1 de agosto de 2011

Mensagem do Boteco do Valente à Populacão e Ao Poder Público pelos 115 Anos de Bauru

Antes de tudo, nós do Boteco do Valente gostaríamos de dar os parabéns a cidade de Bauru por completar não apenas 115 anos de existência, mas 115 anos de um povo que luta contra esse sistema injusto. 115 anos de uma sobrevivência difícil em um país onde as mídias que são reconhecidas e têm espaço são justamente aquelas que defendem única e exclusivamente os interesses das classes mais abastadas da população.

Hoje estamos todos aqui reunidos para aglutinar forças contra esse sistema neoliberal. É preciso entender que depois que sofremos um golpe duríssimo:depois de Nilson Costa ter sido duas vezes cassado, começou o governo de Tuga Angerami, que nos afundou no neoliberalismo. E, nas últimas eleições, mesmo depois do tamanho fuzuê que saiu nas Cerejeiras, muitos continuaram acreditando na possibilidade de mudança com o governo Rodrigo Agostinho. Resultado: estamos hoje no meio de uma crise política, tantto a esquerda quanto o movimento popular bauruense estão extremamente fragmentados, praticamente saindo uns com os outros na porrada por causa de um, ou melhor, uns carguinhos de confiança dentro da Prefeitura Municipal de Bauru, e você sai pelas ruas e as pessoas dizem: “não quero mais saber de política, isso não serve pra nada, político é tudo igual...”

O povo bauruense tem a mania e a cultura de esperar por messias: se aparece o Izzo, tá bom, afinal iniciamos um período democrático em nossa cidade (e, não esqueçam, que ele era popular no meio do povão). Agora vem o Nilson  Costa, que nem fez bem um ano que ele entrou, já cassaram. Agora vem o Tuga, a cidade tá uma porcaria. 2008, apareceu o Rodrigo, é agora... ele é jovem,, inteligente, esportista, ambientalista, bonito.  O povo tem que ter em mente que quem faz a história é o próprio povo. Pode pôr no poder Izzo, Nilson Costa,Tuga, Rodrigo Agostinho, o cacete, só vai mudar quando o povo estiver consciente que é ele que faz transformações sociais profundas, que ele que alterar a economia, a política e a cultura de uma cidade.

Enfiaram na cabeça do povo que ele não tem tradição de lutas. É papel da esquerda alertar sobre essa mentira. Temos como exemplo em nossa história o Quilombo dos Palmares, Canudos, Contestado, Coluna Prestes e muitos outros.

Chega com essa mania de o povo bauruense ter que engolir o boi com chifres e tudo, seja bom ou ruim. O que é ruim , nós temos direito de chegar e pedir mudança. Política não é só de 2 em 2 anos não, quando tem eleição. Política são as relações dos seres humanos todo os dias. E nós temos todo o direito de dar um basta ao que não suportamos mais e que não é de nossa vontade.

Vou dar um exemplo bem pequeno, coisa bem simples, não estou nem entrando no mérito de fazer revolução não. Aqui, em Bauru, bem no começo de 2011 aumentou a passagem do ônibus e a gente não faz absolutamente nada. Quando aumentou pra R$ 2,40 teve gente torcendo, rezando, botando santo de cabeça pra baixo pra aumentar logo pra dois reais e não precisar ficar carregando de troco as moedinhas de 20 centavos porque moeda é um negócio chato. É essa a mentalidade do povo que faz mudanças políticas? Onde está o movimento estudantil, que tantas vezes botou a cara na rua pra pedir o Passe Livre? Se acovardou agora? Olha que com disseram uma vez Teodoro e Sampaio.... QUEM TEM....TEM MEDO!

Não podemos cair no erro, também, de subestimar o sistema. Fazemos essa reunião aqui, sai todo mundo empolgado e achamos que o neoliberalismo vai acabar amanhã. A luta antineoliberal será difícil e duradoura. Esse sistema atua em todas os espaços: Economicamente: vende nosso país para as empresas internacionais. Politicamente: mantém o povo sem participação e dá poder a uma minoria. Culturalmente: impõe o consumo massivo à produção industrial, além de como falamos, deixar a população sem conhecer suas raízes e sem ter referência de lutas².

Estamos diante de um inimigo que atua atento para as minúcias e nós temos que estar atentos também. Até um vocabulário próprio esse sistema criou. Esse, que diz ser o sistema da liberdade e da democracia, faz sua ditadura, sua opressão até através das palavras. Ocupação de terras e de moradias eles chamam de invasão. Como se os trabalhadores não tivessem direito à terra e casa. Governos que não seguem a cartilha estadunidense são chamados de ditaduras. Analisemos: depois do Bush que ganhou por eleições fraudulentas, veio o Obama, fazendo uma cagada atrás da outra,  governando um país onde a população negra é oprimida e excluída, invade países através de guerra e é tido como exemplo de democracia. Enquanto governos como do Chávez e do Fidel Castro são ditaduras. Mas como pode isso? O Fidel Castro envia médicos para tudo que é lugar do mundo, o governo dá escola e saúde de alta qualidade gratuitos. Já o Chávez ganha quantas eleições quiserem fazer, faz círculos de inclusão social... oras, tem algo errado aí. Outro exemplo: as FARC são tachadas de terroristas narcotraficantes. Então, os Estados Unidos tem que ocupar o território colombiano, mesmo que gaste fortunas. Mas, pergunto, quantas campanhas eficientes de combate às drogas os Estados Unidos se preocuparam em fazer dentro do próprio território.

A esquerda de Bauru não pode cair nessas armadilhas e priorizar a luta consigo mesma. Tem gente que perde tanto tempo dizendo: “Sicrano é feio.  Fulano é bobo. Beltranos são pelegos”, esquece que tem um inimigo muito maior que só será derrotado com a união dessa esquerda.

Mais do que nunca, nossa cidade, para continuar vivendo, clama por uma aliança progressista contra o neoliberalismo. Temos que agir, como estamos fazendo hoje, reforçando essa aliança internamente. Temos, também, que reforçar essa aliança internacionalmente. É preciso sentir profundamente a dor de cada pai palestino ao perder o filho. É preciso sentir, no fundo do nosso peito, a dor de cada combatente iraquiano. É preciso sentir, com toda a força, as agruras que afegãos, bolivianos, colombianos, cubanos, venezuelanos e qualquer povo do mundo sofra ao enfrentar o capitalismo. Só dessa forma sairemos vitoriosos dessa luta que nos levará a uma cidade melhor e extremamente possível.

Bauru, 1o. de agosto de 2011.
115 Anos  de Emancipação Político-Administrativa de Bauru
 
BOTECO DO VALENTE
BAURU, INTERIOR PAULISTA, BRASIL

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