua assombrando os poderosos até o dia de hoje.

O rito ocorre todos os anos desde que Santo Dias da Silva, operário e militante da Pastoral Operária, foi morto pela Polícia Militar em frente à fábrica Sylvania, na Zona Sul de São Paulo. O crime aconteceu enquanto Santo Dias distribuía panfletos convocando operários para uma greve..
Na última terça-feira (30), cerca de 80 pessoas compareceram à antiga portaria da fábrica, que nem está mais lá. A maioria tem cabelos brancos, já passando dos 60 anos, mas continua, de alguma forma, o trabalho deixado pelo operário: "É importante não deixar apagar a chama", afirma o companheiro de luta Nelson Nakamoto, 55, que hoje trabalha na Agência de Desenvolvimento Solitário da CUT.

Estandartes de outros mártires, como Chico Mendes e Irmã Dorothy, são colocados ao pé do túmulo de Santo Dias, onde o padre Jaime Crowe, 62, reza uma missa. Quase três décadas depois do assassinato, a memória do lavrador que veio de Terra Roxa (SP), transformando-se depois em operário e lutador, ainda tira lágrimas de alguns amigos.
A história de Santo Dias se cruza com a de vários líderes da esquerda brasileira que fundaram o Partido dos Trabalhadores (PT), criado três meses após o assassinato do operário. Muito ligado à Igreja Católica, Santo militou, nos anos 60, nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Na década seguinte, ajudou a fundar a Pastoral Operária da Arquidiocese de São Paulo e, em plena ditadura, participou do Movimento do Custo de Vida, exigindo preços mais baixos e salários mais altos para os pobres. Em 1978, chegou a disputar, pela oposição, a direção do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, mas não venceu.
Em outubro de 1979, pouco depois da edição da Lei da Anistia, Santo era um dos líderes de uma greve que reunia cerca de seis mil metalúrgicos em São Paulo. Em uma panfletagem em frente da fábrica Sylvania, a polícia tentou prender alguns de seus colegas. Num momento de tensão ( o mais correto é isso foi feito num gesto totalmente covarde, pois jamais se atira num homem desrmado !), o PM Herculano Leonel o baleou pelas costas. Santo tinha então 37 anos. Deixou dois filhos e esposa.
A morte do operário ajudou a fervilhar o clima pelo fim da ditadura. Dezenas de milhares de trabalhadores - alguns veículos citam 15 mil, outros 30 mil - compareceram ao velório de Santo Dias na Catedral da Sé, em 31 de outubro daquele mesmo ano. "Quase nada está certo nesta cidade, enquanto houver duas medidas: uma para o patrão, outra para o operário.", discursou Dom Paulo Evaristo Arns, presidindo a missa de corpo presente.

No cemitério de Campo Grande, onde esse tão aguerrido operário se encontra sepultado, a sua lápide chama atenção entre os jazigos mais pobres.

O PM foi condenado a seis anos de prisão em 1982, mas recorreu e o processo foi arquivado. A história de Santo Dias, não. Seu nome imortalizou-se em ruas, parques, pontes e no Centro Santo Dias de Defesa dos Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo. A vida do operário foi traduzida em livro por Luciana Dias, Jô Azevedo e Nair Benedicto.
Em 2004, sua filha Luciana Dias, a jornalista Jô Azevedo e a fotógrafa Nair Benedicto lançaram o livro "Santo Dias - Quando o passado se transforma em História". Na obra, elas registram a biografia do líder operário e analisam o contexto do movimento sindical no final da ditadura.
Entre as dezenas de parentes e amigos que comparecem todo dia 30 de outubro à missa sobre a lápide de Santo Dias, alguns comemoram conquistas - como a liberdade que veio com a abertura política - e muitos ainda lutam por necessidades que não foram satisfeitas. "Santo morreu pensando que 28 anos depois a violência teria diminuído, acabado. Minha prece é a de que ele realize seu sonho de paz", declara Mauro de Queirós, 75, companheiro da Pastoral Operária.

SANTO DIAS, GUERREIRO, DO POVO BRASILEIRO!
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