“Se o século 20 provar alguma coisa, é a futilidade da política.”
(Peter Drucker, em Administrando em Tempos de Grandes Mudanças).
Ainda bem que as pessoas estão desaprendendo. Estão construindo um novo aprendizado, onde as novas disciplinas agem à maneira da água que ocupa o vasilhame e gradualmente vai expulsando as bolhas de sabão. As pessoas estão aprendendo a deixar de serem bolhas –– frágeis, vazias. Querem ser resistentes e com conteúdos.
A história de países como o Brasil está cheia de exemplos de maus políticos e de políticos de maus exemplos. Esses políticos instauraram uma pedagogia criminosa: são mestres da educação para a passividade (dissimulada de paciência). Ensinam o medo (travestido de comodismo). A covardia, disfarçada de resignação.
É a política da exclusão do ser e da negação do ter: o político é descarado, mascarado ou mal-encarado (ou tudo isso junto); sua política, sem-vergonha, sem-caráter; seu povo, sem-terra, sem-teto, sem-renda, sem-educação, sem futuro, sem nada. Não são políticos que inspiram seu povo a libertar-se. São políticos que não adicionam valor –– embora subtraiam rendas. Não são políticos empreendedores. São políticos prendedores. De bem feito, só o malfeito. A matéria-prima de seu poder é a dependência, não a competência.
Disseram que em 1992 fomos “revolucionários”, levando um presidente ao impeachment. Mas o que ocorreu em 92 no Brasil foi obra de um povo dependente, e não de uma população competente. Dependência e competência, são, digamos, situações que se confirmam na história; e a história político-social do Brasil não está propriamente marcada por um povo competente, isto é, que tivesse consciência do que queria, que soubesse seu rumo e que tipo de líderes deveria facilitar-lhe a consecução de seus objetivos. Dependência e competência são mutuamente excludentes: pessoas competentes não são dependentes –– podem até estar juntas, mas não serão uma só e mesma coisa. Dependência é estado; competência, uma qualidade.
Por isso, em 1992 o que aconteceu foi uma tremenda revolta, não uma revolução. Foi uma abençoada revolta, uma santa indignação. A revolta muda as pessoas do poder. A revolução muda o poder das pessoas –– mostra às pessoas que elas são o poder. O movimento de 1992 foi feito por revoltados, não por revolucionários. O revolucionário preexiste à revolução. Uma revolução inicia-se pelo nível da consciência. Uma revolta, pelo nível da emoção. O que se inicia pela consciência fortalece a emoção; o que começa pela emoção, fragiliza a consciência. O revolucionário tem consciência da necessidade. O revoltado tem necessidade da consciência.
Agora em outubro, entretanto, os brasileiros têm novamente a oportunidade de promover, esta sim, a verdadeira revolução: a que se deflagra a partir da consciência da necessidade de uma ação hoje para a transformação do amanhã, a partir da correta escolha de prefeitos hoje. A mesma empolgaçao que temos quando a nossa seleção entra em campo na Copa do Mundo, vamos ter pra fzaer nosso país melhor, porque 4 anos não são 4 dias!
Futuro é referência. Ele nunca existirá, exceto como comparação entre dois passados: o passado que é, e o passado que será. Quando digo que a sociedade brasileira de amanhã será melhor, estou apenas me permitindo inferências (que creio corretas) lastradas no cotejamento de passados de agora e de outrora.
Portanto, futuro é dia-a-dia. É cavucar e cavoucar, ou seja, trabalhar muito e abrir alicerces. E o mais sólido alicerce de uma sociedade é um povo informado, consciente, crítico, participativo, educado. A educação asseia um povo, física, mental e moralmente. E isso fica menos difícil quando os governantes optarem, por exemplo, por edificar professores, e não prédios: melhores salários, maior assistência, contínua reciclagem, currículos honestos, que busque o ser e lhe repasse os valores sobre os quais se forma a consciência crítica e com a qual se conquista –– e se exercita –– a cidadania.
Mais uma vez o povo pode mudar seu País, a partir do município. O Brasil é dos que a ele amam, e não dos que nele mamam. Estes têm de ter cortado o bico: um país, afinal, é uma res publica, não uma cosa nostra.
Saravá, Brasil!
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