3 de agosto de 2011

Músico gaúcho é processado por rap contra salário de deputados

Uma representação ao Ministério Público, assinada por Giovani Cherini (PDT) quando ainda era presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, resultou em processo por crime contra a honra (que honra tem safados disfarçados de representantes do povo, que enfiam nosso dinheiro dentro de meias e cuecas?) para o músico gaúcho Tonho Crocco.

Ele fez um rap no qual chamava de “gangue” os 36 deputados que aprovaram aumento de 73% em seus próprios salários, em dezembro do ano passado. Nesta semana, recebeu uma intimação para uma audiência preliminar no dia 22 de agosto, da qual Cherini também vai participar.

Procurado pelo site Sul21, Giovani Cherini negou que estivesse processando o músico gaúcho. “Não estou processando ele, deve ter havido algum erro. Vou procurar me informar”, disse o deputado. Mais tarde, no Twitter, escreveu: “Não ingressei com ação contra Tonho Crocco. Como presidente (da Assembleia), ofereci representação ao MP para que, havendo ilicitude, tomasse providências”.

Na representação, Cherini afirmou que “eleito pelos deputados estaduais como representante do povo gaúcho”, expressava sua “insurgência contra a manifestação espúria de Antonio Crocco, que enseja o presente pedido de providências ao Ministério Público Estadual”.

“Estou atordoado em receber esta intimação. Eu não cito o deputado Cherini no meu som”, disse Crocco . Segundo ele, o atual presidente da Assembleia, Adão Villaverde (PT), telefonou para dizer que não se tratava de um processo da instituição.

“Meu verdadeiro temor é que se abra um precedente coibindo as manifestações políticas, principalmente aquelas que usam de vias pacíficas e da arte como forma de expressão”, escreveu o músico, em nota divulgada em seu site oficial. O advogado Marcelo Almeida, ainda prepara os argumentos da defesa, mas lembra que o principal é a liberdade de expressão. “Isto é um direito básico dos músicos, da imprensa e de qualquer cidadão”, afirma.

Então pra esse bando de sem-vergonhas , dando razão ao Tonho Croco, nós aqui do Boteco do Valente vamos mandar essa daqui,ó:

De tudo que é nego torto

Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada


O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada


Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato


É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato


E também vai amiúde
Co'os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir


Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir


 - Joga pedra na Geni!
- Joga pedra na Geni!
Ela é feita pra apanhar...
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!


Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim

Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim


A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia


Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo –- Mudei de idéia!

– Quando vi nesta cidade
– Tanto horror e iniquidade
– Resolvi tudo explodir...


– Mas posso evitar o drama,
Se aquela formosa dama,
Esta noite me servir!


Essa dama era Geni...

Mas não pode ser Geni!
Ela é feita pra apanhar...
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um..
Maldita Geni!


Mas de fato, logo ela
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro

O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro


Acontece que a donzela
– e isso era segredo dela –
Também tinha seus caprichos


E a deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos


Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão


O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão


- Vai com ele, vai, Geni!
Vai com ele, vai ,Geni!
Você pode nos salvar,
Você vai nos redimir!
Você dá pra qualquer um,
Bendita Geni!

Foram tantos os pedidos
Tão sinceros, tão sentidos
Que ela dominou seu asco


Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco


Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado


E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado


Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir


Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir


- Joga pedra na Geni!
Joga bosta na Geni!
Ela é feita pra apanhar...
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!

Geni e o Zepelim (Chico Buarque)

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