O malandro já nasce blindado. Sua filosofia de vida é que chapéu de otário é marreta e para ele, malandragem é virtude. O seu maior herói é o João Sem Braço. Sempre joga nas dez e bate com pau de dois bicos! Quando o besouro sem asa vem no “zig”, ele já está no “zag” e vice versa... Por não ter escola, vive de expediente. Passa o dia e a noite pirulitando pelo mundo sem cancela. Mesmo dormindo ele é perigoso, pois leva a fase REM pensando em como aplicar o 171 na população ordeira. Quando o otário (sua vítima) acorda, já está aplicado por antecipação. Para o malandro, o mundo está cheio de jurão e pato abarrufado!
Em sua homenagem, Wilson Batista cantou: “navalha no bolso/eu passo gingando/provoco e desafio/eu tenho orgulho/em ser vadio”. Bezerra da Silva, notório admirador e divulgador da malandragem, ele mesmo um autêntico malandro das favelas do RJ, sempre cantava que: “malandro é malandro, mané é mané!”.
O malandro é tão lesivo que se você estiver no caminho dele, somente levará a pior. Se você for aplicado por ele e der queixa na polícia, durante a acareação ele provará ao delegado que foi você quem o lesou! Se você o levar às barras do tribunal, o malandro arranja defensor de graça, ganha a ação e você ainda pagará as custas do processo... Se ele for condenado, não terá grana para pagar coisa alguma, logo será libertado dado ao escândalo feito por sua mãe e suas quengas, na porta do delegado e do juiz. Liberto, o malandro mexerá os pauzinhos e fará tudo para lhe dar outro prejuízo ainda pior.
Se você perder a paciência e o executar com seis petardos na caixa torácica, vai ter que pagar o enterro, as custas do processo, os advogados e a famigerada pensão da mulher dele pelo resto da vida, além da ajuda de custo da mãe (dele) doente! Você então entenderá a máxima de Balzac: “As mulheres amam por excelência as contradições, as incoerências e os maus sujeitos.”.
Se ele escapar do atentado, o que é muito comum, além das despesas processuais, você arcará com as despesas médicas, hospitalares, remédios, fisioterapia, indenização e a feira da quenga pelo resto da vida... Na prática e, mesmo indiretamente, você financiará até o bagulho que ele queima para arejar o cabeçote.
Se ele, por um milagre, escapar de tudo isso ileso, você mudará de cidade para se livrar da vendeta (vingança) e ele acabará por descobri-lo. Aí, a fera serrará o cano de uma 12 e irá montar campana na sua cola. Quando você estiver todo relax arriando a massa numa pescaria, o malandro aparecerá por detrás de uma moita alta, atira e você virará tábua de pirulito... Morrerá com a bermuda presa nas pernas recendendo um baita bafo de cachaça e todo lambuzado de coliformes fecais.
Existe o malandro, o malandrinho e o malandreco. Os dois últimos são auxiliares operacionais. Ficam com uma parte do que foi aplicado. Tem o falso malandro; aquele que desse o morro balançando que nem pato. Não confunda o malandro com o mala sem alça e nem o mané com o jurão. O malandro e o mané são tribais.
Ainda não falamos de mais dois tipos de malandro que Deus fez de prima qualidade. Uma delas é a mulher que “faz vida na noite” e perfuma a existência dos que sofrem dos males do amor. Tudo nela é doce, na medida exata para encantar o otário. A outra coisa é o baiano. Ele foi criado apenas para aplicar em você e lhe provar que você é lóqui. Ele é campeão em tudo! Mais malandro do que o carioca.
Ele como tem axé dos Santos e Orixás, vão te deixar babando, enrolado e com quebranto de encruzilhada. Ponha uma coisa na sua cabeça, o carioca diz que é malandro e faz a malandragem só na conversa. O malandro baiano nega que faz e faz. Já que falamos no baiano, veio à recordação a coisa mais encantadora que Deus fez para o mundo. A baiana. Ela é uma verdadeira rainha Sherazade das Mil e Uma Noites nos Jardins Suspenso dos Orixás.
Basta ela ligar para você e emitir, em espirais metálicas o seu canto de enfeitiçar, seu filtro de sedução e amor: venha cá Paim! E você vai arrastando no chão, como um cachorrinho na coleira, mas vai. Ela é pura magia! Você vai morrer delirando! Já fui feliz vítima de uma “mãeinha”. Foram os mais prazerosos anos da minha vida de artista das estradas do mundo. Faria tudo de novo, mesmo sofrendo.
Para dar cabo do malandro tem que usar bala dum dum curtida no alho com azeviche. Dormida no Ebó em Codó (MA) e lavada com água do Rio Paraguaçu. E viva o malandro e a malandragem!
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